Pierre Corneille foi um famoso dramaturgo francês do século XVII que escreveu, principalmente, comédias e tragédias. Foi, também, o autor emblemático da passagem do teatro barroco para o teatro clássico. Seria, posteriormente, destronado pelo jovem Jean Racine (1639-1699).
Corneille nasceu em Rouen, no dia 6 de junho de 1606, no seio de uma família culta e abastada, pois muitos dos seus membros eram magistrados. A sua educação foi maioritariamente feita num colégio de jesuítas, no qual a arte dos espetáculos fazia parte integrante do currículo. Posteriormente, ingressou na Faculdade de Direito mas, já formado e após ter exercido por um breve tempo, decidiu abandonar o ofício para se dedicar exclusivamente ao teatro.
Quando tinha 23 anos, a sua primeira peça, «Mélite» (1629), uma pastoral dramática incluída no género barroco, foi representada em Paris. Visto que conheceu um sucesso significativo, Corneille decidiu abraçar a carreira de autor dramático até 1674, quase até ao final da sua vida.
Nos quatros anos que se seguiram à representação de «Mélite», Corneille escreveu duas outras peças, uma tragicomédia e uma comédia, intituladas, respetivamente, «Clitandre» (1631) e «La Veuve» (1632), que também foram muito bem acolhidas. O próprio cardeal de Richelieu (1585-1642), aliás, decidira convidar Corneille para fazer parte da sua Sociète des 5 Auteurs, um atelier de escrita dramática onde, de facto, o dramaturgo aprendeu a escrever de acordo com regras. No entanto, não foi muito o tempo que aí permaneceu, pois além de ter tido alguns desentendimentos com o cardeal, Corneille sempre cultivou uma certa liberdade compositiva, revelando uma certa dificuldade em adaptar-se às normas rígidas de fixação do texto.
As peças que escreveu durante esse período foram essencialmente comédias, a saber, «La Galerie du Palais» (1633), «La Suivante» (1634), «La Place Royale» (1634), «L’Illusion Comique» (1636) e ainda uma tragédia intitulada «Médée» (1635). Estas obras marcaram o primeiro ciclo de peças de Corneille que, embora pautado por algumas irregularidades quanto aos géneros, corresponde a uma composição de textos que, esteticamente, se filia no barroco.
É importante sublinhar que, apesar das referidas inconstâncias relativamente aos géneros, ou de um certo hibridismo textual, Corneille contribuiu imenso para revitalizar a comédia, género que, na altura, era considerado secundário.
Posteriormente, e de volta a Rouen, Corneille decidira aderir ao registo trágico. Nascia, assim, um segundo ciclo de composições dramáticas composto por quatro grandes tragédias. A primeira, «Le Cid» (1637), uma das peças mais importantes da história do teatro francês, embora tenha obtido um sucesso imediato, fez-se acompanhar de uma violenta polémica originada não só por conflitos de interesse, mas também por alguma inveja relativamente ao sucesso da peça. A principal crítica, por parte da Academia Francesa, incidiu no facto de Corneille não ter respeitado os princípios orientadores do teatro clássico, nomeadamente as regras respeitantes ao tempo e à ação.
As três peças que se seguiram, «Horace» (1640), «Cinna» (1641) e «Polyeucte» (1642), revelam, por sua vez, um dramaturgo atento às regras do teatro clássico, o que faz com que fosse eleito pela Academia Francesa em 1648 e idolatrado pelo público.
Nestas tragédias define-se o ideal de herói marcado pela glória, pela vontade e por uma enorme générosité que se caracteriza pela energia que é colocada num fluxo de amor ideal inseparável da tradição democrática, que também, por seu turno, está associada ao conceito de virtude.
Depois de este culminar, o terceiro e último ciclo das suas obras conhecera, novamente, algumas oscilações, embora todos obedecessem a uma estrutura clássica. Iniciou-se com o registo cómico, em «Le Menteur» (1644), e terminou com «Suréna» (1674), a sua última tragédia.
Entretanto, o jovem Racine começava a conquistar o público, fazendo com que entrasse mesmo em conflito direto com Pierre Corneille.
Corneille faleceu em Paris no dia 1 de outubro de 1684, deixando um legado extraordinário à história do teatro francês.
References:
Biet, Christian. Moi, Pierre Corneille. Paris : Gallimard, 2006