«Mensagem» é uma obra da autoria do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935). De natureza épico-lírica, esta composição literária, imbuída em saudade e de teor profético, é sobretudo um hino à glória de Portugal.
Embora Pessoa tenha começado a redigir «Mensagem» em 1913, só a viria a concluir cerca de 20 anos depois, no ano de 1934. Foi o único livro que publicou durante a sua vida, um ano antes de falecer.
Inicialmente intitulada «Portugal», a obra concorreu ao prémio Antero de Quental, em grande parte por insistência de um amigo próximo de Fernando Pessoa, o diretor do Secretariado de Propaganda Nacional do Estado Novo, António Ferro (1895-1956), e ganhou o prémio de segunda categoria. 1
A obra é constituída por 44 poemas e apresenta uma estrutura tripartida, a qual compreende, respetivamente, o Brasão, o Mar Português e o Encoberto. Estas três partes, de facto, representam os três momentos essenciais da existência de Portugal, sendo que o Brasão remete para o nascimento/fundação da pátria, ou seja, para os construtores do Império, a segunda para a vida/crescimento, pois o poeta foca-se nos Descobrimentos Portugueses e, por fim, a terceira parte para o declínio/renascimento do país, na medida em que Pessoa evoca a figura de D. Sebastião e o Quinto Império.
Neste sentido, «Mensagem» revela um profundo compromisso com uma pátria que, saudosista do seu passado glorioso e consciente do seu presente adormecido, não deixa de continuar em expansão, mesmo que seja no plano mítico, pois “é possível que Portugal seja uma grande potência espiritual.” 2 O poema «Nevoeiro», talvez colocado estrategicamente a encerrar a coletânea de poemas da obra, sublinha, de facto, esse sentimento de crise e de desânimo geral, o que faz com que Pessoa se apoie no mito sebastianista, que anseie a chegada de um salvador, mesmo que diferente da tradição comummente partilhada pelo povo português. Afinal, “É a Hora!”
Embora, evidentemente, Fernando Pessoa tenha repisado as pegadas de Camões, no sentido em que partiu da epopeia camoniana para escrever a sua «Mensagem», são claras as diferenças entre as duas obras. Uma das mais interessantes repousa, quiçá, na figura do rei D. Sebastião que, de interlocutor n’ «Os Lusíadas» e detentor de um vasto império colonial, passa a um messias, a um espectro, ao «Encoberto».
É de salientar, ainda, a genial intertextualidade na recuperação da galeria de personagens da epopeia de Camões por parte de Pessoa, agora associada a um registo de linguagem significativamente mais emotivo e, também, o facto de Pessoa, apesar da sua intenção em transformar a pátria através do poder do sonho, ter-se revelado um lúcido pensador do Império português.
Quanto à linguagem presente na «Mensagem», esta apresenta-se simbólica e lapidar, com recursos a alguns vocábulos e estruturas arcaizantes que invocam, uma vez mais, a obra épica de Luís de Camões. Os recursos expressivos mais utilizados são a apóstrofe, a enumeração, a gradação, a interrogação retórica e a metáfora.
Relativamente à sua dimensão épica, esta manifesta-se mais no seu núcleo histórico do que na forma da obra per se.
1 O facto de «Mensagem» ter recebido um prémio por parte de um órgão cultural oficial do Estado Novo, aliado à amizade entre Pessoa e Ferro, tem gerado alguma controvérsia por entre os círculos académicos, pois há quem o aproxime à ideologia do regime. Pessoa, no entanto, deixara clara a sua oposição ao nacionalismo de Salazar. Basta, aliás, estudar a obra «Mensagem» para perceber que a sua conceção de nacionalismo era de carácter místico, já que a realidade do século XX estava estagnada e não satisfazia, nem pela mentalidade tacanha, nem pelas instituições que se encontravam em crise. Nas palavras do próprio Pessoa, “ficámos no estado vil de inteligência, servil e mimético” 3.
References:
2 Pessoa, Fernando. Pessoa responde ao inquérito «Portugal, Vasto Império». Disponível em: http://multipessoa.net/labirinto/portugal/14
3 idem
Pessoa, Fernando. Sobre Portugal. Lisboa: Ática, 1978.
Coelho, Jacinto Prado. Dicionário de Literatura. 2º Volume. Porto: Figueirinhas, 1987