Conceito de Revolução Financeira
Entende-se por revolução financeira a preponderância da indústria bancária e do mercado de capitais na sociedade, que veio sendo facilitada pela desmaterialização da moeda, desenvolvimento das tecnologias de informação e integração dos mercados financeiros.
Antes da revolução financeira, cada uma das funções deveria ser atribuída a diferentes tipos de instituições, procurando-se uma separação clara entre a moeda e outros ativos financeiros, bem como entre as diversas atividades financeiras. Desta forma, conseguir-se-ia um melhor controlo monetário e evitar-se-iam os riscos de contágio de eventuais crises que viessem a afetar um determinado tipo de instituições financeiras.
Após a revolução financeira era notório que as fronteiras entre as quatro funções apontadas tendem a esbater-se graças à desregulamentação que quebrou os impedimentos legais e à desintermediação que provocou a entrada em cena de novos agentes financeiros. Tal revolução não se restringe ao âmbito da captação de recursos, mas igualmente à concessão de créditos.
Principais aspetos da revolução financeira
Um dos principais aspetos da revolução financeira consistiu na banalização da intermediação financeira, na “multiplicação dos sósias no domínio financeiro”
Este fenómeno resulta da conjugação de três movimentos:
–A mercadização dos intermediários financeiros;
–A bancarização dos intermediários financeiros não bancários;
–A financeirização dos agentes não financeiros
A revolução financeira aumentou a interdependência entre as várias economias mundiais, levando a uma melhor afetação internacional dos recursos, mas conduzindo, também, à interligação dos vários problemas económicos nacionais e à universalização de eventuais crises.
Também tem impactos na probabilidade do efeito de contágio que cresce à medida que se interpenetram os vários sistemas monetários e financeiros internacionais; esta interpenetração é facilitada pelo desenvolvimentos de meios informáticos que conectam, «em tempo real», as várias praças financeiras mundiais.
Engenharia e produtos financeiros
Ao lado dos tradicionais empréstimos e descontos de «efeitos comerciais», internos e externos, surge toda uma nova gama de potencialidades de financiamento, recorrendo a complicadas manobras de «engenharia financeira». Estes novos «produtos financeiros» não são um exclusivo dos bancos, melhor ainda, em muitos casos não são criação dos bancos, mas sim de toda uma série de novas instituições do mercado financeiro. Um problema com que os criadores financeiros se deparam é o da inexistência de patentes de produtos financeiros.
Um novo produto não fica salvaguardado por qualquer tipo de proibição de imitação, nem existe qualquer sanção para os imitadores. Tal situação leva a que um produto bem sucedido seja imediatamente copiado, senão mesmo melhorado pela concorrência; daí que haja uma tendência para a uniformização da oferta financeira para os vários segmentos de clientes.
Um outro fator de mudança é a lógica de distribuição dos serviços financeiros: a própria expressão «distribuição de serviços financeiros» é sintomática da vulgarização da atividade financeira. Estabelecem-se campanhas de distribuição e promoção de produtos financeiros da mesma forma que se traçam campanhas de distribuição e promoção de qualquer outro produtos de grande consumo.
Ao lado das complexas operações de fixação de câmbios a prazo, de contratos de futuros, de opções, surge-nos a massificação dos cartões de crédito e de débito e a multiplicação de fundos de investimentos imobiliários, mobiliários, de ações, de obrigações, mistos, ao dispor da população em geral. É este um dos motivos porque se pode falar de uma verdadeira revolução financeira, modificadora do comportamento da generalidade dos operadores económicos, com importantes reflexos nas políticas monetária e financeiras, criando novos problemas ás autoridades monetárias e novos desafios aos investigadores desta problemática.
Uma revolução financeira levanta graves problemas às autoridades monetárias internas, que vêm fugir a sua soberania para instituições internacionais que não controlam; por outro lado, estão impossibilitadas de agir com eficácia num mercado aberto, aleatório, fortemente dependente da criação de expectativas.