Introdução
A «Trova do vento que passa» é uma balada escrita por Manuel Alegre e António Portugal, no ano de 1963, e interpretada originalmente por Adriano Correia de Oliveira. É à voz deste que a canção é frequentemente associada, embora tenha sido cantada por tantos outros, como o Quarteto 1111 (1970), Tony de Matos (1977) ou Manuela Bravo (1996).
A balada reflecte uma clara contestação ao regime ditatorial vigente na época e reforça a missão interventiva daqueles que cantavam a resistência ao Estado Novo: “Mas há sempre uma candeia/ Dentro da própria desgraça/ Há sempre alguém que semeia/Canções no vento que passa”. A «Trova do vento que passa» é um símbolo da esperança na liberdade.
Composição
Manuel Alegre foi chamado a cumprir serviço militar em 1961 e, no ano seguinte, foi mobilizado para Angola para servir o país na guerra colonial. Já nos anos universitários em Coimbra se havia juntado aos grupos de oposição ao salazarismo e, mantendo a mesma faceta ideológica, acaba por ser preso pela PIDE em 1963, ainda em Angola. Regressa a Portugal depois de sete meses de cárcere, onde lhe é fixada residência em Coimbra, e se vê perseguido sistematicamente pelas autoridades.
É neste contexto que, numa noite a caminho de casa, acompanhado pelo seu amigo Adriano Correia de Oliveira se exprime nos seguintes termos: “Mesmo na noite mais triste / Em tempos de servidão / Há sempre alguém que resiste / Há sempre alguém que diz não”. Adriano terá afirmado, em resposta, que mesmo que não fossem escritos mais versos, aqueles durariam para sempre. Tinha razão mas o certo é que o poema surgiu, depois, com naturalidade.
Depois de escrita a «Trova do vento que passa», tentou-se adaptá-la à estrutura do fado tradicional, sem sucesso. Foi António Portugal a desbloquear a composição musical, optando por um estilo mais semelhante à balada. Quando Adriano Correia de Oliveira cantou a canção na casa dos pais de Alegre, com a presença de Zeca Afonso, este percebeu que tinham criado algo verdadeiramente único.
Três dias depois, sem a autorização da PIDE, Adriano cantou a balada numa festa de recepção aos caloiros na Faculdade de Medicina de Lisboa, depois de um discurso de Manuel Alegre. Nas palavras do próprio: “foi um delírio, teve que repetir três ou quatro vezes, depois cantou o Zeca, depois cantaram os dois. Saímos todos para a rua a cantar. A Trova do vento que passa passou a ser um hino para aquela gente” (Raposo, 2000, p.172).
References:
Novais, I. (nd). Adriano Correia de Oliveira, Trova do vento que passa (1963). Em http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/25Abril40Anos/25deabril40Anos_AdrianoCorreiadeOliveira.htm
Raposo, E.M. (2000). Cantores de Abril. Ed. Colibri, Lisboa.