Quem foi Camille Claudel
Camille Claudel, escultora, musa e amante de Rodin. Tida como figura de segundo plano durante muito tempo, a história de Camille foi resgatada nos últimos tempos como forma de fazer justiça à sua obra, à sua vida e ao extraordinário marco cultural e histórico que nos deixou.
No final do século XIX, encontramos um número cada vez maior de mulheres que ocupam um lugar de destaque entre os artistas mais progressistas da sua Era, mas, se pode dizer que Camille não só destacou como marcou seriamente a produção escultórica, tendo em conta, que é difícil encontrar aquele cujas obras são tão radicais em estilo e execução como as de Camille Claudel.
Camille Claudel, foi, efectivamente, uma artista por mérito próprio, podendo-se mesmo afirmar, que é uma das maiores escultoras de todos os tempos.
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Camille Claudel(1864-1943)
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Camille Claudel, nome artístico de Camille Athanaïse Cécile Cerveaux Prosper, nasceu a 8 de Dezembro de 1864 na cidade francesa de Aisne e cresceu na aldeia de Villeneuve-sur-Fère. Era a primeira filha do casal Louis Prosper e Louise Athanaïse Cécile Cervaux. Depois de Camille, o casal ainda teve mais dois filhos, Paul Claudel e depois Louise Claudel.
O seu pai, maravilhado com o talento precoce de Camille, proporcionava-lhe todos os meios possíveis para a jovem artista pudesse desenvolver as suas potencialidades. Já a mãe de Camille não via com bons olhos a vocação artística da filha, preferindo apoiar os irmãos.
Dotada de um enorme talento que pode ser claramente visto no seu trabalho, desde muito jovem, Camille demonstrava mestria na utilização do barro, já que ela, preferia a sensação de tocar e moldar o material com as suas próprias mãos, ao invés de desenhar ou pintar.
Quando ela e a família se mudam para o bairro “Nogent-sur-Seine” e tornam-se praticamente vizinhos de Alfred Boucher, importante escultor do século XIX, abrindo-lhe uma importante porta, para seguir progredindo no desenvolvimento das suas capacidades.
O pai de Camille levou os seus trabalhos para a apreciação de Boucher que, impressionado com o talento da jovem, levou esses mesmos trabalhos para a apreciação de outro famoso escultor Paul Dubois. Após a aprovação desses dois importantes nomes da escultura de 1881, com apenas 17 anos, Camille ingressa na Academia Colarossi, em Paris. Uma escola que formava escultores e uma das raras academias de Artes, abertas também para mulheres. Entre os seus mestres estava Auguste Rodin. É desta época que se datam as primeiras obras conhecidas de Camille.
Quando em 1883 Boucher se mudou para Itália, Rodin assume o comando da Academia e a responsabilidade perante os estudantes de Boucher.
Impressionado com o talento de Camille, Rodin convida-a a trabalhar como sua assistente no seu atelier, a única mulher entre um grupo de artistas contratados para auxiliá-lo. Enquanto trabalhando no atelier de Rodin, também colaborou na execução da obra “As Portas do Inferno” (Les Portes de l’Enfer) e do monumento Os Burgueses de Calais (Les Bourgeois de Calais). Por vezes, a produção de um e outro eram tão semelhantes que não se sabia o que era do professor e o que era da aluna.
Camille, entre outras tarefas, estava incumbida de esculpir pés e, principalmente, mãos, que, segundo especialistas e historiadores de arte, era onde Rodin, gostava de expressar a emoção das suas obras.
O deslumbramento mútuo, pelo enorme talento dos dois artistas, levou a que Rodin com 43 anos e Camille com apenas 19 anos, começassem um relacionamento amoroso. Esta relação influenciou completamente tanto obra como vida, de Camille durante os anos em que durou.
O período em que Camille esteve a trabalhar no ateliê de Rodin como sua assistente foi considerado o mais produtivo da vida do famoso escultor, enquanto para Camille, a pior fase para a sua afirmação como escultora, independente dele.
Camille esculpiu o busto de Rodin e fez transparecer um homem rude e forte, enquanto Rodin, raramente modelava Camille como uma vencedora. A obra mais famosa de Camille, A Valsa, marca o coroamento da relação de ambos e da sua realização como escultora.
