Apoio Matricial em Saúde

Apresentação do conceito de Apoio Matricial em Saúde: O recurso do Apoio Matricial no campo da Saúde brasileira tem sido estudado e aplicado desde o final dos anos 90. Com base em…

O recurso do Apoio Matricial no campo da Saúde brasileira tem sido estudado e aplicado desde o final dos anos 90. Com base em conceitos históricos, técnicos, culturais, políticos e do cotidiano vivenciado por profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS); ele nasce como um arranjo organizacional a partir do Método Paideia e da Clínica Ampliada.

O termo Paideia tem origem grega (Grécia clássica), fundamentado na Saúde Coletiva e seu significado está relacionado ao desenvolvimento integral do ser humano. Ou seja, aborda cada indivíduo em sua singularidade, através do esclarecimento e compartilhamento das informações, da implicação do mesmo com sua própria saúde e com o tratamento proposto pela equipe assistencial, denominado Projeto Terapêutico Singular (PTS), que busca a ampliação da autonomia em todos os âmbitos de sua vida. Considera-se, a capacidade da pessoa de compreensão e de decisão acerca de todos os contextos envolvidos (ambiente, afeto, trabalho, instituições…) e que buscam novos padrões de relações sociais e interpessoais.

Tais fatores se aplicam, tanto aos sujeitos que adoecem, como aos profissionais que nos equipamentos de saúde trabalham ou que possuem de alguma forma, uma ligação direta ou indireta com o sujeito em questão. Devemos considerar, com ênfase, que o Método Paideia instiga o sujeito à prática constante de construção e reconstrução do processo de autoanálise, promovendo a cogestão em todos os meios que se relacionam, em um movimento dialético. Este método foi implementado no ano de 2001, nomeado Projeto Paideia de Saúde da Família (Gastão, 2013), mais especificamente na cidade de Campinas – São Paulo, que com o decorrer dos anos, tornou-se referência para uma variedade de municípios do país. Para que haja, de fato, a execução deste método, anterior a qualquer outra questão, é necessário desejo, disponibilidade interna e implicação por parte de todos os indivíduos (profissionais das equipes, usuários, etc.) e organizações envolvidos.

A Clínica Ampliada e Compartilhada é embasada em conceitos e arranjos organizacionais envolvidos no processo de saúde-doença-intervenção, sendo eles: reavaliação e ampliação do trabalho em saúde; construção do Projeto Terapêutico Singular (PTS), no qual está implícito a cogestão do mesmo e o apoio terapêutico necessário; denominação do profissional e Equipe de Referência; valorização da interdisciplinaridade; reconhecimento da subjetividade presente entre os usuários e os profissionais de saúde (como mecanismos de empatia, vínculo e transferência) e discernimento da dimensão institucional e de organizações, as quais são gerenciadas a partir de diretrizes e objetivos traçados à luz da legislação que rege o Sistema Único de Saúde brasileiro (8.080/90), priorizando a boa comunicação entre todos.

Como o Método Paideia, a Clínica Ampliada e Compartilhada é o outro ponto fundamental para a construção do Apoio Matricial. O profissional da saúde, ao optar por tal área de trabalho, entra em contato desde a sua formação até em seu cotidiano laboral, independentemente da sua matriz disciplinar, com questões individuais e coletivas como o desejo, a escolha em cuidar da saúde do outro e ser cuidado, inquietações, angústias; entre outros afetos e conhecimentos que, de alguma forma, o movem para seus aprimoramentos profissional e pessoal. Consequentemente, desde o início do percurso em qualquer área da saúde, nos deparamos com a compreensão do processo saúde-doença.

Nesse sentido, há interpretações distintas, um recorte para cada situação vivenciada em cada um dos casos que nos desafiam no cuidado diário em saúde. Portanto, em diferentes momentos da vida de um sujeito percebemos, menos ou mais, um determinado aspecto: ora enfatizamos a patologia orgânica, ora para conflitos sociais, econômicos, culturais, etc. Assim, para buscarmos o entendimento do processo saúde-doença é importante que reconheçamos que a clínica nos apresenta períodos de complexidade, que tal complexidade nos leva ao reconhecimento da necessidade de compartilhamento de diagnósticos, de terapêuticas e recursos disponíveis, de contribuições e de propostas na elaboração de um plano de tratamento, ou seja, de um PTS. Estes aspectos são direcionados às equipes de saúde, aos equipamentos intersetoriais, aos serviços de saúde e, obviamente, aos usuários. Em suma, as ações compartilhadas em saúde são extremamente mais bem-sucedidas e resolutivas em relação àquelas das quais enfatizam as abordagens individuais e pontuais.

