Maneirismo é o nome empregue para designar as manifestações artísticas desenvolvidas desde 1520, momento quando se inicia a crise do renascimento, até o início do século XVII.
Todo esse período foi marcado por uma série de mudanças na Europa, que envolveram os movimentos religiosos reformistas e a consolidação do absolutismo em diversos países. As guerras em Itália e posteriormente a força da Inquisição determinaram um grande êxodo de artistas e intelectuais em direcção a outros países; “Os grandes impérios começam a formar-se, e o homem já não é a principal e única medida do universo”.
O Maneirismo, consiste nas tendências artísticas que se manifestaram a seguir ao Renascimento, entre 1525 e 1600, aproximadamente, designou o estilo de um grupo de artistas que se afastou das bases do Classicismo e praticou uma arte “artificial” e “amaneirada”, evoluindo de algumas concepções de Miguel Ângelo e Rafael.
Apesar de se situar entre o Renascimento e o Barroco, o Maneirismo não deve ser entendido como um parêntesis, mas sim, uma sucessão ao Renascimento, como o corolário de uma sequência de acontecimentos políticos, religiosos e culturais que conduziram à dissolução do classicismo. E foi um período rico de experiências singulares e ousadas, aboliram as fronteiras entre as artes, cultivaram o insólito, o imaginário e o fantástico, e aprofundaram possibilidades técnicas e plásticas que prefiguraram pesquisas posteriores.
Considerando que a pintura tinha entrado num período de decadência após a morte de Rafael e Miguel Ângelo, Vasari utilizou a palavra maneira, num sentido pejorativo, para se referir a uma arte “afectada”, “amaneirada” e cheia de “artificialismos” que se afastava do equilíbrio e do racionalismo humanista.
Mas apesar de tudo, o maneirismo acabou por ser estranhamente moderno, na busca de uma maior expressividade formal e plástica, e de uma “maneira” peculiar própria a cada artista.
O que distinguiu o Maneirismo dos restantes estilos e em particular na pintura foi uma deliberada revolta dos artistas contra o equilíbrio clássico do Renascimento, explicando-se como uma atitude de modernidade anti-clássica e anti-académica , criando um estilo, perturbador, voluntarioso e visionário. Donde surgem figuras alongadas, retorcidas, em posições raras e teatrais, numa busca de movimento e composições e desequilibradas, de enquadramentos são invulgares em que a cena é vista de cima ou de lado e verifica-se uma certa ambiguidade na perspectiva.
Esta ruptura começou a anunciar-se na obra arquitectónica tardia de Miguel Ângelo. Cheia de complexidades e ambiguidades formais, tanto o plano de reurbanização do Campidoglio, como a Escadaria da Biblioteca Laurenciana, evidenciando a livre expressão de um capricho pessoal do que a fidelidade a um cânone.
Na arquitectura, o Maneirismo impôs-se como uma provocadora violação das regras fixadas no Renascimento. Sem abandonarem o vocabulário clássico, os arquitectos substituíram a clareza pela ambiguidade, a ordem pelo arbitrário, o racional pelo emocional e, no desenho, por exemplo, o círculo foi substituído pelo oval.
A arquitectura maneirista dá prioridade à construção de igrejas de plano longitudinal, com espaços mais longos do que largos, com a cúpula principal sobre o transepto, deixando de lado as de plano centralizado, típicas do renascimento clássico.
No entanto, pode-se dizer que as verdadeiras mudanças que este novo estilo reflectem-se principalmente na distribuição da luz e na decoração. Naves escuras, iluminadas apenas de ângulos diferentes, coros com escadas em espiral, que na maior parte das vezes não levam a lugar nenhum, produzem uma atmosfera de rara singularidade. Guirlandas de frutas e flores, balaustradas povoadas de figuras caprichosas são a decoração mais característica desse estilo.
Na arquitectura profana ocorre exactamente o mesmo fenómeno. Nos ricos palácios e casas de campo, as formas convexas que permitem o contraste entre luz e sombra prevalecem sobre o quadrado disciplinado do renascimento.
Em Portugal, o Maneirismo teve uma duração mais longa que no resto da Europa, afirmando-se a a partir de meados do século XVI, estendendo-se pela ocupação filipina e acompanhando as primeiras formas barrocas, no início do século XVIII.
O Maneirismo teve uma grande e triunfante expressão em Portugal, em vários domínios como na arquitectura, na escultura, na literatura (Camões), na música polifónica e na teoria estética pela mão do polivalente Francisco de Holanda, que da sua estadia em Itália entre 1538-40, traz a experiência e a documentação da actualidade artística de então, introduzindo a arte e as teorias maneiristas no nosso país.
O primeiro maneirismo arquitectónico surge através do claustro principal do convento de Tomar durante a intervenção de Diogo de Torralva entre 1554 e 1564. A Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa (1582), também é um magnifico exemplo de arquitectura Maneirista e foi um edifício dominante do século XVII, durante o qual se construíram numerosos templos maneiristas: Sé Nova de Coimbra, de Baltasar Álvares, São Bento no Porto, de Diogo Marques.
No entanto, foi no âmbito da pintura que mais profundamente se fizeram sentir os valores estéticos do maneirismo em Portugal. Autores como António Campelo, Diogo de Contreiras, Francisco Venegas, Fernão Gomes, Gaspar Dias, Diogo Teixeira entre outros, souberam assumir-se em termos duma modernidade possível, respondendo formalmente contra as estruturas normativas do Renascimento Clássico.
References:
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