A sinédoque (do grego συνεκδοχή, synekdokhé, que significa “compreensão de várias coisas ao mesmo tempo”) é um recurso expressivo que consiste na transferência de significado de um vocábulo para outro, numa relação que toma a parte pelo ou o todo pela parte.
Neste sentido, e atuando ao nível da semântica, a sua utilização requer uma escolha de palavras coerente, que assente nos princípios da lógica, e que vise, portanto, oferecer ao segmento frásico uma simbiose de sentidos, ou seja, marcar a proximidade entre a entidade conceptual de um determinado vocábulo e a entidade conceptual do vocábulo que substitui.
A sinédoque é um recurso expressivo com importância crucial no que diz respeito à linguagem coloquial ou à linguagem da imprensa, pois, devido à sua vasta variedade de utilizações, permite uma mensagem breve ao invés de uma extensa listagem de, por exemplo, todos os membros do parlamento ou de uma equipa de futebol. Por outras palavras, a sinédoque, em vez de enumerar os vários aspetos de uma ideia, antes capta a sua essência.
Este recurso expressivo também permite que os jornalistas, ou os falantes de uma determinada língua, coloquem mais ênfase nas várias partes de um todo, destacando, assim, a importância destas ao substituí-las pelo todo.
Vários exemplos de sinédoques que ocorrem na linguagem coloquial e na linguagem de imprensa:
- a parte pelo todo: “Eles ficaram sem teto.” (uma parte da casa, o teto, remete para a casa inteira);
- a parte pelo todo: “A Maria está no hospital. Ela está em boas mãos.” (uma parte de todos aqueles que trabalham no hospital, as mãos, remete para uma equipa inteira de médicos, enfermeiros, assistentes…)
- o todo pela parte: “O país é analfabeto.” (o país, no seu todo, remete para um número considerável de cidadãos que apresentam elevadas taxas de analfabetismo);
- o todo pela parte: “O Ministério da Educação anunciou novas medidas curriculares.” (o Ministério da Educação, no seu todo, remete para os indivíduos específicos desta identidade que anunciaram a nova medida).
Relativamente à literatura portuguesa, Luís de Camões foi um dos poetas que mais recorreu a este processo estilístico, o qual não só evidencia a sua erudição, como também se constitui enquanto uma forma de expressão adequada à narrativa épica e ainda concorre para auxiliar o esquema rimático. Vejam-se o seguinte exemplo d’ «Os Lusíadas», extraído do canto primeiro:
- “A armas e os barões assinalados / Que da Ocidental praia lusitana” (neste verso, toma-se a parte, a praia, pelo todo, Portugal).
Um outro exemplo pode encontrar-se, também, na obra «Memorial do Convento», de José Saramago:
- “ (…) fica com o seu pão garantido quem souber de artes de pedreiro.” (nesta passagem, toma-se a parte, o pão, pelo todo, o sustento).
Nota 1: Não confundir a sinédoque com a metáfora, na medida em que a primeira é apreendida mediante a relação lógica de extensão ou de redução que os vocábulos estabelecem entre si e o contexto em que ocorrem e a segunda, por sua vez, é de teor comparativo.
Nota 2: A sinédoque funciona como uma extensão da metonímia, no sentido em que a última manifesta mais modalidades de contiguidade. Alguns estudiosos e académicos, aliás, já não estabelecem uma distinção entre estes dois recursos expressivos. Por se revelar mais abrangente, é o conceito de metonímia que prevalece sobre aquele da sinédoque.