Mas o romance entre Camille e Rodin foi sempre tempestuoso, salpicado de inúmeras traições por parte dele, que tentou até ao último momento manter de forma paralela a relação com Rose, a sua mulher “oficial”, com quem não tinha casado, mas com quem vivia e de quem tinha um filho, o que tornou a proximidade e o relacionamento entre os dois, atormentada.
Em 1888 Camille e Rodin começam a viver junto, durante alguns períodos de tempo, numa casa a que chamariam o retiro pagão. Apesar disso, Camille seguiu vivendo a sua vida de livremente, frequentando lugares públicos e convivendo com a sociedade intelectual e artística da época.
Mas toda esta exposição, levou a que, consequentemente, a sua vida se tornasse um escândalo para a sociedade da altura e uma vergonha para a própria família, que renegavam a maneira como ela tinha decidido viver a sua vida.
Em 1892, após passar por um aborto, Camille decide afastar-se de Rodin e desvincular a sua obra dele, embora, mantivesse o contacto com ele, durante mais algum tempo depois dessa decisão. E foi, exactamente durante esse período em que mantiveram a distância que o trabalho de Camille teve o seu período mais produtivo. As obras desse período demonstram um amadurecimento de concepções, da temática e da própria técnica.
Entre 1894 a 1897, Camille estuda a arte oriental e, passa do realismo ao fantástico, explorando com a miniaturização de cenas de movimento.
Em 1898 rompe definitivamente todos os laços com Rodin depois de “A Idade da Maturidade”, ser recusada pela Exposição Universal de 1990. Considerada a sua obra mais autobiográfica, Rodin não gostou de se ver tão explicitamente exposto e consegue fazer que o jurado a rejeite.
A primeira versão de ”A Idade da Maturidade” (The Age of Maturity), foi feita em gesso em 1894-5, e descreve uma figura ajoelhada que se conecta fisicamente com o homem. Nessa primeira versão a figura masculina parece passiva, até ao ponto de colapso, com o braço direito pendurado sobre os ombros da mulher mais velha, que se inclina, olhando para a figura ajoelhada, evidentemente consciente dela como rival. Essa interacção entre elas, representando a juventude e a velhice é mais tarde rejeitada em favor de uma dinâmica mais atractiva, em que as figuras avançam na mesma direcção, como se forçadas pela força intrínseca do tempo.
Ao contrário da primeira versão, a versão final faz uso expressivo de formas orgânicas que caem de forma ondulante e unem o homem e a mulher mais velha e os três níveis de rocha que terminam em uma onda curva, lembrando-nos não só da influência da estética da Art Nouveau sobre o trabalho de Claudel no final da década de 1890, mas também, da teatralidade da escultura barroca.
A ”A Idade da Maturidade” é sem dúvida a obra-maestra de Camille e uma representação fiel da tormentosa relação que viveu com Rodin.
A partir dessa época, Camille com 36 anos, recusa-se a exibir os seus trabalhos antigos e fecha-se no seu atelier isolando-se no seu mundo, convencida que existe um complô de Rodin contra ela.
Em 1906, atravessa um episódio e arremete contra as suas próprias obras, destruindo grande parte da sua produção, numa espécie de exorcismo, como uma forma de livrar-se daquilo que ainda a vinculava ao homem que tanto amou e tanta dor lhe provocou, gravado em grande parte da sua obra.
Em 1913, por ordem de sua própria mãe e de um dos irmãos, é internada em um asilo para pessoas com perturbações mentais, em Ville-Evrard e, um ano depois, é transferida para o hospital psiquiátrico de Montdevergues, que lhe dará abrigo até à sua morte, trinta anos depois.
CamilleClaudel morreu a 19 de Outubro de 1943, aos 79 anos de idade, pobre, destroçada e sozinha na cama de um hospício.
References:
CARANFA, Angelo. Camille Claudel: A Sculpture of Interior Solitude. Associated University Presse, 1999
CLAUSE-AYRAL, Odile. Camille Claudel: A Life. Harry N. Abrams, 2002
DELBÉE, Anne. Camille Claudel. Circe, 1997
EISENWERTH, J. Adolf Schmoll gen. Auguste Rodin and Camille Claudel. Prestel, 1994
LASO, Enrique. El Abismo de Camille: La Terrible Historia de Camille Claudel. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2014
VARIOS. Camille Claudel & Rodin: Fateful Encounter. Musée national des beaux-arts du Québec – Hazan, Fernand, Editeur, 2005