Liquidez de financiamento designa a capacidade dos agentes económicos cumprirem, atempadamente, os seus compromissos.
Perspetiva da Banca
Na perspetiva da banca é a capacidade de manter o acesso a fontes a fontes de financiamento compatíveis com a maturidade dos ativos (Drehmann e Nikolaou, 2009).
A crise financeira de 2008 constitui um exemplo de quão graves podem ser estes riscos, bem como do seu potencial impacto devastador sobre a economia real. No entanto, independentemente da recente complexidade do modelo de negócio de alguns bancos, existe um risco intrínseco que não se pode dissociar da sua função principal: os bancos são especiais devido ao seu papel único de intermediação financeira. A banca concede empréstimos a investidores e consumidores, proporcionando-lhes a liquidez necessária para financiar os seus investimentos e necessidades de consumo. No entanto, os bancos utilizam apenas uma quantidade limitada de recursos próprios para conceder este financiamento.
Os requisitos de capital relativos a ativos com risco constituem uma restrição ativa para o montante mínimo de fundos próprios necessários. A maior parte dos recursos utilizados pelos bancos têm como origem responsabilidades face a terceiros. Tradicionalmente, estes passivos assumem a forma de depósitos. Estes instrumentos permitem aos consumidores otimizar intertemporalmente as suas preferências de consumo, mas deixam os bancos expostos ao risco de corridas bancárias.
Perspetiva dos Investidores
Na perspetiva dos investidores e dos intermediários financeiros relaciona-se com a capacidade de disporem de financiamento no curto prazo para cumprirem margens de cobertura (Brunnermeier e Pederson, 2009). Aqueles autores conceberam um modelo que explica aquela espiral: o declínio do preço das ações reduz o valor dos ativos detidos pelos intermediários financeiros, conduzindo ao aumento da probabilidade de elevar as margens de cobertura, ou seja, os valores mínimos de manutenção de conta dos investidores junto dos intermediários financeiros. Por sua vez, o aumento daquelas margens poderá obrigar a vendas maciças contribuindo para a queda repentina e generalizada dos preços, o que conduzirá, por um lado, a uma pressão adicional de descida nos preços e, por outro lado, debilita a liquidez de mercado, conduzindo a uma nova descida dos preços devido à falta de financiamento. Por conseguinte, a falta de financiamento leva a novos aumentos das margens de segurança e, novamente, a vendas significativas de carteiras.
A dependência crescente do financiamento por grosso implica que a relação entre o risco de liquidez de financiamento e o risco de liquidez de mercado se intensificou. O risco de liquidez de financiamento e o risco de liquidez de mercado são dois conceitos distintos: enquanto o primeiro pode ser amplamente definido como o risco de perder o acesso ao financiamento (através de corridas ou de risco de refinanciamento), o último pode ser definido como a capacidade de vender ativos sem afetar o seu preço de mercado e, eventualmente, incorrer em grandes perdas. Brunnermeier e Pedersen (2009) mostram que, em determinadas condições, o risco de liquidez de financiamento e o risco de liquidez de mercado podem reforçar-se mutuamente, levando a espirais de liquidez, principalmente quando o risco sistémico é elevado. Por exemplo, se um banco não é capaz de refinanciar parte da sua dívida, este pode ser forçado a vender alguns de seus ativos para obter liquidez. No entanto, a venda precipitada de ativos deverá afetar negativamente os seus preços e reduzir o valor dos ativos dos bancos, uma vez que eles são valorizados a preços de mercado, tornando desta forma o acesso a financiamento ainda mais complexo.
Em suma, as interações entre liquidez de mercado e liquidez de financiamento geram numa espiral de falta de liquidez em que, inicialmente, um choque exógeno no mercado conduz ao contágio financeiro criando uma espiral de choques endógenos na liquidez de mercado e na liquidez de financiamento.
References:
Brunnermeier, M., & Pedersen, L. 2009. Market liquidity and funding liquidity. Review of Financial Studies 22: 2201-2238.
Drehmann, M. & Nikolaou, K. 2009. Funding Liquidity Risk, definition and measurement. Working paper Nº 1024, March 2009, European Central Bank.