Alegoria (do grego αλλος, allos, “outro”, e αγορευειν, agoreuein, “falar em público”, pelo latim allegoria) é um termo que designa uma figura de estilo utilizada nas artes visuais e na literatura para expressar ideias abstractas e/ou sentimentos. Trata-se de expressar um pensamento ou conceito por meio de uma ou várias imagens (ou metáforas), com as quais se passa de um sentido literal a um sentido figurado ou alegórico.
Uma alegoria pode entender-se como uma temática artístico ou uma figura literária utilizada para simbolizar uma ideia abstracta a partir de recursos que permitem representá-la, seja apelando a indivíduos, animais ou objectos.
O conceito de alegoria embora seja parecido com o símbolo, distingue-se dele; enquanto na relação simbólica o elo entre a imagem e sua significação é directa e clara. Por exemplo, a Justiça é representada por uma figura feminina com os olhos vendados e com uma espada na mão direita e uma balança na mão esquerda.
Para que se constitua uma alegoria, não basta a sobreposição ou um “acúmulo” de conceitos. A alegoria deve garantir a unidade dos elementos visuais, gerando uma imagem ao mesmo tempo impactante e coerente.
Retomando o exemplo da justiça: para compor sua representação alegórica, não seria suficiente colocar a mulher, a venda, a espada e a balança, uma ao lado da outra. É preciso haver um “encaixe” que dá sentido não apenas lógico, mas também visual à cena.
As alegorias são imagens de difícil interpretação, porque articulam de modo subtil elementos que precisam ser decifrados um a um e, ainda, confrontados entre si. Para os poetas do romantismo, a alegoria é uma forma prolixa de tradução de conceitos em imagens, excessivamente aberta e forçosa.
Nas artes plásticas, a alegoria é uma forma de representação das imagens que produz uma narrativa, mostrando algo para significar outra coisa.
A alegoria já era conhecida como figura de retórica pelos antigos gregos e romanos. Na Grécia antiga, os filósofos fizeram da interpretação alegórica das entidades mitológicas uma maneira de comunicar; através de exemplos, sua perspectiva ética.
Os conceitos de “alegoria”, “iconografia” e “iconologia” se transformaram no mundo ocidental com o passar do tempo, através da representação de atributos e de imagens, nas narrativas alegóricas exploradas em pinturas ou esculturas.
Desde a Antiguidade, artistas, poetas e oradores utilizaram códigos para explorar aspectos de figuras lendárias e de seus emblemas, identificando deuses, semideuses e heróis. Na obra “La producción artística frente a sus significados”, o autor Nicos Hadjinicolaou explicitou que, no final do século XVI, o termo “iconologia” designava um sistema de regras para a representação de alegorias e narrativas pictóricas ou escultóricas, baseado em conceitos universais (HADJINICOLAOU, 1981).
Uma alegoria pode ser de três tipos diferentes: natural ou físico – quando representa elementos da natureza (a Noite, a Primavera); moral – se representa uma ideia ou um valor moral (a Justiça, a Virtude); histórico – quando tem por objecto fatos ou pessoas reais.
Formas e personagens alegóricos acompanharam a história das artes visuais desde os primórdios, da Grécia clássica à arte contemporânea, e a sua utilização continuará a ser um recurso contaste dos artistas presentes e futuros, na criação artística.
References:
CALDERÓN, Demetrio Estébanez. Diccionario de términos literarios. Madrid: Alianza Editorial, 1999.
CHASTEL, André. Arte italiana. Tradução Antônio de Pádua Panesi. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Walter Benjamin. Os cacos da história. 2.ed. Tradução Sônia Salzstein. São Paulo: Brasiliense, 1993.
HADJNICOLAOU, Nikos. La produción artística frente a sus significados. México: Siglo Veintiuno, 1981.
PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Texto Mário Barata, Lourival Gomes Machado, Carlos Cavalcanti et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
SAMICO, Gilvan. Do desenho à gravura. Curadoria Ronaldo Correia de Brito; texto Ivo Mesquita, Ronaldo Correia de Brito. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2004.