Aldous Huxley é, sem dúvida, um dos nomes incontornáveis da literatura inglesa do século XX, sobretudo devido ao espírito visionário que deixa transparecer nas obras «Admirável Mundo Novo» (1932) e «Portas da Perceção» (1954).
Huxley nasceu a 26 de julho de 1894, em Surrey, Inglaterra, no seio de uma família aristocrata e intelectual. O seu avô, Thomas Henry Huxley, fora um biólogo notável, pois contribuíra para a defesa da teoria da evolução de Charles Darwin (1809-1882) e sua mãe era sobrinha do poeta e crítico literário Matthew Arnold (1837-1901).
Assim, ao herdar esta osmose científica e literária, o jovem Aldous Huxley começava já a traçar o seu caminho. Muito se esperava do seu génio, mas alguns acontecimentos traumáticos deixam-lhe marcas profundas: a morte da mãe, o suicídio do seu irmão e, dois anos mais tarde, quase que fica cego devido a uma grave infeção ocular. As suas palavras na obra de carácter autobiográfico «Sem olhos em Gaza» (1936) ilustram bem o sofrimento e a angústia que experienciara nesse período conturbado da sua vida.
Em 1916, logo após ter concluído a licenciatura em Literatura Inglesa, é publicada a sua primeira coletânea de poemas, «The Burning Wheel», seguida de «Jonah» (1917), «The Defeat of Youth» (1918) e «Leda» (1920) que assinalam a influência do romantismo e simbolismo francês. Muitos dos poemas abordam temas como a música, a arte, o idealismo vs. realismo, ou luz e escuridão, revelando já o interesse que viria a desenvolver pelo misticismo.
Considerado inválido para prestar serviço militar, decide ir trabalhar para uma quinta, onde conhece não só a sua futura esposa, Maria Nys, mas também figuras emblemáticas da literatura como Bertrand Russel (1872-1970) ou D. H. Lawrence (1885-1930). Pela mesma altura, começa a escrever para variadas revistas.
É, então, em 1920, que publica a sua primeira coleção de contos, «Limbo» e, no ano seguinte, o seu primeiro romance, «Férias em Crome» (1921). Nele, Huxley satiriza os sues contemporâneos intelectuais e, particularmente, a etiqueta vitoriana. Também o livro que se seguiu, «Antic Hay» (1923), reflete essa mesma mentalidade da Inglaterra do pós-guerra. Ainda por apresentar ideias libertinas sobre sexo, os seus exemplares foram queimados no Cairo e censurados na Austrália.
A partir de 1923, Huxley começa a viajar pela Europa e vai viver para Itália e, posteriormente, para França. Escreve «Along the Road – Notes and Essays of a Tourist» (1925), contribuindo, assim, também para o género “literatura de viagens”. Seguem-se as obras «Those Barren Leaves» (1925), a qual combina ceticismo com misticismo, e «Contraponto» (1928), “romance de ideias” no qual Huxley oferece, uma vez mais, uma sátira aos (inférteis) meios intelectuais da época.
Entre setembro de 1925 e junho de 1926, Huxley visita a Índia e, depois, os Estados Unidos, o que proporciona a ideia de escrever uma sátira sobre as consequências do capitalismo e dos avanços científicos que ameaçam a essência do ser humano. Neste sentido, nasce o célebre «Admirável Mundo Novo» (1932), uma obra fundamental que, juntamente com «1984» de George Orwell, tornou-se um dos pilares da literatura distópica.
Em 1934 publica «Beyond the Mexique Bay» e, em 1936, o já referido «Sem olhos em Gaza”.
Quando Huxley decide ir morar para os Estados Unidos, em 1937, a sua carreira atinge o auge. No entanto, é por esta altura que opta por mergulhar numa fase espiritual e mística, renunciando a qualquer convenção social. Por outras palavras, se nos anos 20 Huxley estava preocupado com o absurdo da vida, nos anos 30 foca-se em descobrir o sentido da vida. «Ends and Means» (1937) assinala, deste modo, o início da sua etapa mística, na qual permanecerá até ao fim dos seus dias. Entretanto, em 1954, depois de uma fase em que escrevera roteiros cinematográficos para Hollywood, é publicada a obra «Portas da Perceção», expoente máximo dos seus encontros espirituais com a mescalina e com o LSD e que influenciou bastante os anos 60, nomeadamente os escritores da beat generation e a banda The Doors.
Pouco antes de Huxley publicar o seu penúltimo romance, «The Genius and the Goddess» (1955), a sua esposa morre. Casa-se no ano seguinte com Laura Archera, uma psicoterapeuta e, dois anos mais tarde, Huxley oferece ao público leitor um «Regresso ao Admirável Mundo Novo» (1958), no qual constata que a sociedade descrita em «Admirável Mundo Novo» está, afinal, cada vez mais perto de se tornar realidade.
O seu último romance, talvez o mais pessimista de todos, «Ilha» (1962), apresenta-nos Pala, uma ilha muito peculiar que, caracterizada por ser um sítio idílico, corre o risco de não sobreviver devido à ganância e inveja do mundo circundante.
No seu leito de morte, a 22 de novembro de 1963, Huxley pede à sua esposa que lhe administre duas injeções de LSD e que lhe leia passagens d’ «O Livro Tibetano dos Mortos».
References:
Bradshaw, David “Aldous Huxley (1894-1963) ”. In Brave New World. London: Penguin, 1994