O termo “empirismo” designa uma doutrina filosófica segundo a qual todo o conhecimento humano se baseia na experiência direta que os sentidos captam da realidade. Por norma, costuma contrapor-se ao racionalismo, doutrina que defende que o conhecimento, por sua vez, se funda na razão.
Embora o conceito tenha germinado na Grécia Antiga, mais especificamente nas ideias dos pré-socráticos e dos sofistas, ou associado ao estoicismo ou ao epicurismo, o empirismo só se viria a consolidar no século XVII com os filósofos do empirismo britânico, a saber, Francis Bacon (1561-1626), Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753) e David Hume (1711-1776).
Comum a todos os empiristas britânicos é a conceção do sujeito cognoscente enquanto uma tábua rasa na qual se inscrevem as impressões do mundo circundante. Por outras palavras, o sujeito cognoscente atua como um “recetáculo” no qual ingressam os dados do mundo exterior transmitidos pelos sentidos através da perceção da realidade. No entanto, se para Locke ou Berkeley esses dados são designados de “ideias”, para Hume são denominados como “sensações”. Quer sejam “ideias”, quer sejam “sensações”, ambas, para estes filósofos, constituem a base de todo o conhecimento.
Contudo, a aquisição de conhecimento não se reduz somente às ideias, ou às sensações per se. Segundo os empiristas britânicos, nomeadamente Locke, é importante que as ideias, ou as sensações, se “acumulem” no espírito, para que, deste modo, se possam associar a outras perceções. De facto, fora Locke quem diferenciara dois tipos de ideias: as “ideias simples” e as “ideias complexas”, ou seja, as ideias simples são aquelas que têm a sensação na sua origem e as ideias complexas aquelas que nascem da associação das ideias simples (por meio da reflexão, da meditação, da crença, ou da dúvida) e evitam que estas últimas sejam uma mera presença de perceções continuamente mutáveis. Formam-se, assim, os conceitos abstratos da substância material.
Já Berkeley, partindo da teoria de John Locke, mas receoso de que esta constituísse uma ameaça para a conceção cristã do mundo, inclui a hipótese de uma mente cósmica, universal e superior à mente dos homens e a teoria de que tudo aquilo que o sujeito cognoscente perceciona é efeito do poder de Deus. Neste sentido, segundo Berkeley, todas as ideias têm uma causa de natureza espiritual (e não material, como Locke defendia).
David Hume, por sua vez, que influenciou em larga escala o positivismo de Auguste Comte (1798-1857), ou o pensamento de Immanuel Kant (1724-1804), parte da teoria imaterialista de Berkeley e distingue dois tipos de conhecimento: aquele que é originado pela relação entre as ideias e aquele que é originado pela relação entre os factos, sendo que o primeiro assenta nas proposições cuja verdade pode ser conhecida pela simples análise lógica do significado das ideias que as compõem e o segundo nas proposições cuja verdade só pode ser conhecida mediante a experiência. Com base nesta distinção, Hume refuta a lei da causalidade, ou seja, a relação entre causa e efeito, pois este tipo de relação, mesmo que manifestada nas diversas áreas da ciência, depende de fatores psicológicos como o hábito e não tem, por isso, uma justificação racional.
References:
Locke, John. Ensaio sobre o entendimento humano. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014