A. J. Ayer

by Walter Bird, bromide print, 1965

A.J.Ayer, 1965.

Alfred Jules Ayer (29/10/1910 – 27/06/1989) foi um filósofo pertencente à “tradição analítica” britânica que se tornou imensamente famoso pelo seu ataque feroz à metafísica, nomeadamente numa das suas obras fundamentais, Truth and Logic.

 Esta crítica tem início na ordem do seguinte pensar: segundo os critérios que permitem verificar o significado de determinada asserção ou proposição, apenas as declarações analíticas ou sintéticas seriam relevantes para a filosofia, ao que se acrescenta que as declarações sintéticas apresentavam o potencial de serem compreendidas como sendo derradeiramente verificáveis na experiência percetual.

A intenção primordial do critério de verificação consistia na tentativa de desacreditar asserções ou proposições sem um referente empírico apreensível, o que, em sentido lato, constituía uma crítica geral a toda a tradição filosófica alemã idealista, sobretudo a tradição hegeliana.

Aceita-se que este critério permitiu a inúmeros filósofos a ruptura com o logicismo hegeliano, ainda que tal distanciamento se tenha materializado sem que os mesmos filósofos se tenham dado ao trabalho de ler Hegel. Por outro lado, tal decisão implicou o inconveniente de se passar a denominar como irrelevantes todas as declarações ou proposições empiricamente inverificáveis, tais como “cada evento tem uma causa” ou mesmo “para cada ação existe uma reação igual e oposta”. Mas Ayer propôs que tais declarações fossem investidas com um potencial heurístico na investigação científica, admitindo paralelamente a insignificância de tais declarações. Por conseguinte, em Language, Truth and Logic, este critério rigoroso e reducionista seria colocado de parte por Ayer, e a metafísica voltaria a ser admitida no cânone do discurso relevante.

 Dar este passo seminal não representou uma conversão de Ayer às profundas questões que a metafísica suscita, uma vez que este permaneceu cético até ao resto da sua vida quando confrontava as pretensões metafísicas relacionadas com a possibilidade de uma realidade supressensível. Mas tal ceticismo não representou nenhuma barreira para o trabalho intenso de investigação metafísica desenvolvido por Ayer em trabalhos posteriores a Language, Truth and Logic.

Apesar da motivação para a sua filosofia ser eminentemente de índole epistemológica, isto é, concernente às asserções relativas ao conhecimento, inúmeras conclusões de Ayer revelaram-se metafísicas, posto que faziam referência ao que existiria realmente. Aliás, durante grande parte da sua carreira como filósofo, concentrou-se particularmente no tópico da natureza dos objetos físicos, pelo que houve uma transição interessante no trabalho de Ayer desde o fenomenalismo rumo ao realismo.

 Nesta linha de transição, deparamo-nos com a crítica de Ayer ao realismo ingénuo, a negação de que os objetos, aparecendo como aparecem, garantem o verdadeiro conhecimento, dada a sua persistência em acreditar que havia uma inferência envolvida em qualquer transição da aparência ao objeto, e sustentando essa hipótese com a tese de que há sempre algo mais envolvido nas asserções relativas a objetos, visto que a percepção humana é limitada quanto ao que pode percepcionar.

 Qual será então a relação entre os objetos e a percepção humana? Ayer rejeitou o fenomenalismo justificando-se que os objetos percepcionados que são presentes à totalidade dos observadores são escassos, pelo que esse impedimento constrange as respostas que podemos obter quanto às nossas concepções do mundo físico. Rejeitou igualmente a teoria causal da percepção, em grande medida porque a teoria tornaria as causas das nossas percepções como que ocupantes inobserváveis de um espaço inobservável. Assim, para contrariar tal dificuldade, Ayer propôs que o sujeito que experiencia é inicialmente presenteado com uma grande densidade de dados sensíveis; depois apercebe-se que esses dados apresentam certos padrões, que tendem a ser combinados previsivelmente. A certo ponto, estas combinações são encaradas como possuindo uma existência deveras independente da percepção.

Deste modo, o nosso entendimento comum do mundo é visto como uma teoria relativa à nossa percepção: mas é uma teoria, que se for aceite, desvaloriza ontologicamente as percepções nas quais foi baseada. Isto, porque não pode ser dito que tudo o que é construído a partir dos dados sensíveis é claro.

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References:

Foster, J. (1985), Ayer, London, Routledge and Kegan Paul.

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