«A percepção do espaço não implica apenas o que pode ser percebido, mas igualmente o que pode ser eliminado. Segundo as culturas os indivíduos aprendem desde a infância, e sem o saberem, a eliminar ou a conservar com atenção tipos de informação muito diferentes. Uma vez adquiridos, estes modelos perceptivos parecem tornar-se fixos para toda a vida.»
(T.Hall, Edward, 1986: 59)
O modo como homem concebe o espaço é, nas palavras de Edward T. Hall, análogo ao que a linguagem desvela. Esta ideia subsume-se no termo proxémia, neologismo que designa o «conjunto de observações e teorias referentes ao uso que o homem faz do espaço enquanto produto cultural específico.» (T. Hall, Edward, 1986: 11)
A experiência humana não é um ponto de partida neutro quando em causa está a resposta de dois homens a um mesmo evento: de facto, as respostas do sistema nervoso de ambos revelarão antíteses, ou seja, modos de ver o mundo completamente diferentes. É por isso que também o espaço, como inelutável elemento da dimensão cultural do Homem, é uma janela para compreensão deste, pois os estilos arquitecturais e urbanos criados por este delimitam a singularidade das culturas em que se insere. Ora, se a relação do homem com o seu «biótopo» (totalidade do mundo em que vive) evidencia uma complexa rede de interações com o seu ambiente, é clarividente que a renovação urbana ou a integração das minorias culturais não possa ser uma problemática meramente material.
Por conseguinte, nas palavras de T.Hall é de suma importância compreender de que modo é que a cultura traduz a diversidade espacial que organiza os sistemas de recepção do homem, que são dois: os receptores à distância (espaço visual e olfactivo); receptores imediatos (tacto). A partir deste tropo o autor formula três níveis proxémicos: o primeiro, infracultural, que está enraizado no passado biológico do ser humano; o segundo, pré-cultural, que é fisiológico e pertence ao tempo presente; o terceiro, micro-cultural, nível onde se observam as expressões proxémicas culturais.
É neste terceiro plano que se encontram quatro variedades de distâncias (íntima, pessoal, social e pública), sendo que cada uma incorpora dois modos: modo próximo e modo afastado. Eis a sua síntese:
Distância | Modo Próximo | Modo Afastado |
Íntima | Acto Sexual, Luta, Proteção | Cabeça, coxas e bacias não entram facilmente em contacto, mas as mãos podem juntar-se. |
Pessoal | Relevo dos objectos é pronunciado. | Limite do alcance físico em relação a outrem |
Social | A esta distância, o olhar é um instrumento de dominação | Adopta-se esta distãncia em relações profissionais |
Pública | A esta distância um indivíduo facilmente entre em posição de defesa ou entra em fuga | Distância que se associa automaticamente a personalidades importantes |
- Proxémia Comparada das Culturas Japonesa e Árabe (cf. T.Hall, 1986: 169-185)
As diferentes categorias de distâncias conhecem variação cultural? Sim. Por exemplo, os japoneses não se importam de dormir no chão perto uns dos outros, o que de acordo com o «estilo americano de vida» só se consolida se houver efetivamente intimidade entre duas pessoas ou um grupo pequeno, como uma família tradicional. Outro modo em que o espaço cultural contrasta prende-se com os jardins zen japoneses, que proporcionam uma multiplicidade de pontos de vista, ao passo que uma pintura do Renascimento tece o seu enredo em torno de um único ponto de fuga. Já na cultura árabe, é normal o empurro e a cotovelada em público, ou apalpar mulheres nos transportes públicos. No entanto, estes comportamentos seriam repudiados por um americano. O que está em causa neste exemplo é que estes gestos são o resultado de uma concepção totalmente diferente das relações entre indivíduos, e da experiência pessoal do corpo; por outras palavras, os árabes não têm ideia da existência de uma zona pessoal privada no exterior do seu corpo.
References:
T.Hall, Edward (1986), A Dimensão Oculta, Lisboa, Relógio d’Água