Arte Românica

A arte românica, desenvolveu-se desde o século XI até o início do século XIII, período caracterizado pela crise do sistema feudal. No entanto, a Igreja ainda conservava grande poder e influência, determinando a produção cultural e artística desse período.

O termo “românico”, primeiramente utilizado como referência às línguas europeias de origem latina, foi aplicado por primeira vez, por Adrien de Gerville, um crítico francês em 1823, para designar as tipologias arquitectónicas profundamente europeia e com inspiração directa na arte e técnicas da Antiguidade romana. Posteriormente, foi difundido por Arcisse de Caumont como referência à arte europeia produzida entre 1050 e 1200.

A arte românica utilizou os recursos técnicos e influências do passado tardo-romano e paleocristão, acompanhou a arte bizantina, assimilou elementos islâmicos e adoptou em cada região formas herdadas dos estilos pré-românicos, carolíngios ou otonianos.

Apesar da fragmentação do poder entre os senhores feudais, o elemento religioso manteve a ideia de unidade na Europa e a arte Românica reforça essa unidade. Há que se considerar que neste período havia uma forte ingerência do poder político sobre a estrutura religiosa, determinada a partir do Sacro Império Romano Germânico, sendo que ao mesmo tempo iniciou-se um movimento de reacção à investidura leiga, partindo principalmente dos mosteiros, que tenderam a fortalecer-se.

A arte românica proclamava o triunfo da igreja, convertida no tronco de união entre os reinos cristãos recentemente criados e impulsionadora de uma unidade supranacional

As peregrinações fizeram disseminar o românico, na Europa, através de igrejas, mosteiros e outras construções. Estas ficavam no caminho para os locais sagrados, como Santiago de Compostela, Roma e Jerusalém, serviam de apoio e pousada para os peregrinos, além de oferecer como atractivo as relíquias e ofícios litúrgicos, exemplo de isso, é a magnifica Catedral de Santiago de Compostela (1075-1128), Espanha.

Santiago_de_Compostela_Catedral

Catedral de Santiago de Compostela

A Igreja cristã detinha o monopólio da cultura artística, a fé estava acima de qualquer pensamento racional e os grandes centros culturais estavam vinculados a ela. É neste contexto que devemos entender a estética e a ética da arte românica: com uma função didáctico-cristã de glorificar Deus.

Uma arte que fala das verdades eternas da fé e da esperança no “além”, tendo em conta, que a vida terrena, era muito severa para a maior parte dos primeiros europeus. A fé e o culto das relíquias religiosas ajudavam as pessoas a superar uma triste e pobre existência e a garantir um “lugar no céu”.

As Igrejas, Catedrais e Mosteiros centralizam o controlo sobre o pensamento e a vida da época, criando dessa forma, a primeira unificação da arte da Europa, desde a queda do Império Romano. Até então a arte era difusa e diferente entre os variados povos europeus. Herdando a estrutura paleocristã, as igrejas românicas adaptaram-se na perfeição à sua nova função: receber multidões de peregrinos que vinham adorar e prestar homenagem às relíquias de santos e santas.

Os românicos ergueram edifícios com funções distintas: igrejas para os fiéis, mosteiros para os monges e abades, e castelos para os senhores feudais, mas, por mais distintas que fossem as soluções formais e conceptuais adoptadas em cada região, eram edifícios-fortalezas em pedra, robustos, maciços e impenetráveis, contribuindo para a criação da atmosfera de mistério e misticismo que caracteriza a cultura românica.

Da forte carga simbólica, à clareza e pureza de formas e linhas, da utilização e repetição dos mesmos elementos construtivos, a arquitectura românica, principalmente a religiosa, evoca o mesmo espírito de manifestar o poder absoluto de Deus.

A Igreja é a representação de toda a Criação divina sobre a Terra. A sua forma em cruz latina, numa alusão simbólica à imagem de Cristo na cruz, correspondendo a abside à cabeça, o transepto aos braços e as naves ao tronco do corpo. A igreja românica constituía um espaço dinâmico orientado axialmente na direcção este-oeste para a cúpula absidal, lugar de revelação divina, e para onde convergem todas as linhas de composição ao ritmo sincopado das arcadas.

A cabeceira e o portal eram considerados como os espaços principais, onde se concentravam os episódios decorativos mais importantes. Enquanto que, a abside e as naves eram decoradas com frescos, os tímpanos, arquivoltas e capitéis do portal, estavam cobertos de esculturas e baixos-relevos.

A arquitectura românica está directamente ligada ao desenvolvimento da escultura monumental e da pintura, que numa justa simbiose, desenvolveram um complexo programa iconográfico através do qual comunicavam aos fiéis as verdades da Fé. Os edifícios românicos, principalmente as Igrejas, todas as partes do edifício, se enchem de figuras e elementos decorativos: colunas, capitéis, arcos, frisos, arquivoltas e tímpanos, todos cantam a Glória de Deus, resplandecendo de figuras, formas e cores.

A escultura e a pintura obedecem a uma organização simbólica dos templos, os escultores e pintores, deviam conhecer os significados, condicionantes e limitações, concebendo as figuras e obras de arte em função dos espaços onde iam ser colocados, estabelecendo assim, uma relação perfeita entre a escultura e a arquitectura. Ocorrendo como consequência dessa necessária adaptação, a ausência de cânone, já que as figuras se esticavam e encolhiam, para se adaptarem perfeitamente a uma coluna ou capitel.

Os tímpanos da Igreja de Sainte-Madeleine de Vézelay, Borgonha, França, são um bom exemplo dessa adaptação e estilização das figuras, acentuando a sua espiritualidade e expressividade, adoptando posturas inverosímeis para dar a sensação de movimento.

tímpanos da Igreja de Sainte-Madeleine de Vézelay

Tímpanos da Igreja de Sainte-Madeleine de Vézelay

O românico é uma arte simbólica, de sentido doutrinário e aspirando ao transcendente.

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References:

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FILHO, Duilio Battistoni. Pequena História Da Arte. 17ªEdição. Papirus Editora, São Paulo, 2008

FOCILLON, Henri. La escultura románica: Investigaciones sobre la historia de las formas. Ediciones AKAL, 1987

 

NUNES, Paulo Simões. História da Arte. Lisboa Editora. Lisboa, 2002

PÉREZ, José Carlos Valle; RODRIGUES, Jorge. El arte románico en Galicia y Portugal. Fundación Pedro Barrié de la Maza, 2001

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