O que é o quantitative easing?
O conceito de Quantitative Easing consiste num pacote de medidas de política monetária desencadeadas pelo Banco Central Europeu e outros bancos centrais, não convencionais, que provocam alterações na estrutura e/ou dimensão do balanço das ações monetárias e programas de compras em grandes quantidades de ativos por fomentar liquidez em quantidades elevadas na economia, procurando facilitar o acesso ao crédito para os agentes económicos não financeiros. Este conceito surge na literatura como uma das soluções mais debatidas para ultrapassar a armadilha de liquidez, reganhando destaques no último decénio. Efetivamente, há dois momentos históricos preponderantes da adoção deste tipo de políticas: no Japão, durante a Década Perdida e nos Estados Unidos da América, por parte do FED, durante o período que sucedeu à Grande Recessão de 2007.
A Década Perdida do Japão
No Japão, a primeira experiência de Quantitative Easing conduzida pelo Banco do Japão durou 5 anos (2001 a 2006) e assentou em um padrão “up slown, down fast”, ou seja, numa estratégia de entrada de estímulos de forma progressiva e posterior retirada rápida dos estímulos. Nestes termos, o Banco do Japão conduziram uma política de quantitative easing baseada em duas políticas: (i) aumento dos excessos de reservas dos bancos, executado através da compra de obrigações do governo japonês e manutenção da taxa de juro overnight flat (zero ou muito próxima de zero), até terminar o período de deflação. Desta forma a autoridade bancária do Japão pretendia estimular a economia através do aumento do consumo privado e público (investimento) e também reduzir a taxa de juro de longo-prazo (aquela que de acordo com a literatura tem mais impacto sobre o investimento). Os objetivos deste programa foram atingidos parcialmente, mas, posteriores análises empíricas ao programa de quantative easing no Japão salientaram o impacto positivo do compromisso do Banco do Japão em manter a taxa de juro de referência flat, mas não permitem retirar conclusões assertivas sobre a eficácia da expansão monetária através do programa de compra de obrigações.
Quantitative Easing e a estratégia da FED
A estratégia adotada pela FED, no quadro da Grande Recessão que eclodiu em 2007-08 pode ser dividida em duas fases: a primeira, com início em 2008, marcada por uma abordagem ad hoc, reativa, centrada nos ativos (lado esquerdo do balanço). Verificou-se uma mudança dos ativos transacionados nas operações open market e desta feita na composição do balanço da Autoridade Financeira Norte-americana: compra de ativos de maturidades mais longas (treasury notes ou treasury bonds), prescindindo dos usuais treasury bills (títulos de dívida do teusouro com maturidade inferior a 1 ano).
O objetivo consistia em promover a expansão monetária através da redução do prémio de liquidez.
A segunda fase é caracterizada por operações sobre o passivo (lado direito do balanço): a FED recorreu a empréstimos significativos, além dos montantes de que necessitava, depositando o excesso de recursos nas suas próprias contas. Implicitamente a FED reduziu os spreads praticados, o que permitiu aumentar a concessão de empréstimos ao setor privado, bem como adquirir produtos financeiros de instituições privadas em dificuldades, sem que para isso tivesse sido necessário aumentar as suas reservas.
Durante o período de início da Grande Recessão, o programa de quantitative easing centrou-se na redução do prémio de risco, o que revela uma mudança de paradigma na ação do FED durante a implementação do quantitative easing.
Em suma, numa primeira fase, a crise financeira foi entendida como um problema de falta de liquidez, sendo as medidas elencadas quase exclusivas para solucionar problemas de liquidez. Na segunda fase, as medidas adotadas pelo FED procuraram solucionar problemas de solvabilidade do bloco financeiro privado e assim aumentar a oferta de crédito ao bloco não financeiro da economia.
References:
Karier, Thomas (2011). Intellectual Capital – Forty years of the Nobel Prize in Economics, Cambridge: Cambridge University Press.