Dados biográficos
Nome: Jean-Arthur Rimbaud
Nascimento: 20 de outubro de 1854 (Charleville, França)
Morte: 10 de novembro de 1891 (Marseille, França)
Filiação: Frédéric Rimbaud, Vitalie Cuif
Movimento literário: Simbolismo
Arthur Rimbaud, um dos mais importantes precursores do simbolismo francês, foi um poeta que nos legou uma poesia riquíssima em símbolos e repleta de musicalidade. A sua obra, que cristaliza o imaginário prolífico de um jovem génio visionário e solitário, marcou um ponto de rutura na história da poesia francesa e influenciou toda a poesia moderna, nomeadamente o imaginário dos surrealistas.
Rimbaud nasceu em Charleville, França, no seio de uma família austera. O pai, militar, decidiu abandonar a família em 1860 depois de Isabelle, a irmã mais nova de Rimbaud, ter nascido. Deixou, assim, quatro filhos pequenos aos cuidados da mãe, Vitalie Cuif, uma mulher muito religiosa e com um temperamento bastante autoritário.
O génio e a precocidade de Rimbaud manifestaram-se muito cedo, ainda durante a infância: já cultivava o gosto pela leitura, deixava transparecer um talento especial no que dizia respeito à redação de textos, dominava a língua latina e revelava ser um aluno exemplar. Ganhou, aliás, vários prémios, nomeadamente na área da retórica, para a qual tinha uma habilidade natural. Neste âmbito, aos 15 anos, desenvolveu uma amizade especial com o seu professor de retórica, Georges Izambard, um mentor para o jovem Rimbaud. Entretanto, começou também a ler as obras de Rabelais (1494-1553) ou Victor Hugo (1802-1885) que Izambard lhe recomendara.
Por esta altura, Arthur enviou alguns dos seus poemas, como as paródias Credo in Unam ou Ophélie a Théodore de Banville (1823-1891). Nestas composições poéticas, Rimbaud traduz já a sua vontade de criar uma nova linguagem poética, nomeadamente pela opção em inverter a ordem estabelecida que os poemas originais apresentavam ou, ainda, em imprimir um cunho pessoal a histórias mitológicas.
Em agosto de 1870, ainda antes de completar 16 anos, Rimbaud, entediado por estar na província e ávido por experienciar novos meios culturais, decidiu ir para Paris, mesmo sem dinheiro. No entanto, dado que a França estava em guerra com a Prússia e que tudo era inspecionado minuciosamente, ficou detido na prisão de Mazas durante oito dias por ter viajado sem bilhete. Foi o seu professor quem o foi buscar.
De volta a Charleville, Rimbaud decidiu voltar a partir mas, desta vez, a pé para Bruxelas. Durante estas viagens, o jovem poeta foi sempre registando as impressões das suas viagens e escrevendo sobre os mais variados temas, imprimindo o seu olhar, a título de exemplo, sobre as classes sociais mais pobres, ou sobre questões políticas.
No ano seguinte, a agitação e o caos em Paris faziam-se sentir significativamente. Contudo, primeiro com a capitulação oficial da capital francesa e depois com a implantação da Comuna de Paris, o panorama político mudava e Rimbaud, feliz e exaltado, apercebia-se da possibilidade de que a justiça poder-se-ia aplicar a todos. Esta exaltação inspirou-o a escrever, por exemplo, o poema Chant de guerre parisien.
Novamente em Paris, travou conhecimento com Paul Verlaine (1844-1896) e participou em alguns dos debates dos poetas zutistas, afirmando a sua audácia intelectual.
Em agosto de 1871, Rimbaud enviou um outro poema a Banville. Intitulado Ce qu’on dit au poète à propos des fleurs, esta sátira feroz convida os poetas a renovar as suas temáticas, a repensar as suas inspirações. Rimbaud afirmava, assim, os seus ideais estéticos revolucionários.
Entretanto, a sua via errante e boémia tornava-se mais intensa ao lado de Verlaine, com quem, na verdade, mantinha uma relação amorosa: frequentavam livrarias e teatros, inebriavam-se com bebidas alcoólicas fortes e com vapores de absinto e fumavam haxixe.
Em 1872, ambos tomaram a decisão de abandonar tudo e todos e partir para Bruxelas e, depois, para Londres. Deslumbrados, embora quase sem dinheiro, absorviam cada impressão que a capital inglesa lhes proporcionava. Viam o mar pela primeira vez. Sentiam-se livres. É neste contexto que nascem parte das Illuminations que Rimbaud escrevera. Nestes textos singulares, recheados de ritmos e sonoridades, o poeta presenteia-nos tanto com belas descrições de um universo moderno e urbano, tanto com imagens de um mundo que ostenta a sua beleza natural. Ainda noutros textos, Rimbaud faz-nos mergulhar no mundo da infância, num mundo feérico. De salientar ainda que as perceções visuais e auditivas mescladas pelos sentidos do poeta oferecem aos leitores mais imaginativos verdadeiros quadros impressionistas, recheados de hipálages e sinestesias.
A sua relação com Verlaine, no entanto, começava a deteriorar-se. Depois de várias separações e reconciliações, que duraram alguns meses, envolveram-se em querelas sérias, muitas vezes com facas e armas. De facto, Verlaine chegou a ferir Rimbaud quando este decidira voltar para Paris sem ele, o que fez com que o primeiro fosse detido devido à denúncia do último.
Nestes meses, Rimbaud começara já a redigir partes do livro que intitularia Une saison en Enfer, obra que o próprio publicou. Terminou-o em 1874, em Charleville, trancado no sótão, isolado do mundo e fechado com o seu rancor, o seu choro compulsivo e gritos de cólera. Une saison en Enfer é composto por vários textos em prosa que, dirigidos a Satanás e em tom de confissão, deixam ressaltar todo um furor e desespero selvagens. Apresenta, também, uma unidade complexa temática, visto que Rimbaud oscila entre vários estados de espírito, salta de imagem em imagem, traduzindo os seus versos, deste modo, um constante abismo de emoções.
Em 1873, o jovem poeta partiu novamente para Paris. No entanto, não foi bem acolhido pelos amigos, pois, na perspetiva destes, tinha condenado Verlaine à prisão. Ansioso e perturbado, foi depois para Londres e, posteriormente, voltou a Charleville. Partia para (se) esquecer. Na verdade, quase até à sua morte, em 1891, Rimbaud viajou imenso pela Europa, muitas das vezes a pé. Também conheceu alguns países africanos, que o deslumbraram e, para acalmar as necessidades financeiras, praticou vários ofícios. Em 1884, foi mesmo tentado pela aventura do tráfico de armas.
Em 1891 voltou para França devido a um tumor no joelho que o atormentava e que seria a causa da sua morte. Faleceu nesse mesmo ano, em novembro, aos 37 anos.
References:
Darcos, Xavier. Histoire de la littérature française. Paris: Hachette, 1992
Dufaud, Marc. Dictionnaire Fin de Siècle – Zutistes, Jemenfoutistes, tout l’univers des dandys décadents. Paris : Scali, 2008