A “Questão Coimbrã”, também designada de “Questão do Bom Senso e do Bom Gosto”, foi uma das polémicas mais acesas que a história da literatura portuguesa conheceu até à data. Começou em novembro de 1865 e terminou a julho de 1866.
A eclosão da polémica desenrolou-se em torno da publicação do «Poema Mocidade» (1865), da autoria de Pinheiro Chagas (1842-1895), o qual vinha acompanhado de uma carta-posfácio redigida por António Feliciano de Castilho (1800-1875). Nessa missiva, este último atacou os escritos modernos e “ininteligíveis” que estavam a ser produzidos pela geração universitária de Coimbra, nomeadamente as «Odes Modernas», de Antero de Quental (1842-1891) e as «Tempestades Sonoras», de Teófilo Braga (1843-1924).
Como resposta, e com o objetivo de atingir a figura de Castilho, Antero redigiu um folheto intitulado «Bom Senso e Bom Gosto», contestando o saudosismo ultrarromântico de Castilho, assim como os autores que este último escolhia para publicar na «Revista Universal Lisbonense». Defendia, por sua vez, um conceito novo relativamente à missão do escritor, reivindicando, ainda, a liberdade e a independência de espírito que lhe estão subjacentes.
O ponto mais intenso desta questão foi, então, quando o número de opúsculos de ambas as partes começou a multiplicar. Do lado da nova geração, aberta às recentes ideias do espírito científico europeu, foram publicados «A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais», de Antero de Quental e «Teocracias Literárias», de Teófilo Braga. Por sua vez, do lado conservador, o escritor Ramalho Ortigão (1836-1915) redigiu um texto intitulado «Literatura de Hoje», no qual acusara Antero de cobardia por ter invocado argumentos como a cegueira e a velhice de Feliciano Castilho.
Furioso, Antero decidiu então ir ao Porto com a finalidade de travar um duelo com Ramalho Ortigão. A luta de espadas deu-se no Jardim da Arca D’Água a 4 de fevereiro de 1866, com Antero a ferir Ramalho num braço e a colocar um ponto final na Questão Coimbrã.
Curiosamente, estes dois escritores acabaram por se reconciliar e por partilhar ideias similares nas reuniões revolucionárias da Geração de 70, a qual contribuiu para a introdução do Realismo em Portugal.