Empirismo, David Hume

lab-512503__340

O empirismo de David Hume (1711-1776), filósofo escocês, vai além do empirismo de Francis Bacon e John Locke, bem como assume uma linha crítica com relação a metafísica do século XVII.


Conforme a tradição empirista, Hume preconiza o método de investigação, que consiste na observação e na generalização dos fenômenos. Afirma que o conhecimento tem início com as percepções individuais, que podem ser impressões (contato imediato com os objetos) ou ideias (pensamentos). Segundo ele, todo nosso conhecimento tem sua origem na sensação que os objetos exteriores provocam em nós pela mediação do corpo. A diferença entre as ideias e as impressões seriam apenas no grau de força e vivacidade com que atingem a mente:

– as impressões são as percepções originárias que se apresentam à consciência com maior vivacidade, tais como as sensações (ex: experimentar a sensação do fogo queimar a pele no exato momento em que o fenômeno acontece; se assustar com uma barata que sai do bueiro);

– as ideias ou pensamentos são as percepções derivadas, cópias pálidas das impressões e, portanto, mais fracas (ex: lembrar da queimadura ocorrido em momento anterior; lembrar da sensação de susto ao ter visto a barata).  A ideias também podem ser complexas, quando pela imaginação as combinamos entre si por meio de associações (ex: imaginar uma barata pegando fogo saindo de um bueiro).

O sentir (impressão) distingue-se do pensar (ideia) apenas pelo grau de intensidade. Além de que a impressão é sempre anterior a ideia, que dela depende.

Valorizando o papel das impressões, Hume destaca que as experiências são fundamentais para o conhecimento, entretanto, as impressões também nos levam a construir noções que não correspondem, muitas vezes, com a realidade. Hume argumenta que uma conclusão indutiva (produzida pela análise de repetidos fenômenos semelhantes, como ter a certeza de que o sol nascerá amanhã porque ele nasceu todos os dias até hoje), por maior que seja o número de percepções de impressão do mesmo fato, não possui um fundamento lógico. Será sempre um salto de raciocínio impulsionado pela crença e pelo hábito, isto é, as repetidas percepções de um fato nos levam a confiar que aquilo que se repetiu até hoje irá se repetir amanhã (ex: afirmaremos que sol nascerá amanhã porque estamos habituados a vê-lo surgir todos os dias). No entanto as associações a partir da semelhança, da contiguidade (no espaço e no tempo) e da relação de causa e efeito, não podem ser observadas, pois não pertencem aos objetos – só os fenômenos são observáveis. As relações são apenas modos pelos quais passamos de um objeto a outro, de um termo a outro, de uma ideia particular a outra. O mecanismo íntimo do real não é passível de experiência, as relações são exteriores aos seus termos, ou seja, se não são observáveis, não podem pertencer aos objetos. As relações são simples passagens externas que nos permitem associar os termos.

Assim, Hume nega a validade universal do princípio de causalidade (causa e efeito) e da noção de necessidade a ela associada. Para o filósofo, o que observamos é a sucessão de fatos ou a sequência de eventos. O que nos faz ultrapassar o fenômeno e afirmar mais do que pode ser alcançado pela experiência, é o hábito criado, e não o nexo causal entre esses mesmos atos ou eventos. Dessa forma, considerando o processo mental que parte das percepções repetidas que nos chegam da experiência sensorial, não podemos nunca saltar para uma conclusão geral (ex: o sol nascerá todos os dias), ou seja, construir uma ideia ou pensamento, da qual não temos a experiência sensorial.

É a observação de casos semelhantes que nos faz imaginar que um fato atual se comportará de forma análoga no futuro. Logo, é a crença, que, do ponto de vista do entendimento, faz uma extensão ilegítima e cria um conceito.

 

1211 Visualizações 1 Total

References:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna 2009.

HILTON, Japiassú e MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1996.

HUME, David. Tratado da natureza humana. Trad.Débora Danowski, 2°ed. São Paulo: UNESP, 2009.

JERPHAGNON, Lucien. História das grandes Filosofias. Trad.: Luís Eduardo de Lima Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

1211 Visualizações

A Knoow é uma enciclopédia colaborativa e em permamente adaptação e melhoria. Se detetou alguma falha em algum dos nossos verbetes, pedimos que nos informe para o mail geral@knoow.net para que possamos verificar. Ajude-nos a melhorar.