A expressão japonesa Hikikomori é utilizada para definir as pessoas que escolhem fechar-se do resto do mundo vivendo somente dentro da sua casa ou quarto. Este é um dos problemas sociais do Japão com praticamente um milhão de pessoas a viver nesta condição. Na sua maioria são homens entre os 15 e os 34 anos de idade que deixaram de frequentar a escola muito cedo, não têm perspectivas de carreira e vivem somente com o sustento dos pais ou familiares próximos. Este isolamento social tem sido alvo de vários estudos e estratégias para retirar estas pessoas do isolamento.
Algumas pessoas ficam fechadas durante vários anos.
Esta expressão não é utilizada para definir uma patologia, mas antes um problema social. O Japão tem alguns tabus sociais em relação às doenças mentais, mas presume-se que o isolamento dos indivíduos tenha na sua origem algum tipo de depressão ou trauma emocional. Devido a uma certa crença da sociedade japonesa de que os indivíduos devem suportar e superar as suas dificuldades sozinhos, muitos dos casos de Hikikomori não são sequer reportados pelos pais de jovens que começam a dar sinais de isolamento.
Os números oficiais apontam para entre 200 mil e 500 mil casos de Hikikomori, mas os estudos dos profissionais apontam para não menos de 700 mil casos e alguns pesquisadores apontam para mais de 2 milhões. No entanto os estudos oficiais são escassos, assim não é claro se parte dos adolescentes que vivem nesta condição sofrem de algum tipo de problema psicológico como síndrome de Asperger, esquizofrenia, depressão ou outra doença.
O que normalmente causa este tipo de comportamento é derivado da pressão cultural que os japoneses colocam sobre os jovens para que tenham um rendimento escolar exemplar. Um jovem que sofra algum tipo de bullying, ou falhe em conseguir boas notas nos exames, principalmente nos primeiros anos da adolescência pode decidir fechar-se no quarto. Este isolamento pode aparentemente começar por ser de apenas alguns meses, saindo somente para fazer compras, mas boa parte dos casos duram vários anos, com pessoas a ficar fechadas por mais de 10 anos. Em alguns casos os pais deixam a comida à porta dos filhos porque estes nem se juntam à família na hora das refeições.
Nasce então o estereótipo de alguém que vive a navegar na internet, a jogar videojogos, a ver filmes e séries ou a ler banda desenhada. Nos casos menos graves alguns dias ou semanas podem ser suficientes para a pessoa voltar a sair, mas nos mais graves a intervenção externa é muitas vezes fulcral e por isso mesmo foram criadas várias associações não governamentais que actuam junto destes jovens.
As causas sociais
O processo de isolamento é lento, começando por pequenos episódios ou períodos de tempo. “Sekentei” é a expressão japonesa para a reputação que alguém tem dentro de uma comunidade e essa pressão constante de estar bem e impressionar os demais faz parte da construção social dentro da sociedade japonesa. Embora a maioria dos japoneses consiga gerir esta pressão em diferentes graus de aceitação, uma parte dessas pessoas não consegue. Com o insucesso tendem e procurar o isolamento e consequentemente agravar a sua situação. Outro termo associado a esta situação é “Amae”. Um conceito japonês de ser tratado com carinho por algum familiar. Alguns Hikikomori acabam por ter comportamentos infantis e agir com a mesma indiferença de uma criança, esperando que os pais os sustentem até ao fim das suas vidas. Isto faz com que muitos pais não reajam e deixem a situação prolongar-se, chegando mesmo a esconder o problema de amigos e familiares.
Com a crise económica no Japão devido à longevidade e baixa natalidade, o facto de muitas destas pessoas não contribuírem para a economia do país agrava o problema da segurança social e torna cada vez mais precária a aposentadoria dos idosos japoneses. Devido a ser um problema contemporâneo não se sabe ainda qual a extensão da gravidade deste tipo de auto-exclusão social.