Neoclássico

O Neoclássico, também denominada de neoclassicismo ou Arte Neoclássica, foi um movimento artístico-cultural nascido na Europa em meados do século XVIII e parte do século XIX, que influenciou de forma abrangente a sociedade, a arte e cultura do ocidente até meados do século XIX.

Teve como base os ideais do Iluminismo e um renovado interesse pela cultura da Antiguidade clássica, advogando os princípios da moderação, do equilíbrio, da clareza, da proporção e do idealismo como uma reacção contra os excessos decorativos e dramáticos do Barroco e Rococó.

A arte neoclássica não foi apenas um movimento que se reflectiu nas mudanças que ocorriam na época marcadas pela ascensão da burguesia. Este estilo procurou expressar e interpretar os interesses, a mentalidade e os hábitos da burguesia manufactureira e mercantil da época da Revolução Francesa e do Império Napoleónico, mas também expressou muitos valores políticos e cívicos quando patrocinado pelo Estado.

O neoclassicismo, preconizava a reforma da arte vigente (barroco e rococó) pela imitação dos clássicos, tomando para si os conceitos e as regras da arte greco-romana. A Arte Neoclássica foi uma arte intelectualizada e racional que assentou nos princípios:

  • No campo técnico-formal, procurando o virtuosismo e a beleza idealizada dos Antigos, alcançados através da aprendizagem rigorosa nas Academias;
  • No campo conceptual e temático, os conceitos eruditos, morais, baseados na História, na religião, na mitologia e na literatura, nos quais o Belo se confunde com o Útil e a Estética se aproxima da Ética.

Estas características fizeram do neoclassicismo a arte ideal para transmitir o sentido de superioridade e obediência às regras, os conteúdos ideológicos racionais e moralizantes do iluminismo, tornando-se em França, na Arte da Revolução, do regime, transmissora dos ideais burgueses.

Revolução Francesa era o nome dado ao conjunto de acontecimentos que, entre 5 de Maio de 1789 e 9 de Novembro de 1799, alteraram o quadro político e social da França. Considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea, Abolindo a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade“.

Nas artes plásticas o neoclassicismo busca inspiração no equilíbrio e na simplicidade, bases da criação na Antiguidade. As características mais marcantes da pintura e escultura, foram o carácter ilustrativo e literário, marcados pelo formalismo e pela linearidade, poses escultóricas, com anatomia correcta e exactidão nos contornos, temas “dignos” e clareza na composição. Sua sistematização era feita através do sistema conhecido como academismo, que estabelecia uma série de normas práticas e teóricas para a produção da boa arte.

A referência estética foi encontrada na estatuária da antiguidade clássica, por isso as obras possuíam um naturalismo equilibrado, respeitavam-se movimentos e posições reais do corpo, embora a obra nunca estivesse isenta de um certo realismo psicológico, plasmado na expressão pensativa e melancólica dos rostos. A busca do equilíbrio exacto entre naturalismo e beleza ideal ficava evidente nos esboços de terracota, nos quais os volumes e as variações das posições do corpo eram estudados com cuidado. O escultor neoclássico encontrou o dinamismo na subtileza dos gestos e suavidade das formas.

A arquitectura neoclássica foi produto da reacção antibarroco e anti-rococó, levada a cabo pelos novos artistas-intelectuais do século XVIII, os arquitectos formados no clima cultural do racionalismo iluminista e educados no entusiasmo crescente pela Civilização Clássica, cada vez mais conhecida e estudada devido aos progressos da Arqueologia e da História.

Inspirada nos elevados cânones estruturais, formais e estéticos da arte clássica e preocupada em representar e servir o presente, a arquitectura neoclássica apresenta características concretas:

  • Utilização de materiais nobres, tradicionais como a pedra, o mármore, o granito, a madeira, etc., sem rejeitar na totalidade os materiais modernos, como o ladrilho cerâmico e o ferro, de baixo custo e grande funcionalidade.
  • Uso de processos técnicos avançados, sem por de parte, os sistemas construtivos simples (o trilítico).
  • Nas plantas utilizou-se formas regulares, geométricas e simétricas, com base no quadrado, no círculo e no triângulo.
  • Exploração de volumes corpóreos, maciços, bem definidos por panos murais lisos que clarificassem a simplicidade e a pureza formais e estruturais, internas e externas.
  • Na estrutura arquitectónica aplicou-se a gramática formal clássica, com os seus pórticos colunados, os seus entablamentos direitos, de frisos lisos ou decorados, e os frontões triangulares com tímpanos esculpidos, obedecendo, formal e estruturalmente, às ordens gregas e romanas, mas usando com liberdade os seus cânones métricos.
  • Utilização das abóbadas de berço ou de aresta, artesoadas, bem como as cúpulas, erguidas sobre as zonas centrais das construções e rodeadas de colunas sob entablamentos circulares.
  • Um cuidado e atenção especial com os espaços interiores, que organizavam segundo critérios geométricos e formais. A dedicação aos interiores era especialmente visível na decoração que recorria frequentemente à pintura mural e ai relevo em estuque.

