Doença do Bico e Penas dos Psitacídeos

Apresentação da Doença do Bico e Penas dos Psitacídeos

A doença do bico e das penas é uma das mais comuns e importantes doenças infecciosas dos psitacídeos. O agente etiológico é um circovírus, o PBFDV (do inglês Psittacine Beak and Feathers Disease Virus), um vírus DNA do género Circovirus e da família Circoviridae.

Esta doença foi descrita pela primeira vez em psitacídeos australianos na década de 70, mas crê-se que tenha surgido antes, pois existem relatos de sinais clínicos compatíveis em aves do género Psephotus no sul da Austrália entre 1887 e 1888 (Pass & Perry, 1984; Raidal, McElnea & Cross, 1993). Inicialmente pensava-se que afetava apenas psitacídeos do Velho Mundo (África, Australásia e Pacífico), mas hoje sabe-se que também os psitacídeos do Novo Mundo (Continente Americano) são afetados (Bert, Tomassone, Peccati, Navarrete & Sola, 2005; Ritchie et al., 1990) , tendo atualmente distribuição mundial (Bert et al., 2005; Hsu, Ko & Tsai, 2006; Rahaus & Wolff, 2003) (Lierz, 2005).

A doença foi confirmada em mais de 60 espécies de psitacídeos (Khalesi, Bonne, Stewart, Sharp & Raidal, 2005; Todd, 2004) e atinge animais de todas as idades, ainda que os animais mais jovens  pareçam ser mais suscetíveis. Animais mais velhos podem ter um longo período de incubação, apresentando sinais clínicos anos após a exposição.  Alguns autores referem que aves adultas e imunocompetentes conseguem erradicar o vírus do organismo (Lierz, 2005).

A transmissão faz-se pela ingestão/inalação de partículas virais presentes no pó das penas, fezes e secreções do papo. As partículas virais podem também ser transmitidas através de fomites (roupas e outros objetos) e a transmissão vertical também foi demonstrada (Rahaus et al., 2008). Aves com infeção latente excretam o vírus para o ambiente e as partículas virais são resistentes à maioria dos desinfetantes, permanecendo viáveis por um longo período de tempo. Dois desinfetantes aconselhados são o Virkon® S (mais seguro para humanos e aves) e o glutaraldeído, cuja eficácia contra vírus semelhantes foi comprovada (Australian Government, Department of the Environment and Heritage, 2006).

Os principais sinais clínicos são as lesões nas penas (deformação, queda prematura) e o aparecimento de penas de cor diferente, ocorrendo também lesões no bico e garras. Esta doença provoca um quadro de imunossupressão, predispondo a infeções secundárias eventualmente fatais. Para além das lesões descritas, algumas aves podem apresentar também fraqueza, depressão, pancitopénia, diarreia, estase do papo e anorexia (Harris & Oglesbee, 2006). É também comum a morte súbita em neonatos sem manifestações clínicas (Lierz, 2005).

O diagnóstico definitivo é feito em laboratório com a deteção de partículas virais presentes no sangue e penas afetadas, através de um teste de PCR. Testes com resultados positivos sem a presença de sinais clínicos devem ser repetidos.  Se o segundo teste for positivo, ainda sem a presença de sinais clínicos, estaremos na presença de uma infeção latente; caso seja negativo, podemos ter um caso de um anterior falso positivo ou de uma eficaz resposta imunitária com eliminação do vírus (Ritchie et al., 2003).

Não existe nenhum tratamento específico capaz de eliminar o circovírus. A terapia é de suporte e inclui uma boa nutrição, o fortalecimento do sistema imunitário (com probióticos e vitamina A) e o tratamento de infeções secundárias com antibióticos (Lierz, 2005; Harris & Oglesbee, 2006).

Um tratamento experimental e dispendioso com um interferão gamma aviário foi testado num estudo de 2004 (Stanford, 2004). Sete dos 10 Papagaios cinzentos tratados com uma injeção intramuscular diária de 1 milhão de unidades de interferão durante 90 dias apresentaram regeneração da medula óssea e resultado negativo nos testes de PCR (Stanford, 2004). Num outro estudo de 2007, uma substância extraída de cogumelos, o beta-(1,3/1,6)-Dglucano, com aparentes propriedades imunomodeladoras, foi administrado a 8 periquitos Eunymphicus cornutus e 4 Catatuas de Mitchell (Cacatua leadbeteri) (Tomasek & Tukac, 2007). Quatro dos 6 periquitos e todas as catatuas apresentaram resultados negativos nos testes de PCR 7 a 9 meses após o início do tratamento (Tomasek & Tukac, 2007).

Esta doença é sempre fatal, ainda que a morte possa ocorrer anos após a infeção e o inicio dos sinais clínicos. A eutanásia pode ser indicada na presença de lesões dolorosas do bico e garras (Lierz, 2005).

Não existe vacina para esta doença, mas estudos de 1992 e 2009 mostraram resultados promissores no que diz respeito ao seu desenvolvimento (Ritchie et al., 1992; Bonne, Shearer, Sharp, Clark & Raidal, 2009). De modo a prevenir o contágio, as aves com resultados positivos e aves com lesões nas penas devem ser isoladas. Novas aquisições devem também ser testadas e mantidas em isolamento até a obtenção de um diagnóstico definitivo. Os cuidados de higiene são essenciais, uma vez que as fezes e o pó das penas podem contaminar aves saudáveis e os desinfetantes apropriados devem ser utilizados.

Referências Bibliográficas:

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