Nascimento | 2 de Agosto de 1929, Aveiro, Portugal |
Morte | 23 de Fevereiro de 1987, Setúbal, Portugal |
Família | Primeira mulher: Maria Amália de Oliveira; Segunda mulher: Zélia; Filhos: José Manuel, Helena (primeiro casamento), Joana e Pedro (segundo casamento) |
Ocupação | Cantor e compositor |
Singles | «Fados de Coimbra»; «Ó vida de Olhão»; «Coro dos caídos»; «Menina dos olhos tristes»; «Venham mais cinco»; «O que faz falta»; «Viva o poder popular»; «Grândola, vila morena»; «Os índios da Meia Praia» |
Álbuns | «Baladas e Canções»; «Cantares de andarilho»; «Contos velhos, rumos novos»; «Traz outro amigo também»; «Cantigas do Maio»; «Eu vou ser como a toupeira»; «Venham mais cinco»; «Coro os tribunais»; «Com as minhas tamanquinhas»; «Enquanto há força»; «Fura fura»; «Fados de Coimbra e outras canções»; «Como se fora seu filho»; «Galinhas do Mato» |
Primeiros anos
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, conhecido pelo diminutivo Zeca Afonso, nasceu do dia 2 de Agosto de 1929, em Aveiro. Filho de um juiz e de uma professora primária, a sua infância ficaria marcada pelas deslocações profissionais do pai (Angola e Moçambique) e as estadias em Aveiro em casa de familiares.
Zeca Afonso regressou de forma definitiva a Portugal em 1938, para casa do tio Filomeno, Presidente da Câmara Municipal de Belmonte e Salazarista convicto. O tio obrigaria o sobrinho a envergar a farda da Mocidade da Portuguesa.
Em 1940, seguiu para Coimbra para prosseguir estudos no Liceu D.João III. Por esta altura, a família partiu de Moçambique para Timor, onde o pai exerceu funções de juíz. Zeca Afonso não teria notícias dos pais durante os últimos três anos da II Guerra Mundial, com a ocupação de Timor pelos Japoneses.
Coimbra
Zeca Afonso completou o curso do liceu em 1948, depois de duas reprovações, e ingressou no curso de Ciências Histórico-Filosóficos da Faculdade de Letras de Coimbra, em 1949. Integrou o Orfeão Académico de Coimbra e a Tuna Académica da Universidade de Coimbra, relevando-se já na altura um intérprete especialmente dotado da canção de Coimbra. Assimilou, também, o ambiente de mudança que se começava a manifestar na cidade.
Também em Coimbra conheceu a sua primeira mulher, uma costureira de origem humilde de nome Maria Amália de Oliveira. O casal casou-se em segredo, por oposição dos pais. Regressou a Angola e Moçambique, integrado numa comitiva do Orfeão Académico.
O primeiro casamento
Em Janeiro de 1953 nasceu o primeiro filho de Zeca Afonso, José Manuel. Para suportar financeiramente a família, começou a dar explicações e fazer revisões no Diário de Coimbra. Também por esta altura, gravou os seus primeiros dois discos com fados de Coimbra, dos quais não existem hoje exemplares.
Entre 1953 e 1955 cumpriu o serviço militar obrigatório, em Mafra. Mobilizado para Macau, acabou por ser colocado num quartel de Coimbra, por motivos de saúde.
As dificuldades económicas para sustentar a família (acrescida pelo nascimento da segunda filha Helena, em 1954) persistiam pelo que decidiu enviar os filhos para junto dos avós paternos, em Moçambique, no ano de 1958. A crise conjugal muito sentida acabou por conduzir ao divórcio. Relativamente a esta experiência conjugal, Zeca Afonso manteria um rigoroso sigilo durante toda a sua vida.
Docência e início da carreira musical
Ainda antes de concluir o curso, Zeca Afonso começou a dar aulas num colégio privado de Mangualde, entre 6 de Janeiro e 30 de Setembro de 1957. Leccionou, depois, na Escola Industrial e Comercial de Lagos, na Escola Comercial de Faro e na Escola Técnica de Alcobaça.
O cantor continuou, entretanto, a frequentar a universidade, não só para fazer os exames, mas por ser frequentemente solicitado para cantar em serenatas, espectáculos e digressões dos organismos autónomos. Em 1957, participou numa digressão de um mês da tuna académica, por Angola, e actuou em Paris, no teatro Champ Elysées ao lado de Fernando Rolim (voz), António Portugal, David Leandro (guitarras de Coimbra), Sousa Rafael e Lévy Baptista (violas).
Em 1959, começou a frequentar colectividades e a cantar regularmente em meios populares e, em 1960, foi editado o EP para a Rapsódia intitulado «Balada do Outono».
Entre 1961 e 1962, seguiu atentamente a crise estudantil do último ano, convivendo em Faro com Luiz Neto Jorge, António Barahona, António Ramos Rosa e Pité. Começou a namorar com Zélia, que se tornou na sua segunda mulher, e com quem teve mais dois filhos, Joana e Pedro.
Nos anos de 1962, 1963 e 1964 gravou três EP’s com o nome comum «Baladas de Coimbra». Concluiu o curso da Faculdade de Letras de Coimbra, com uma tese sobre Jean-Paul Sartre, em 1963.