A arquitectura Neoclássica devia primar pela sobriedade, eliminando todas as extravagâncias, a decoração era cuidada mas contida e austera.

Em Portugal o Neoclássico surgiu no último quartel do século XVIII e corresponde ao período pombalino e estende-se até as primeiras décadas do século XIX. Apesar do imobilismo político e cultural do longo reinado de D. João V, a influência das novas ideias já começa a se fazer sentir no fim desse período.

Devido à muito conturbada época que Portugal atravessava no momento, o Neoclassicismo  desenvolve-se de modo muito próprio, debatendo-se com problemas de ordem artística e económica, impondo uma periodização diferente do resto da Europa. Começou por ter uma maior expressão no Porto e só depois se estendeu para Lisboa.

O Neoclássico entra em Portugal de forma gradual, sob clara influência da arquitectura “neopalladiana” de origem inglesa, essencialmente no Porto, bastião dos interesses comerciais da Inglaterra. Um dos melhores exemplos da arquitectura neoclássica no Porto é um edifício de grande valor histórico e arquitectónico, o Hospital de Santo António, o mais palladiano dos edifícios portugueses, projectado pelo arquitecto inglês John Carr.

Em Lisboa o Neoclassicismo surge mais tardio devido ao clima cultural da corte e da influência italiana, de artistas italianos instalados em Lisboa e portugueses que estudavam em Roma e da “escola” de Mafra.

A primeira grande intervenção de influência Neoclássica em Lisboa, é o plano de reconstrução da baixa de Lisboa, denominado Plano da Baixa Pombalina planeados por Manuel da Maia, Eugénio dos Santos e Carlos Mardel. Foi um plano caracterizado pela racionalidade, sobriedade, simetria, repartição modular e austeridade formal e tipológica e marcado pela urgente necessidade de reconstruir a cidade e devolver-lhe toda a sua glória de capital de Portugal.

Baixa Pombalina, Lisboa - Neoclássico

Baixa Pombalina, Lisboa – Neoclássico

O Palácio da Ajuda, dos arquitectos José da Costa e Silva e Francisco Xavier Fabri, 1802, também representa um dos mais belos exemplos de arquitectura Neoclássica em Lisboa. O Palácio foi começado em 1795 pelo arquitecto régio Manuel Caetano de Sousa, mas em 1802 os planos foram alterados por José da Costa e Silva e pelo italiano Francisco Xavier Fabri, projecto que supervisaram juntos até 1812, depois José da Costa e Silva viaja para Brasil e deixa Fabri sozinho à frente da empreitada.

Palácio da Ajuda, Lisboa - Neoclássico

Palácio da Ajuda, Lisboa – Neoclássico (fachada, planos e pormenores do seu interior)

José da Costa e Silva, era o Arquitecto das Obras Reais e foi um, dos principais mestres da arquitectura Neoclássica, em Portugal e no Brasil, sendo o responsável de grandes edifícios como: o Teatro de São Carlos em Lisboa ou o Asilo de Inválidos Militares de Runa em Torres Vedras.

Outros grandes exemplos da Arquitectura neoclássica em Portugal são:

  • Assembleia da Republica, Lisboa
  • Teatro Nacional de D. Maria II, Lisboa
  • Feitoria Inglesa, Porto
  • Palacio da Bolsa, Porto
  • Palacio das Carrancas, Porto
  • Igreja do Bom Jesus do Monte, Braga

A escultura Neoclássica, os artistas que marcaram artisticamente o seu tempo foram Machado de Castro e João José de Aguiar. A Pintura ficou marcada pela genialidade de dois pintores: Vieira Portuense e Domingos Sequeira.

O neoclassicismo prolongou-se até metade do século XIX, tendo, em alguns casos, chegado até ao século XX.

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References:

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