Amália Rodrigues

Biografia da fadista Amália Rodrigues (1920-1999), conhecida como a “Rainha do Fado”. Normalmente aclamada como a voz de Portugal, foi a principal responsável pela internacionalização do fado.

Nascimento 1 de Julho de 1920, Lisboa, Portugal (no registo de nascimento consta a data 23 de Julho)
Morte  6 de Outubro de 1999, Lisboa, Portugal
Família Maridos: Francisco Cruz (1940-1943); César Seabra (1961-1997)
Ocupação Fadista e actriz
Principais Singles
«Ai, Mouraria»; «Não Sei Porque Te Foste Embora»; «Que Deus Me Perdoe»; «Confesso»; «Fado da Saudade»; «Novo Fado da Severa»; «Uma Casa Portuguesa»; «Tudo Isto é Fado»; «Foi Deus»
Filmografia

«Capas Negras» (1947); «Fado, História de uma Cantadeira» (1947); «Sol e Toiros» (1949) «Vendaval Maravilhoso» (1949); «Les Amants du Tage» (1955); «April in Portugal» (1955); «Sangue Toureiro (1964); «Fado Corrido» (1964); «As Ilhas Encantadas» (1965); «Via Macau» (1965)

Curtas-metragens: «Fado da Rua do Sol», «Fado Malhoa», «Fado Amália», «Fados lamentos», «O meu amor na vida (Confesso)», «Só à Noitinha», «Ronda dos Bairros», «Eu disse adeus à casinha», «Ai! Lisboa» (1947);

Teatro

«Ora Vai Tu» (1949); «Espera de Toiros» (1941), «Essa é que é essa» (1942), «Boa Nova» (1942), «Alerta está» (1943), «A Rosa Cantadeira», «Ó viva da costa» e «A Senhora da Atalaia» (1944), «Estás na Lua» e a reposição de «Mouraria» (1946), «Se Aquilo que a Gente Sente» ( 1946); «Severa» (1955)

Primeiros anos

Amália Rodrigues considerou ter nascido no dia 1 de Julho de 1920 (embora no registo de nascimento conste a data 23 de Julho), em Lisboa, na freguesia da Pena, quando os pais estavam de visita aos avós maternos. A família, que vivia no Fundão, permaneceu em Lisboa durante um curto período de tempo, à procura de uma vida melhor. No entanto, o pai não conseguiu encontrar emprego, pelo que todos, com a excepção de Amália, regressaram ao Fundão.

Ao cuidado dos avós, Amália mudou-se para o bairro de Alcântara, com seis anos de idade. Completou a instrução primária aos doze anos de idade, vendo-se obrigada a abandonar os estudos para ajudar no sustento familiar: primeiro, aprendiz de costureira e bordadeira, depois, operária numa fábrica de chocolates e rebuçados; com quinze anos vendeu fruta pelas ruas do cais de Alcântara, juntamente com a irmã Celeste (os pais tinham regressado à capital no ano anterior).

A fadista demonstrara desde cedo gosto por cantar e, em 1935, foi escolhida para cantar «Fado Alcântara» como solista, acompanhando a Marcha Popular dos seu bairro, nos festejos dos Santos Populares.

Em 1938, fez audições para o “Concurso da Primavera”, onde se disputava o prémio da Rainha do Fado, mas acabou por não participar porque todas as outras concorrentes se recusaram a competir com ela. Contudo, foi neste concurso que conheceu o guitarrista amador Francisco da Cruz, com quem se casou em 1940 e de quem se separou três anos depois. Voltou a casar-se em 1961, com o engenheiro brasileiro César Seabra. Permaneceram casados até à morte deste, em 1997.

Início da carreira

Amália Rodrigues prestou provas para a casa de fados mais famosa da altura, Retiro da Severa, estreando-se profissionalmente no ano de 1939. Actuou, depois, no Solar da Alegria e no Café Mondego. O sucesso foi tal que se tornou cabeça de cartaz e, com a intervenção de José Melo, passou a cantar no Café Luso com um cachet nunca antes pago a um fadista.

A partir desta altura as suas actuações tornaram-se menos regulares mas presença da fadista em Lisboa até ao início dos anos 50 foi uma constante: Cervejaria Luso e Esplanada Luso (1941); Casablanca, Pavilhão Português e Retiro dos Marialvas (1942); Casablanca, Retiro dos Marialvas e Café Latino (1943); Café Luso (1944, 1947 e 1950); Casino Estoril (1949 e 1950); Comboio das Seis e Meia, um programa de variedades gravado no Teatro Politeama e depois transmitido na rádio.

