O termo “tradução” comporta em si vários significados, na medida em que se pode referir à área de estudos da mesma, ao produto final, ou seja, ao texto já traduzido, ou, por último, ao processo per se. O processo que envolve a atividade da tradução, ou seja, a ação de “traduzir” (do latim traducere, que significa “conduzir além”, “transferir”) envolve, em sentido lato, uma operação de transferência linguística de um texto de partida para um texto de chegada.
Oriunda já de tempos imemoriais 1, e até referida no famoso mito da Torre de Babel2, na Bíblia, a tradução tem estado sempre presente na vida do ser humano desde que existe contacto entre falantes de diversas línguas. Neste sentido, existe, hoje um dia, um vasto corpus de textos de autores provenientes do campo do pensamento que teorizaram os seus vários aspetos. Um deles, ainda bastante discutido no presente, orbita em torno da questão se a tradução deve ser literal (que segue palavra por palavra o texto original), ou se deve ser livre (que adapta o sentido), distinção (e problemática) que fora primeiramente estabelecida por Cícero (106 a.C. – 43 a.C.) e por Horácio (65 a.C. – 8 a. C.). Para ambos, a ênfase devia ser colocada no texto de partida, isto é, o tradutor devia optar por uma tradução literal. É claro que, dado o contexto cultural da época, esta posição fazia todo o sentido, já que o objetivo era o enriquecimento da língua latina.
Já São Jerónimo (347 d.C. – 420 d.C.), o padroeiro dos tradutores, optara por traduzir o sentido da Bíblia para o latim3, pois, considerado o contexto religioso, o importante era aproximar as pessoas da palavra de Deus. Mais tarde, no século XV, Martinho Lutero (1483 – 1546) revolucionou a história da tradução e da religião cristão ao apresentar uma tradução (do grego para o alemão) da Bíblia totalmente inovadora. Com o objetivo de tornar acessível a palavra divina a todos, Lutero focou-se no estilo e no sentido do texto.
Como referido anteriormente, o debate relativo à tradução literal e à tradução livre nunca deixou de estar presente nos círculos de tradutores. Desde o século XX, contudo, novas teorias e novos conceitos começaram a ser debatidos e vários campos, como os Estudos Linguísticos, os Estudos Culturais, a Literatura Comparada, ou a Filosofia, adquiriram um considerável interesse pelos Estudos de Tradução, o que comprova que a tradução convoca, de facto, um universo plural epistemológico.
O papel do tradutor, os textos técnicos, os glossários e a tradução automática também têm sido assuntos bastante debatidos. Na verdade, a maioria dos tradutores não trabalha com textos literários, o que requer o desenvolvimento de capacidades específicas como, por exemplo, saber quais as convenções de determinados textos técnicos em diferentes países, ou a especialização numa determinada área, como Direito, Medicina, ou Mecânica.
Já a tradução automática revela ser uma ajuda extra para o tradutor, nomeadamente no que diz respeito a textos técnicos. No entanto, o mesmo não acontece quando estão em causa textos literários, devido à variedade lexical que apresentam, ou ao estilo peculiar do autor.
Neste sentido, o modus operandi do tradutor jamais se poderá limitar aos programas de tradução automática, ou aos dicionários, ou até mesmo a ferramentas concetuais, independentemente do texto que traduz. Há que, efetivamente, pensar, pesquisar, perguntar, duvidar, até, para se conseguir ser uma forma de mediação riquíssima entre duas línguas e duas culturas.
1 A primeira tradução assinada, por Livius Andronicus, data do ano 240 a.C.
2 Génesis 11:1-9
3 «Vulgata»
References:
Munday, Jeremy. Introducing Translation Studies. Theories and Applications. New York: Routledge, 2008