Surrealismo, foi um movimento artístico e literário surgiu inicialmente em Paris dos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo, reunindo artistas anteriormente ligados ao Dadaísmo e posteriormente expandido para outros países.
Caracterizado pela expressão do pensamento de maneira espontânea e automática, regrada apenas pelos impulsos do subconsciente, desprezando a lógica e renegando os padrões estabelecidos de ordem moral e social, e tinha como objectivo valorizar o sonho e o inconsciente.
O surrealismo é uma descoberta e exploração do maravilhoso, a pintura, a fotografia, as colagens e objectos constituíram-se como armas de arremesso contra a estética, em nome da liberdade e em direcção a uma arte revolucionária.
Desde 1919 até 1924, o movimento surrealista propôs uma arte e visão revolucionária em todo o mundo.
“Entre os seus representantes mais proeminentes destaca-se André Breton (1896-1966), como o principal precursor, e os seguidores Louis Aragon (1897-1982), Robert Desnos (1900-1945), Philippe Soupault (1897-1990), Roger Vitrac (1899-1952), Antonin Artaud (1896-1948), Paul Éluard (1895-1952), Benjamin Péret (1899-1959), René Crevel (1900-1935), Max Ernst (1891- 1976), Marcel Duchamp (1887-1968), Francis Picabia (1879-1953) e Pablo Picasso (1881-1973).” (Azevedo&Ponge, 2008:279)
Alguns estudiosos e historiadores, afirmam que o surrealismo esteve em processo de gestação até 1924, quando surgiu o Manifeste du Surréalisme (Manifesto do Surrealismo). O Manifesto do Surrealismo foi criado pelo autor André Breton, foi lançado e publicado no meio artístico-literário europeu, em 1924.
“Este documento programático difunde, por um lado, o espírito criativo de Breton e, por outro, uma revolução de ideias e de pensamentos sobre a realidade. Nele, focam-se as áreas do inconsciente, do maravilhoso, dos sonhos e das percepções humanas.” (Tavares, 2007:4-5)
“O Surrealismo é o automatismo psíquico puro pelo qual nos propomos exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja por por qualquer outra forma, o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento na ausência de todo o controlo da razão e de toda a preocupação moral ou estética. O Surrealismo assenta na crença na realidade superior de certas formas de associações até aqui desprezadas, na omnipotência do sonho, no jogo desinteressado do pensamento. Tende a arruinar definitivamente todos os outros mecanismos psíquicos e a substituir-se a eles na resolução dos principais problemas da vida.” – André Breton, Manifesto do Surrealismo, 1924
As características deste estilo são uma combinação do representativo, do abstracto, e do psicológico. Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência quotidiana, expressando o inconsciente e os sonhos.
“O Surrealismo repousa sobre a crença na realidade superior de certas formas de associações desprezadas antes dele, na omnipotência do sonho, no desempenho desinteressado do pensamento. Tende a demolir definitivamente todos os outros mecanismos psíquicos, e a se substituir a eles na resolução dos principais problemas da vida.” (Breton, 1924:12).
Influenciados pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, os surrealistas enfatizavam o papel do inconsciente na actividade criativa. De acordo com Freud, o homem deve libertar sua mente da lógica imposta pelos padrões comportamentais e morais estabelecidos pela sociedade e dar vazão aos sonhos e às informações do inconsciente.
O Surrealismo foi uma das mais importantes correntes vanguardistas do século XX, tentou mostrar a subtileza de um mundo, centrando-se essencialmente no inconsciente e subconsciente. Na verdade, no surrealismo, muitas vezes os sonhos servem como um modelo de experiências e inspiração.
Nas artes plásticas o surrealismo, explorou-se através da pintura, os artistas plásticos colocam suas emoções, seu inconsciente e representavam o mundo concreto.
O movimento artístico dividiu-se em duas correntes. A primeira, representada principalmente por Salvador Dalí, que trabalhava com a distorção e justaposição de imagens conhecidas, que tem como exemplo máximo, a sua obra “A Persistência da Memória”.
Os artistas da segunda corrente libertam a mente e dão vazão ao inconsciente, sem nenhum controle da razão. Joan Miró e Max Ernst representam muito bem esta corrente. As telas saem com formas curvas, linhas fluidas e com muitas cores. O “Carnaval de Arlequim” e “A Cantora Melancólica” são duas pinturas de Miró que representam muito bem esta vertente do surrealismo.
Na literatura os escritores do surrealismo rejeitaram o romance e a poesia em estilos tradicionais e que representavam os valores sociais da burguesia. As poesias e textos deste movimento são marcados pela livre associação de ideias, frases montadas com palavras recortadas de revistas e jornais e muitas imagens e ideias do inconsciente. O poeta Paul Éluard, autor de Capital da Dor e André Breton, autor de O Amor Louco, Nadja e Os Vasos Comunicantes, são representantes da literatura surrealista.
Em Portugal, o surrealismo caracteriza-se essencialmente pela sua efemeridade e instabilidade, cuja primeira consequência é a sucessão de dissidências, debates e escândalos.
O surrealismo da «segunda vanguarda» estava votado, tal como o grupo de Orpheu, a inquietações, ao desvio às maneiras recomendadas pela crítica e ao gesto irreverente da escrita.
O primeiro surrealismo teve uma curta carreira como grupo, entre 1947 e 1950, embora tenha despertado um movimento que mobilizou toda a poesia contemporânea. Para além da sua brevidade, o surrealismo português foi sujeito de um circunstancialismo histórico, uma vez que se opunha à atmosfera opressiva do Estado fascista que vigorava na época, sendo que a consequência benéfica na poesia foi a introdução da «escrita automática», que demonstrou ser o motor que impulsionou a linguagem.
Este movimento, que aliava poetas, críticos, pintores e desenhistas, dedicou-se sobretudo a edições colectivas e a antologias que procuraram recuperar o passado literário dos seus antepassados.
O surrealismo em Portugal foi, de algum modo, influenciado pelo surrealismo francês, representado principalmente pela escola de André Breton. A comparação com o surrealismo francês proporciona uma amálgama com um certo movimento de abjecção humana, valorizada pela psicanálise e pelo existencialismo. A esta amálgama deu-se o nome de abjeccionismo.
Alguns consideram que o surrealismo português é pobre, quando comparado com os modelos franceses e até com certos precursores portugueses, tais como, Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Vitorino Nemésio.
References:
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