Esse é o pilar da Clínica Ampliada e Compartilhada, a qual é composta por um objeto de trabalho. Tal “objeto” é constituído por um indivíduo ou por um grupo de indivíduos, tornando-nos assim, na ocasião, profissionais de saúde que são responsáveis por vidas; seja qual for a sua especialidade e sejam quais limitações nos provoque. A conscientização dessa responsabilidade, quando colocada em prática por cada profissional, sem desconsiderar o seu núcleo de conhecimento técnico, nos permite transformar os meios e os recursos disponíveis para o processo de trabalho, além de oferecer o suporte necessário aos que o executam.

Somando-se, portanto, os fundamentos e conceitos supracitados, o Apoio Matricial é definido como “um recurso, um método de suporte técnico-pedagógico em que a equipe de saúde recebe um ‘apoio educativo’ que se dá através do fazer em conjunto, realizando ações e intervenções concretas, como por exemplo, consultas, grupos, visitas domiciliares” (Gastão, 2013). O Apoio Matricial (ou “Matriciamento”, como nomeado por vários profissionais e serviços de saúde), acontece através do encontro das Equipes de Referência com os denominados Apoiadores Matriciais. Estes são os profissionais que ofertam variadas e pertinentes contribuições com o objetivo de estimular o aumento da capacidade resolutiva da equipe “matriciada”; capacitando-as para a assistência na lógica da ampliação da clínica, que inclui o sujeito em sua singularidade como parte ativa nas ações e intervenções de seu tratamento; atuam ainda como mediadores de conflitos e, diretamente nesses encontros, tais procedimentos são possíveis através das discussões, avaliações e reavaliações de casos clínicos e de projetos terapêuticos singulares. Os apoiadores matriciais, além dessas ações, são capacitados também para indicar intervenções diretas com o paciente; digo, dar sugestões de ações para um determinado caso em questão ou uma situação específica, indicando se há a necessidade de uma atenção especializada ou não e como se realizariam os encaminhamentos, permeando as discussões dos casos com base em critérios de avaliação de risco, de gravidade ou de indicação para acompanhamento em algum serviço intersetorial, como por exemplo, um serviço da Assistência Social.

Por fim, o recurso do Apoio Matricial surge como um fator aplicado às práticas de saúde que vem para somar e aprimorar os já existentes. Além de qualificar tecnicamente os profissionais que atuam no cuidado humano e os serviços prestados por estes nos equipamentos de saúde. O cuidado em saúde; o estar disponível para escutar o sofrimento do outro; os entraves vividos nos contextos atuais do processo de trabalho sejam eles políticos, econômicos, sociais e culturais; em vários momentos de nossa prática profissional, são questões que nos trazem oportunidades para autoanálises, no sentido de repensarmos nossas práticas diárias, uma vez que há uma linha tênue entre saúde e adoecimento, tanto dos usuários como dos próprios profissionais, os quais têm a responsabilidade e o compromisso de tratar; uma vez que estamos dizendo de pessoas cuidando de pessoas. É a oportunidade de um trajeto árduo, que nos demanda inúmeras vezes uma doação interna intensa e por outras, alguns enfrentamentos de conflitos que devem ser de forma madura; respeitando as diferenças, os diversos saberes e opiniões sem nos deixar agir pelo “poder”, bem como ampliar o olhar para o indivíduo em sua totalidade. Mas, ao coletarmos os resultados, com os apontamentos analíticos e construtivos do que foi positivo e negativo no processo íntegro, é possível elaborarmos o quanto foi válido e gratificante para todas as partes atuantes e que, de fato, nos estimula a continuar.

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References:

  • BRASIL, Ministério da Saúde. Lei 8.080/90: Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Congresso Nacional, 1990.
  • CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa. Saúde Paidéia. São Paulo: Hucitec Editora, 2013.
  • CAMPOS, G.W.S; CUNHA, G.T. & FIGUEIREDO, M.D. PRÁXIS E FORMAÇÃO PAIDEIA – apoio e cogestão em saúde. São Paulo: Hucitec Editora, 2013.
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