Devido ao dom de trovar dos provençais, nascido na França no inicio do século XII, surgiu a arte trovadoresca galego-portuguesa. Através da arte da “canso” e também do “fin´amor”, os trovadores, definiram os seus modelos e padrões artísticos e culturais que se tornaram dominantes nas cortes e casas aristocráticas europeias. A lírica galego-portuguesa, divulgada através de cantigas, contava com textos de assunto profano e religioso, com origem tradicional, e tinham uma função lúdica, social e moralizadora. É considerada um dos patrimónios literários mais ticos da Idade Média na Península Ibérica. Foram produzidas cantigas medievais durante 150 anos, desde o século XII até ao século XIV, e situavam-se em Portugal e Espanha sendo contemporâneas da Reconquista Cristã, que deixou diversas marcas na lírica galego-portuguesa.
O Galego-Português era a língua falada na faixa ocidental da Península Ibérica até meados do XIV. Derivado do Latim, surgiu progressivamente como uma língua distinta anteriormente ao século IX, no noroeste peninsular. Neste sentido, poderemos dizer que, mais do que designar uma língua, a expressão Galego-Português designa concretamente uma fase dessa evolução, cujo posterior desenvolvimento irá conduzir à diferenciação entre o Galego e o Português atuais.
Há no total três grandes cancioneiros (livro que contém as cantigas): o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Biblioteca Vaticana. Podemos dividir as cantigas também em três géneros: cantigas de amor, cantigas de amigo e cantigas de escárnio e maldizer. Da mesma época e também em língua galego-portuguesa, surgiram as Cantigas de Santa Maria, que reúnem um conjunto de 420 cantigas religiosas, mas como pertencem a uma tradição cultural bem distinta, não é referida juntamente com os três Cancioneiros referidos anteriormente.
As cantigas de amor, cantadas por uma voz masculina, essencialmente sentimental, que canta a beleza e as qualidades de uma senhora inatingível e imaterial, e a correlativa “coita” (sofrimento) do poeta face à sua indiferença ou face à sua própria incapacidade para lhe expressar o seu amor.
Considerava-se cantiga de amigo aquela que fosse cantada em voz feminina, desta forma, a voz feminina que os trovadores e jograis fazem cantar nestas composições remete para um universo definido quase sempre pelo corpo erotizado da mulher.
Por fim, as satíricas cantigas de escárnio e maldizer, tratavam-se, de qualquer forma, e na esmagadora maioria dos casos, de uma sátira pessoalizada, ou seja, dirigida a uma personagem concreta, cujo nome, de resto, surge geralmente referido logo nos primeiros versos da composição, onde o riso e a crítica social eram um aspeto fundamental.
Base de dados das Cantigas Galego-Medievais:
http://cantigas.fcsh.unl.pt/index.asp