Alberto Caeiro foi o primeiro do célebre trio de heterónimos (Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos) a ser criado por Fernando Pessoa.
Segundo este último, Caeiro “nasceu em Lisboa, em 1889 e morreu em 1915, mas viveu quase toda a sua vida no campo, com uma tia-avó idosa, porque tinha ficado órfão de pais cedo. Era louro, de olhos azuis. Como educação, apenas tinha tirado a instrução primária e não tinha profissão.” 1
No entanto, mesmo sendo o menos culto de todos, Caeiro é o Mestre do próprio Fernando Pessoa, assim como dos restantes heterónimos, na medida em que recusa qualquer pensamento metafísico ou filosófico e prega, ao invés, a perceção direta das coisas, sem abraçar qualquer tipo de filosofia. Deste modo, liberta o seu “criador” da excessiva introspeção, ou da dor de pensar, que tanto o angustia.
Caeiro apresenta-se como um simples “Guardador de Rebanhos”, metáfora que ilustra como o poeta apenas se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade com a qual contacta a todo o momento. Neste sentido, deambula espontaneamente pelo espaço rural, descrevendo a beleza do campo e construindo uma poesia das sensações.
Sendo o poeta do olhar, vê as coisas como elas são, sem lhes atribuir qualquer tipo de significados ou sentimentos humanos e, assim, vive em plenitude e felicidade com a Natureza.
Características da poesia de Alberto Caeiro ao nível da linguagem, do estilo e da estrutura:
- linguagem/escrita simples;
- presença de máximas e aforismos;
- predomínio do Presente do Indicativo;
- adjetivação escassa;
- predomínio das comparações, das metáforas, das anáforas e dos polissíndetos;
- predomínio do verso branco (ausência de rima), a estrutura métrica é irregular e a estrutura estrófica é livre.
Temáticas presentes na poesia de Alberto Caeiro:
- deambulismo (deambular pelo espaço rural, observando o ambiente natural que o rodeia);
- bucolismo (a sua poesia descreve e exalta a beleza da Natureza);
- sensacionismo (preferência pelas sensações que se sobrepõem ao pensamento);
- rejeição do pensamento abstrato e intelectualização;
- observação objetiva da realidade;
- integração, comunhão e harmonia com os elementos naturais e afastamento social;
Versos ilustrativos de Alberto Caeiro em «O Guardador de Rebanhos»:
- “Pensar incomoda como andar à chuva”
- “Pensar é estar doente dos olhos”
- “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…”
References:
1 Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, de 13 de Janeiro de 1935, in Correspondência 1923-1935, ed. Manuela Parreira da Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 1999.
Caeiro, Alberto. Poesia de Alberto Caeiro. Lisboa: Assírio e Alvim, 2014
Zenith, Richard. Fotobiografias do Século XX – Fernando Pessoa. Maia: Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2003