Otite Média Aguda

Definição

A otite média aguda é uma infeção aguda da mucosa do ouvido médio, com presença de sinais inflamatórios. Esta pode estender-se a espaços aéreos do osso temporal, dada a continuidade anatómica, podendo conduzir a graves complicações se não tratada adequadamente. É uma doença especialmente prevalente na idade pediátrica.

Prevalência

Trata-se de uma patologia especialmente prevalente na idade pediátrica, devido a variados fatores, nomeadamente a maior horizontalidade da trompa de Eustáquio, a menor maturação do sistema imunitário, ou ainda a morfologia hipertrofiada das adenóides, característica destas idades, não persistindo na idade adulta.

 

Etiologia

A otite média aguda é habitualmente originada por infecções virais e/ou bacterianas das vias aéreas superiores que progridem para o ouvido médio. Contudo, pode também ter origem no ouvido interno ou externo que, pela mesma razão das anteriores, podem originar esta doença.

Os agentes etiológicos virais mais frequentes são o vírus sincicial respiratório, o rinovírus, o coronavírus, o vírus parainfluenza e influenza, e, adenovírus.

Em termos de agentes bacterianos destacam-se o S. pneumoniae (25-50%), H. influenzae (15-30%;) e M. catarrhalis (3-20%;), sendo também os mais comuns nas adenoidites, justificando-se pela relação etiológica de ambas as patologias.

Fatores de risco

Entre os principais factores de risco da otite média aguda, numa criança previamente saudável, sem imunodepressão, distinguem-se a idade, com um pico de incidência entre os 6 e 18 meses, sexo masculino, fatores genéticos, otites prévias, estações do ano, sobretudo o inverno, ausência de aleitamento materno, uso de chupeta, fumo de tabaco e a não vacinação de pneumococitos. De facto, a generalização da vacina conjugada antipneumocócica contribuiu para uma redução significativa da incidência de otite média aguda por S. pneumoniae e, consequentemente, veio alterar o padrão de serótipos responsáveis pela mesma, sendo os agentes mais frequentes atualmente, os não vacinais.

Manifestações Clínicas

As manifestações clínicas da otite média aguda podem variar desde um padrão praticamente assintomático, até uma simples otorreia, ou mesmo uma otalgia severa. Há, muitas vezes, presença de febre e, menos assiduamente, alterações de sono, de equilíbrio, de audição e, ainda, diarreia.

 


Diagnóstico

O diagnóstico é feito especialmente com base na história clínica e otoscopia.

Numa otite média aguda, os achados esperados numa otoscopia são a inflamação da membrana timpânica, com presença de abaulamento e de efusão purulenta do ouvido médio e, por vezes, de eritema intenso.

O principal diagnóstico diferencial da otite média aguda é relativamente à otite serosa, sendo que ambas apresentam efusão. Estas patologias distinguem-se essencialmente pelos achados de abaulamento e sinais inflamatórios da membrana timpânica, acompanhados por otalgia, característicos da otite média aguda.

Tratamento

A estratégia terapêutica para a otite média aguda engloba tratamento para a dor, com analgésicos ou anti-inflamatório, antibioterapia, descongestionantes nasais (ou soro nasal) e anti-histamínicos.

Existe contudo alguma controvérsia quanto à intervenção imediata versus atitude expectante desejável para introdução de antibioterapia no esquema terapêutico do doente. Isto porque, embora seja um tratamento claramente indicado em alguns grupos de doentes com otite média aguda, a resolução espontânea ocorre na maioria dos casos, levando a que se questione a utilização indiscriminada dos antibióticos, com risco de resistências e de iatrogenia. Alguns estudos que foram surgindo neste âmbito.

Entre eles, o Cochrane, no qual foram comparadas duas estratégias terapêuticas em crianças com o diagnóstico de otite média aguda, em 12 ensaios: antibioterapia versus placebo e antibioterapia imediata versus atitude de vigilância. O mesmo estudo concluiu que a maioria dos episódios de otite média aguda remite espontaneamente. Por outro lado, a antibioterapia está associada a uma ligeira redução no número de crianças com otalgia do 2º ao 7º dia de doença, no número de perfurações timpânicas e de otite média aguda contralateral, sendo estas crianças as que mais beneficiam com este tratamento. Para as restantes tal não se justifica, devendo considerar-se um período inicial de vigilância, de 48 a 72 horas, com tratamento sintomático apenas. Em caso de deterioração do estado clínico ou ausência de melhoria, deve então instituir-se antibioterapia.

É também segundo esta linha que se regem as atuais normas da Direção-Geral da Saúde, recomendado que se deve manter uma atitude expectante em crianças com idade igual ou superior a seis meses e sem quadro clínico grave, com reavaliação médica entre 48-72 horas, sempre que se verifique a persistência ou agravamento dos sintomas.

Em casos particulares, está preconizado o tratamento imediato com antibiótico, sendo estes: todos os lactentes com idade inferior a 6 meses; crianças com idade igual ou superior a 6 meses, que apresentem otites médias agudas com quadro clínico grave, otite bilateral em criança com idade inferior a 2 anos, otorreia, otite recorrente, ou persistência/agravamento dos sintomas às 48-72 horas.

A antibioterapia de primeira linha é a amoxicilina, dado que mesmo que não seja a etiologia viral, muitas vezes surge uma sobreinfecção bacteriana. Na segunda linha de tratamento estão: amoxicilina e ácido clavulânico, cefuroxima-axetil, ou ceftriaxona no caso de falência das opções prévias.

O tratamento deve ser mais agressivo caso a otite média aguda evolua com complicações, podendo implicar cirurgia, como na otomastoidite.

Há ainda que salientar a necessidade para tratamento de situações de base, nomeadamente alergias, adenoidites crónicas, ou otite média serosa, frequentemente necessário, obrigando a intervenções cirúrgicas em otorrinolaringologia, quando os episódios de agudização são recorrentes (≥ 3-4 episódios /ano).

Complicações

Entre as possíveis complicações de uma otite média aguda contam-se mastoidites com formação de abcesso ou complicações intracranianas.

É ainda possível perda de acuidade auditiva, vertigens ou fraqueza facial.

As complicações da otite média aguda são já raras, devido ao aumento de cuidados de saúde nos países ditos desenvolvidos, que têm permitido um diagnóstico precoce, aliado a tratamento adequado desta doença. Contudo é ainda uma realidade muito presente em regiões mais pobres do globo.

Bibliografia

[1] Antibioterapia – Otite Média Aguda. (2014). Retirado de Bial: https://www.bial.com/pt/a_sua_saude.10/areas_terapeuticas_bial.13/antibioterapia_bial.46/otite_media_aguda.a117.html

[2] Block, S. H. (2005). Diagnosis and Management of Acute Otitis Media (3ª ed.). Professional Communications.

[3] George, F. (2014). Diagnóstico e Tratamento da Otite Média Aguda na Idade Pediátrica. Direção-Geral de Saúde.

[4] Pinto, S. C. (2013, Nov-Dez). Análise da Revisão Cochrane: Antibioterapia na Otite Média Aguda da Criança. Cochrane Database Syst Rev. 2013;1:CD000219. Revista Científica da Ordem dos Médicos, 26(6), pp. 633-36.

 

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