Nos cânones da antropologia, a etnografia deriva o seu significado de um duplo pressuposto: em primeiro lugar, é vista como um produto do trabalho de campo; em segundo lugar, é o decorrer do próprio processo, isto é, a participação observante. É um produto porque resulta do esforço do antropólogo compreender e dar a conhecer a cultura de um certo tempo ou determinado lugar. É um processo porque regra geral, é a tentativa do antropólogo confirmar na prática (ou não), a teoria postulada por ele ou por outro, antes de ir para o terreno.
Atendendo aos seus dois sentidos, devemos inserir a etnografia num conjunto relacional que inclui a comparação e a contextualização, uma vez que deste encadeamento resulta o seu poder explicativo, a partir do qual são colocados novos problemas e se sugerem diferentes interpretações. Ressalve-se que este método não é literatura de viagem nem um inquérito, sendo que a estas duas fontes de informação pode recorrer o antropólogo na elaboração da etnografia, assim como a documentos demográficos, históricos ou económicos, para possibilitar a elucidação de um cenário o mais possivelmente minucioso na monografia final.
Ora, uma etnografia, de modo a ser o mais possivelmente rigorosa, requer que o antropólogo compreenda o ponto de vista nativo, mérito “atribuído” ao carismático Malinowski, significando isto que irá não só viver na sociedade x, mas também aprender a linguagem, o vocabulário e as convenções verbais da sociedade que escolheu estudar, e posteriormente traduzir todo esse manancial de dados para a língua de chegada que é a sua.
References:
- Barnard, Alan e Jonathan Spencer (2002), Encyclopedia of Social and Cultural Anthropology, London, Routledge.