O que é o Sistema Turístico
Tal como qualquer outro sistema, entende-se por Sistema Turístico todo o conjunto de elementos que inter-relacionados, coordenados de forma unificada e organizada contribuem para alcançar determinados objetivos. Estes sistemas podem ser abertos ou fechados: são sistemas fechados os que não revelam nenhuma acção do exterior, enquanto os sistemas abertos são aqueles que são influenciados pelo mundo exterior implicando, pelo menos, um acto proveniente do exterior que assegura a sua manutenção.
No que respeita especificamente ao turismo, este apresenta-se como um sistema, ou seja, como um conjunto de elementos que estabelecem conexões interdependentes entre si de carácter funcional e espacial como por exemplo as zonas de proveniência dos visitantes, as suas zonas de destino e todas as actividades que produzem os bens e serviços turísticos. Este conjunto é assim, constituído por agregados e subsistemas que se decompõem em vários elementos interdependentes e que formam estruturas internas. Assim, analisar o setor do turismo passa por conhecer e compreender:
- As necessidades e expectativas dos turistas, quaisquer que sejam a sua proveniência geográfica, nível cultural e socioeconómico, idade, etc.;
- O território, nomeadamente a forma como as atividades do turismo nele se integram e o uso que fazem do espaço;
- A forma de intervenção dos poderes públicos enquanto agentes reguladores da atividade e enquanto agentes interventores no espaço, nas infraestruturas, na cultura, na formação, etc.;
- As estratégias dos atores privados enquanto utilizadores dos recursos, potenciadores de novas atividades e como parte integrante do desenvolvimento e inovação.
Elementos do Sistema Turístico
Ao tentar construir de uma forma prática o sistema turístico e representar nele os seus vários elementos e as inter-relações existentes, torna-se desde logo evidente a existência de três grandes grupos de elementos: a procura, a oferta e a envolvente (envolvente abrangendo o ambiente físico, económico, político, social, etc). Apresentamos de seguida cada um destes três grupos de elementos.
A Procura
A procura surge naturalmente como o elemento essencial do sistema. Sem o turista não faz sentido pensar um sistema turístico – é em torno das necessidades, expectativas e comportamentos do turista que se deve configurar todo o sistema. De facto, o surgimento de novos produtos como o turismo cultural, o turismo de bem-estar ou o turismo de negócios mais não é do que ajustar a oferta a diferentes segmentos de mercado que surgem do lado da procura: (i) perceber a sua evolução no sentido de uma crescente exigência em usufruir de serviços de qualidade; (ii) responder adequadamente à alteração dos períodos de férias para tempos mais curtos e repartidos ao longo do ano; (iii) oferecer diversidade e complementaridade de serviços; (iv) pensar não apenas no turista externo mas também no turista interno, também ele cada vez mais sofisticado e exigente;…
A Oferta
A oferta, segundo elemento do sistema, inclui todo o conjunto de atividades, produtos e serviços que materializam o próprio turismo. É no lado da oferta que se enquadram as decisões estratégicas privadas que condicionam e em larga medida determinam os caminhos seguidos pelo sector. Um dos aspetos mais complexos da análise da oferta é a própria delimitação das atividades que a compõem. De facto, este exercício de delimitação do sector envolve sempre algum grau de subjetividade. Assim, optámos por incluir na oferta o conjunto de atividades cuja atuação é determinante para o funcionamento do próprio sistema. Nesse sentido, a oferta deverá incluir atividades que vão desde tipos de alojamento diferenciados da hotelaria tradicional, passando por novas vertentes da restauração até ao forte dinamismo das atividades de animação e à oferta ligada a conceitos de saúde e bem-estar:
- Restauração e bebidas: inclui restaurantes, cafés, pastelarias e serviços de catering;
- Alojamento: inclui hotelaria, alojamento local, campismo e caravanismo, turismo em espaço rural, termalismo (enquanto complexo termal), aldeamentos turísticos, etc.;
- Transportes: inclui, além dos diversos meios de transporte, também o transporte turístico, o rent-a-car, etc.;
- Distribuição: inclui as agências de viagens e turismo e as plataformas virtuais de informação e de comercialização;
- Animação turística: inclui atividades de animação cultural (teatro, música, salas de espetáculos, museus, etc.), desportiva (golfe, desportos radicais, caminhadas e passeios, caça, pesca, hipismo, marinas, eventos desportivos), ambiental (parques e reservas naturais, rotas e itinerários, etc.), de entretenimento e lazer.
A Envolvente
A envolvente, terceiro e último elemento do sistema, é o seu verdadeiro enquadrador. De facto, uma atividade como o Turismo, intimamente ligada ao espaço e ao território, utilizando e explorando recursos coletivos, integrando e dependendo de áreas tão diversas como o ordenamento do território, a construção e modernização de infraestruturas, a política de sustentabilidade ambiental, cultural, educativa, de transportes, etc., torna fundamental falar da envolvente enquanto espaço de intervenção dos poderes públicos (sejam eles a administração central, sejam as administrações municipais, sejam ainda as instituições descentralizadas as regiões de turismo, etc.) em áreas tão importantes como:
- A conceção estratégica da atividade turística no sentido da coerência e da consequência a médio e longo prazo;
- A permanente construção da competitividade turística do território nacional, e particularmente das suas diferentes regiões por via das especificidades e potencialidades de cada uma delas;
- A efetiva manutenção dessa competitividade territorial do país, agilizando processos, facilitando as ligações entre atores públicos e privados e coordenando atuações, de modo a concertar a necessidade de regulação e intervenção com as opções de investimento privado;
- O apoio financeiro ao investimento através das diversas medidas de apoio criadas no âmbito dos fundos comunitários ou outras.
Em conclusão, falar apenas das atividades torna-se muito redutor em qualquer caracterização do sector no sentido de que estas não existem independentemente umas das outras. A perceção que o turista tem de qualquer destino turístico resulta não apenas do conjunto de atividades oferecido, mas também da sua interação, da forma como se coordenam e complementam, da forma como são apresentadas. Assim, a oferta de qualquer produto turístico é, antes de mais, um pacote de serviços integrados. Quando se fala em Turismo Verde, Turismo Cultural, Turismo de Saúde e Bem-Estar ou Turismo de Negócios, por exemplo, o que se fala de facto é da interação e coordenação entre um variado conjunto de atividades como sejam o alojamento, a restauração, as atividades de animação, etc. Por exemplo, no caso do Turismo Verde, a preferência do turista vai geralmente para um alojamento em espaço rural, para um contacto com a natureza e com as economias locais, incluindo a procura de uma restauração com características gastronómicas e regionais, e atividades de animação vocacionadas para práticas desportivas ao ar livre (como sejam as caminhadas) e a observação da natureza (birdwatching, por exemplo).