A Geração de 70, também designada Geração de Coimbra, diz respeito a um grupo de intelectuais que operou em Portugal uma profunda revolução literária e cultural no final do século XIX.
O grupo, numa primeira fase, foi formado por Antero de Quental, Eça de Queirós e Oliveira Martins. Mais tarde, juntaram-se outros nomes proeminentes da literatura, como foi o caso de Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga, Jaime Batalha Reis e Guilherme de Azevedo.
Atentos, visionários e dotados de um excelente espírito crítico, os membros desta geração, que estavam em permanente contacto com as mais recentes correntes literárias, científicas e filosóficas da Europa, começaram a ganhar voz e a agitar consciências no âmbito dos círculos académicos de Coimbra, nos anos 60. É justo, contudo, afirmar que o mentor desta geração foi Antero de Quental, que desde logo afirmara as suas ideias revolucionárias e tentara ferverosamente combater, a título de exemplo, o despotismo universitário. Deste modo, constituiu uma associação secreta, a Sociedade do Raio, com a finalidade de destituir o reitor da Universidade de Coimbra.
Já o grupo, no seu todo, destacou-se sobretudo pela sua reação ao romantismo. Efetivamente, esta corrente estético-literária, através das palavras de Alexandre Herculano ou de Almeida Garrett, valorizava uma atitude de espírito nostálgica e melancólica e manifestava uma enorme atração pela expressão dos sentimentos. Na perspetiva dos intelectuais da Geração de 70, afigurava-se urgente travar um movimento que se revestia de uma significativa limitação no que dizia respeito aos problemas que o país atravessava na altura.
Neste sentido, os objetivos dos intelectuais de 70 passaram precisamente por libertar a cultura e a literatura portuguesas desse romantismo desvirtuado, preconizando, por seu turno, profundas transformações na ideologia política e na estrutura social portuguesa. Servindo-se, então, da literatura como arma, estes autores produziram um vasto legado, uma obra inestimável nos diversos domínios da sua intervenção. Podem-se apontar, por exemplo, as «Odes Modernas», da autoria de Antero de Quental, pois simbolizam o triunfo desta nova geração intelectual sobre a pequenez provinciana, a produção literária de Eça de Queirós, que constitui uma sábia crítica de costumes da sociedade portuguesa e marca uma nova doutrina estética (o Realismo), ou ainda os panfletos satíricos de Guerra Junqueiro, também importantes na medida em que representam a nova escola poética, estruturada pelo pensamento revolucionário.
A insatisfação e o inconformismo do grupo foram tais que também se materializaram na chamada Questão Coimbrã, polémica literária que não só envolveu a correspondência e a troca de panfletos algo corrosivos entre as diferentes escolas literárias de Lisboa e de Coimbra, como também um duelo de espadas entre Antero de Quental e Ramalho Ortigão.
Mais tarde, os membros da geração de 70 passaram a reunir-se apenas na capital, onde formaram o Cenáculo Lisboeta, e, posteriormente, organizaram as célebres Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, as quais, ainda com bastante impacto no país, espelharam o culminar das ideias desta geração.
Numa fase final, já após o governo ter proibido a realização destas tertúlias, o grupo dispersou um pouco, mas os elementos que ainda se encontravam para jantar e discutir os mais variados temas passaram a designar-se “Vencidos da Vida”.