Intervenção e expulsão do ensino
Em Maio de 1964, Zeca Afonso actuou na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, onde se inspirou para escrever a canção «Grândola, Vila Morena» que, no dia 25 de Abril de 1974, foi a senha do Movimento das Forças Armadas para o derrube do regime ditatorial. Nesse ano foram, também, editados o EP «Cantares de José Afonso» e o álbum «Baladas e Canções», reeditado para CD em 1996.
O ano de 1964 ficou ainda marcado pela mudança para Moçambique, onde se reencontrou com Zélia e com os dois filhos do seu primeiro casamento. Entre 1965 e 1967 leccionou nas cidades da Beira e Lourenço Marques e musicou uma peça de Bertolt Brecht, «Excepção e Regra», em colaboração com um grupo de teatro local. Em Moçambique começaram as suas manifestações políticas contra o colonialismo e em defesa dos ideias de independência, que lhe valeram problemas com a PIDE e com os agentes do governo colonial.
Zeca Afonso regressou a Lisboa em 1967 e foi colocado como professor em Setúbal. No entanto, sofreu uma grave crise de saúde que o levou a permanecer internado durante 20 dias. Quando abandonou a clínica, percebeu que tinha sido expulso do ensino oficial.
O cantor dedicou-se, então, a dar explicações e a cantar com mais assiduidade nas colectividades da Margem do Sul, onde era a nítida a influência do PCP. Zeca Afonso foi efectivamente convidado a aderir ao partido mas recusou invocando a sua condição de classe. Entretanto, foi publicado o livro «Cantares de José Afonso» e editado o álbum «Cantares do Andarilho», com Rui Pato.
Até à Revolução
Em 1969, a Primavera Marcelista abriu novas perspectivas de organização ao movimento sindical. Zeca Afonso participou activamente nesse movimento, assim como nas acções dos estudantes em Coimbra. O cantor editou neste ano o álbum «Contos Velhos Rumos Novos» e o single «Menina dos Olhos Tristes».
No ano de 1970 surgiu o álbum «Traz Outro Amigo», gravado em Londres. Em 1971, o cantor gravou em Paris o álbum «Cantigas de Maio», considerado o seu melhor disco e foi publicado o livro «Cantar de Novo». No ano seguinte, 1972, desta vez em Madrid, editou o álbum «Eu Vou Ser Como a Toupeira».
Em 1973, Zeca Afonso continuou a cantar um pouco por todo lado, embora muitas das suas apresentações fossem proibidas pela PIDE. Em Abril foi preso e permaneceu em Caxias até finais de Maio. No final do ano, em Paris, gravou o álbum «Venham Mais Cinco», em colaboração com José Mário Branco.
No dia 29 de Março de 1974, o Coliseu de Lisboa encheu-se para ouvir Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Manuel Freire, José Barata Moura, Fernando Tordo e outros. A última canção apresentada foi «Grândola, Vila Morena», escolhida por militares do MFA entre a assistência para a senha da Revolução. Curiosamente, a censura avisou no dia do espectáculo a Casa da Imprensa, organizadora do evento, que as canções «Venham Mais Cinco», «Menina dos Olhos Tristes», «A Morte Saiu à Rua» e «Gastão Era Perfeito» não poderiam interpretadas mas a «Grândola» foi autorizada.
Sensivelmente um mês depois, no dia 25 de Abril, aconteceu a Revolução dos Cravos.
Período Pós-Revolução
Entre 1974 e 1975 Zeca Afonso envolveu-se activamente em vários movimentos populares em prol da defesa da liberdade, tanto no país como no estrangeiro. O PREC (Processo Revolucionário em Curso) tornou-se numa verdadeira paixão. Em 1976, apoiou a candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho, repetindo o mesmo apoio em 1980.
Depois do álbum «Coro dos Tribunais» em 1974, editou em 1976, com a participação surpreendente de Quim Barreiros, «Com as Minhas Tamanquinhas», um disco de combate e denúncia depois do PREC. Em 1978, o álbum «Enquando Há Força» espelhava as suas preocupações anti-coloniais e anti-imperialistas e continha críticas à Igreja. Inclui as participações de Guilherme Inês, Carlos Zíngaro, Pedro Caldeira Cabral, Rão Kyao, Luís Duarte, Adriano Correia de Oliveira e Sérgio Godinho.
Em 1979, editou o álbum «Fura Fura», com a colaboração musical de Júlio Pereira dos Trovante, e passou os dois anos seguintes em silêncio. Regressou em 1981 a Coimbra com o álbum «Fados de Coimbra e Outras Canções».
Últimos anos
Em 1982, começaram-se a conhecer os primeiros sintomas da doença que levaria à morte do cantor, uma esclerose lateral amiotrófica. Actuou no dia 29 de Janeiro de 1983 no Coliseu, já com dificuldades. Contou com as participações de Octávio Sérgio, António Sérgio, Lopes de Almeida, Durval Moreirinhas, Rui Pato, Fausto, Júlio Pereira, Guilherme Inês, Rui Castro, Rui Júnior, Sérgio Mestre e Janita Salomé.
No Natal desse ano, foi lançado o álbum «Como Se Fora Seu Filho», um testamento político e, em 1985, foi editado o seu último álbum, «Galinhas no Mato». Incapaz de cantar todas as canções, é substituído por outros intérpretes: Luís Represas, Helena Vieira, Janita Salomé, José Mário Branco, Né Ladeiras e Catarina e Marta Salomé.
Em 1986 ainda apoiou a candidatura presidencial de Maria de Lourdes Pintassilgo. Acabou por falecer no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, vítima da doença diagnosticada já em 1982.