Internacionalização

A primeira apresentação de Amália Rodrigues no estrangeiro aconteceu em 1943, quando actuou numa festa do Embaixador Português em Madrid, Pedro Teotónio Pereira. No ano seguinte, foi ao Brasil, onde actuou no Casino de Copacabana, no Teatro João Caetano e na Rádio Globo. Regressou ao Brasil logo em 1945, numa estadia que se prolongou até Fevereiro de 1946. Nesta altura gravou os seus primeiros discos.

Em 1949, a convite de António Ferro, actuou em Paris e em Londres. No ano seguinte, participou numa série de espectáculos patrocinados pelo Plano Marshall em Berlim, Roma, Trieste, Dublin, Berna e Paris. Em 1952, cantou pela primeira vez em Nova Iorque e, em 1953, na Cidade do México. Em 1953, participou no programa televisivo de Eddie Fisher.

Amália Rodrigues

Seguiu-se, em 1956, a apresentação no Olympia de Paris (sala à qual voltaria recorrentemente) Côte d’Azur, Bélgica, Rio de Janeiro e Cidade do México. Em 1957, actuou pela primeira vez em Estocolmo, Lausane e Caracas.

Amália regressou ao Brasil com vários espectáculos, em 1960 e 1961. Em 1963, cantou «Foi Deus» na Igreja de São Francisco, no aniversário da independência do Líbano. Ainda nessa década, actuou em Tunes, Argel, Sidi Abbes, Bruzelas, Atenas, Edimburgo, em várias cidades de Israel, Moscovo, Tiflis, Erivan, Baku, entre outras cidades e países.

Em 1970, esteve pela primeira vez no Japão, onde voltou em 1976, 1986 e 1990 e, em 1972, actuou na Austrália. Durante esta década e a seguinte prosseguiu com as suas digressões por vários países.

Em 1989, comemorou os cinquenta anos de actividade artística profissional com uma grande tournée que passou por Espanha, França, Suíça, Portugal, Israel, India, Macau, Coreia, Japão, Bélgica, Estados Unidos e Itália.

Últimos anos

Amália Rodrigues afastou-se dos palcos em 1994 mas continuou a ser convidada de honra em inúmeros eventos culturais. Em 1998, foi homenageada durante um espectáculo na Expo’98 no Parque das Nações.

Faleceu no dia 6 de Outubro de 1999, na sua casa, em Lisboa. O Governo anunciou, de imediato, três dias de luto nacional, e o seu funeral constituiu uma sentida manifestação de dor e saudade nacional. Os seus restos mortais permaneceram no Cemitério dos Prazeres até ao dia 8 de Julho de 2001, quando foram transladados para Panteão Nacional. Amália Rodrigues foi a primeira mulher a repousar no Panteão, junto de outras personalidades consideradas expoentes máximos da nacionalidade.

Legado

Amália Rodrigues, conhecida como a “Rainha do Fado”, é considerada a maior embaixadora do género musical português. Ao longo da sua carreira de 55 anos, levou o fado a todos os cantos do mundo, tornando-se numa das principais figurais do revivalismo do género no século XX. À data da sua morte, tinham sido vendidos mais de 30 milhões de álbuns em todo mundo.

O contributo de Amália ao fado não se prendeu somente à internacionalização do género. A fadista é responsável por transportar a poesia erudita para as canções. Logo no início da década de 1950, gravou «Fria Claridade», de Pedro Homem de Mello, e, em 1953, «Primavera», de David-Mourão. A colaboração com os dois poetas tornou-se constante na sua carreira e a estes juntaram-se Luiz Macedo e Sidónio Muralha, Alexandre O’Neill, José Régio, Vasco de Lima Couto, Manuel Alegre é José Carlos Ary dos Santos. Além dos poetas contemporâneos, o Cancioneiro de Garcia Resende e Camões foram também parte das suas discografias.

Adicionalmente, introduziu inovações na postura e indumentária dos fadistas, nomeadamente, o uso sistemático do vestido e xaile negros e o posicionamento à frente dos guitarristas.

Na década de 70, embora no auge da sua fama internacional, viu a sua reputação afectada em Portugal devido aos rumores da sua ligação com o regime Salazarista. Na verdade, a cantora nunca se envolveu politicamente e, embora tenha expressado alguma admiração pela pessoa de António de Oliveira Salazar, veio-se a saber que fez doações monetárias ao Partido Comunista Português clandestinamente (além de que alguns dos seus fados não escaparam à censura).

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