Nascimento | 27 de Junho de 1888, Porto, Portugal |
Morte | 30 de Julho de 1950, Porto, Portugal |
Família | Marido: José Mena (1927-1949) |
Ocupação | Violoncelista |
Primeiros anos
Guilhermina Suggia nasceu no dia 27 de Junho de 1888, na cidade do Porto. Ensinada em criança pelo pai, um violoncelista competente, progrediu rapidamente a ponto de se tornar 1.º violoncelista na Orquestra do Porto aos 12 anos de idade.
No Verão de 1898 ouviu o reputado violoncelista Pablo Casals, que se encontrava a actuar no Casino de Espinho. O pai procurou o violoncelista no final de uma apresentação para lhe falar da filha. Casals, depois de a ouvir, propôs-se a dar-lhe aulas durante esse Verão.
No dia 27 de Março de 1901, Guilhermina e a irmã (que tocava piano) actuaram no Palácio das Necessidades para a família real. Interpelada pela Rainha Amélia sobre qual seria o seu sonho de vida, a violoncelista respondeu que gostaria de aperfeiçoar os seus conhecimentos no estrangeiro.
Alemanha
Meses depois, a coroa portuguesa concedeu a Suggia uma bolsa que lhe permitiu estudar no Conservatório de Leipzig com o violoncelista Julius Klengel. Este apresentava-se com a conhecida orquestra Gewandhaus, dirigida por Arthur Nikisch.
Apesar das dificuldades financeiras sentidas (a bolsa só cobria as aulas e a estadia da violoncelista, não do pai que a acompanhava, bem como outras despesas), Suggia permaneceu em Leipzig até ao concerto comemorativo da orquestra de Gewandhaus, onde actuou como solista. O êxito foi tal que, a pedido do público, o maestro pediu-lhe que repetisse o concerto na íntegra.
Sobre a sua aluna, Klengel escreveu o seguinte num certificado datado de 19 de Junho de 1902: “sem dúvida não tem havido uma violoncelista com o mérito da artista de que me ocupo, que também não tem nada a recear no confronto com os seus colegas do sexo masculino. Mlle. Sugia, possuindo alta inteligência musical e um completo conhecimento da técnica, tem o direito a ser considerada, no mundo artístico, como uma celebridade”.
Suggia regressou ao Porto em Março de 1903, apresentando-se em concerto acompanhada pela irmã ,Virgínia. Depois, seguiram-se os concertos pelas mais variadas salas da Europa.
Paris
Entre 1906 e 1912, Guilhermina Suggia permaneceu em Paris, onde iniciou uma relação com Pablo Casals, que já tinha reencontrado durante as visitas do catalão ao professor Julius Klengel. Na casa de ambos, na Villa Molitor, conviviam com pintores, músicos, filósofos e escritores da época. O «Concerto para dois violoncelos» do compositor húngaro Emánuel Moór foi dedicado a ambos.
No entanto, o casal separou-se abruptamente em 1913, devido a ciúmes de ambas as partes, e Suggia não voltou a referir-se ao músico no plano emocional, reconhecendo somente as suas qualidades musicais e a influência nesse campo.
Londres
A violoncelista mudou-se, então, para Londres, fazendo desta cidade o centro da sua actividade musical. Durante a sua estadia actuou com a Royal Philharmonic Society, a State Simphony Orchestra, a BBC Symphony Orchestra e a London Symphony Orchestra. Os seus recitais no Royal Albert Hall ou no Wigmore Hall motivaram as melhores críticas da imprensa, que descreviam as suas entradas em palco como imponentes e realçavam o domínio absoluto do instrumento e da obra interpretada.
Retrato de Suggia pelo pintor gaulês Augustus John, 1923
Para Suggia, o violoncelo sempre o foi mais extraordinário de todos os instrumentos porque era o único que possibilitava suster um baixo por um longo período de tempo e cantar uma melodia praticamente em qualquer registo. Mas a substância musical do violoncelo não podia ser revelada unicamente através da técnica: “A técnica é necessária como veículo de expressão e quanto mais perfeita a técnica, mais livre fica a mente para interpretar as ideias que animaram o compositor” (Guilhermina Suggia).
Regresso a Portugal
Apesar de se manter ligada à capital inglesa, adquiriu, em 1924, uma casa no Porto, na Rua da Alegria, para os pais, que declarou como sua morada oficial. No dia 27 de Agosto de 1927 casou-se com o médico José Mena, de quem não teve descendência, e decidiram morar na mesma rua.
Os anos 30 marcaram o seu regresso ao país natal, especialmente durante a II Guerra Mundial. Neste período, estreitou laços musicais com compositores e intérpretes portugueses, apresentando-se em concerto em várias cidades do país.
Últimos anos
No final dos anos 40, depois de conhecer Maria Adelaide de Freitas Gonçalves, directora do Conservatório de Música do Porto, Suggia participou na formação da Orquestra Sinfónica do Conservatório, que integrava os alunos finalistas dessa escola. A violoncelista actuou como solista no concerto de apresentação da Orquestra, na noite de 21 de Junho de 1948, no Teatro Rivoli.
Em 1949, já exibindo sinais de um cancro que viria a ser fatal, criou o Trio do Porto, constituído pela própria, pelo violinista Henri Mouton e pelo violetista François Broos. Voltou a deslocar-se ao estrangeiro ainda nesse ano, apresentando-se em Edimburgo e Bournemouth.
No dia 31 de Maio de 1950 deu o seu último concerto num recital no Teatro Aveirense, para os sócios do Círculo de Cultura Musical de Aveiro, acompanhado ao piano por Maria Adelaide de Freitas Gonçalves.
Em Junho sujeitou-se a uma cirurgia numa clínica de Londres mas sem resultados positivos. Regressou ao Porto, onde faleceu na noite de 30 de Julho de 1950.
Guilhermina Suggia aperfeiçoou a técnica do instrumento e revolucionou a sua sonoridade e posição. No entanto, a sua maior contribuição foi a abertura das portas profissionais do violoncelo às mulheres (em 1930, o violoncelo era ainda considerado um instrumento indecoroso para as mulheres). A história da música já tinha conhecido outras violoncelistas (por exemplo, Lisa Cristiani, Gabrielle Plateau, Beatrice Evaline, May Mukle ou Beatrice Harrison) mas nenhuma deixou legado tão profundo quanto a violoncelista portuguesa.