Morfologia e sonoridade
O oboé é um instrumento de sopro (ver também aerofone) de madeira, soprado através de uma palheta dupla, com uma extensão de duas oitavas e uma sexta e munido de um sistema de chaves Boehm. De forma cónica, é construído geralmente em ébano que, acastanhado enquanto fresco, torna-se negro depois de polido ou estar exposto ao sol. Geralmente mas não exclusivamente, dado que se produzem instrumentos de qualidade com madeiras semelhantes e mesmo com materiais diversos, como o plástico.
Morfologicamente, o oboé é constituído por três partes: a embocadura, uma palheta dupla, na realidade duas palhetas encostadas e fixadas no extremo inferior a uma peça de metal, que viram uma contra a outra quando o executante sopra; um tubo, estreito junto à embocadura que cresce regularmente até um pequeno pavilhão pouco pronunciado, que constitui a terceira parte do instrumento.
O oboé apresenta uma série de dificuldades técnicas em relação a outros instrumentos de madeira: a dificuldade na obtenção das palhetas, cuja construção é um trabalho moroso e minucioso; a sensibilidade do instrumento relativamente à mudança das condições atmosféricas ou de temperatura; a respiração, o oboísta tem a árdua tarefa de contornar o excesso de ar (a quantidade de ar que passa entre as lâminas da palheta é muito pequena e, por isso, o instrumento tem a necessidade de expelir o ar gasto antes de respirar de novo).
Incorporado na orquestra desde o século XVII, é também utilizado em música de câmara e em bandas militares. É em relação ao seu lá que a restante orquestra afina os seus instrumentos. O repertório para oboé solo é igualmente extenso e notável, saliente-se. A versatilidade do instrumento não é de surpreender dada a sua sonoridade extraordinária, capaz de exprimir os mais diversos estados e sentimentos: pode ser pastoral, alegre, dramático, lírico, trágico, dolente e mesmo evocar atmosferas orientais.
Origem e breve desenvolvimento do oboé
Os percussores dos instrumentos de palheta dupla, mais antigos do que aqueles de palheta simples, remontam às Civilizações Antigas, pelo menos desde o tempo dos Sumérios (c. 2800 A.C.), sendo então constituídos por dois tubos. Instrumentos semelhantes eram também frequentes no Egipto, em Israel, na Grécia e em Roma.
Na Ásia, existiam instrumentos deste tipo em quase todos os países, com a particularidade de possuírem um disco de metal contra o qual o músico apoio os lábios, ficando a palheta totalmente dentro da boca. Foram, depois, introduzidos na Europa no século XII. Adquirindo a designação de charamelas, tornaram-se os principais instrumentos de palheta dupla até ao século XVII.
Em 1657, Jean Hotteterre e Michel Philidor II, músicos da corte francesa, inventaram, então o oboé, com o objectivo de criar um instrumento de palheta dupla com uma sonoridade mais suave, própria para ambientes interiores, ou seja, o oposto da sonoridade estridente e ensurdecedora da charamela. Para o efeito, estreitaram o tubo e diminuíram o tamanho do pavilhão. Ainda nesse ano, o instrumento foi estreado por Hotteterre e pelos dois filhos em «L’amour Malade» de Lully.
A introdução do hautbois (madeira alta, à época pronunciado “oboé”, o que popularizou a difusão desta designação) na música da corte, com os seus sons agudos e penetrantes, foi do agrado de muitos compositores, como Bach, Albinoni, Telemann e Vivaldi, que passaram a escrever para esta nova sonoridade. Surgiram, logo nesta altura, mais dois instrumentos da mesma família do oboé: o oboé d’amore, afinado uma 3.ª abaixo do normal, e o oboé alto, conhecido como cor anglais, afinado uma 5.ª abaixo do oboé normal.
A palheta era, no entanto, ainda muito larga, mas as exigências do repertório clássico e romântico contribuíram para a sua diminuição (assim como do instrumento no seu comprimento). Por volta da década de 1860, Guillaume Triébert, e o filho Frédéric, já tinham desenvolvido um oboé muito semelhante àquele do século XX.
A Revolução Industrial foi fundamental para o seu desenvolvimento, com o surgimento de novas ferramentas para a construção de palhetas e do sistema de pratos, que facilitou a dedilhação (o número de chaves também aumentou). Em 1906, François Lorée e Georges Gillet construíram o primeiro oboé que englobou todos estes desenvolvimentos. Surgem novas variedades de oboé, o baixo (correspondente ao barítono) e o heckelphone (o baixo propriamente dito). Ao mesmo tempo, a Revolução, à semelhança de tantas áreas, facilitou a produção e massificação do instrumento, com a criação de várias fábricas, com diferentes modelos, ainda hoje conhecidas: Triébert, Lorée, Fossati, Marigaux, Yamaha, etc.