A metonímia (do grego μετωνυμία, metonymía, que significa “mudança do nome”) é um recurso expressivo que consiste no emprego de um determinado vocábulo em vez de um outro, com o qual estabelece sempre uma relação de afinidade, ou de contiguidade.
Neste sentido, e atuando ao nível da semântica, a sua utilização requer uma escolha de palavras que assente no princípio da lógica e que vise, portanto, oferecer ao segmento frásico uma simbiose de sentidos, ou seja, marcar a proximidade entre a entidade conceptual de um determinado vocábulo e a entidade conceptual do vocábulo que substitui.
No que diz respeito à linguagem coloquial e à linguagem da imprensa, a metonímia manifesta várias modalidades de contiguidade, a saber:
- a parte pelo todo: “Eles ficaram sem teto.” (uma parte da casa, o teto, remete para a casa inteira);
- o todo pela parte: “O país é analfabeto.” (o país, no seu todo, remete para um número considerável de cidadãos que apresentam elevadas taxas de analfabetismo);
- o singular pelo plural: “O inimigo cercou o país.” (o inimigo remete para os inimigos, na forma plural);
- a marca pelo produto: “ Ela tem bastantes ” (a marca remete para qualquer recipiente de plástico usado para acondicionar alimentos);
- o autor pela obra: “Adoro ler Gonçalo M. Tavares.” (o nome do autor remete para a totalidade das suas obras literárias);
- o continente 1 pelo conteúdo: “Ele bebeu vários copos de vinho.” (os copos remetem para o seu conteúdo, ou seja, o vinho);
- a consequência pela causa: “Premiaram-lhe ontem o trabalho.” (o trabalho remete para a pessoa que foi premiada);
- o abstrato pelo concreto: “A caridade ajudou bastantes pessoas.” (um conceito abstrato, “caridade”, remete para as pessoas que possuem este atributo e que auxiliaram outras);
- a espécie pelo indivíduo: “O Homem é um animal racional” (a espécie remete para todos os seres que dela fazem parte);
- o edifício pela(s) pessoa(s): “Casa Branca desmente o ataque à Síria.” (a residência oficial do presidente dos Estados Unidos e sede oficial do poder executivo remete para o próprio presidente e/ou para outros membros do governo).
Relativamente à literatura portuguesa, Luís de Camões foi um dos poetas que mais recorreu a este processo estilístico, o qual não só evidencia a sua erudição, como também se constitui enquanto uma forma de expressão adequada à narrativa épica. Vejam-se os seguintes exemplos d’ «Os Lusíadas»:
Cum alvoroço nobre e cum desejo
(Onde o licor mestura a branca areia
Co salgado Neptuno e doce Tejo”
Canto IV
Nesta estrofe, o deus “Neptuno” substitui o espaço que domina, ou seja, o mar.
Vendo Vasco da Gama que tão perto
Do fim de seu desejo se perdia (…)
Chama aquele remédio santo e forte
Que o impossível pode, desta sorte”
Canto VI
Nesta estrofe, Camões optou por substituir a vontade de Deus, ou a Divina Providência, pela consequência que a sua intervenção tem para os homens, ou seja, um “remédio santo e forte”. 2
Nota 1: Não confundir a metonímia com a metáfora, na medida em que a primeira é apreendida mediante a relação lógica que os vocábulos estabelecem entre si e o contexto em que ocorrem e a segunda é de teor comparativo.
Nota 2: A sinédoque, recurso expressivo que consiste em exprimir o todo pela parte ou a parte pelo todo, funciona como uma extensão da metonímia, no sentido em que um vocábulo de extensão menor substitui um outro de extensão maior e vice-versa. Alguns estudiosos e académicos, aliás, já não estabelecem uma distinção entre estes dois recursos expressivos. Por se revelar mais abrangente, é o conceito de metonímia que prevalece sobre aquele da sinédoque.
1 “Continente”, neste contexto, significa “a parte exterior”, como é o caso de uma embalagem, ou de um recipiente.
References:
2 metonímia in Artigos de apoio Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2001-2018. Disponível em: https://www.infopedia.pt/$metonimia
Camões, Luís de. Os Lusíadas. Porto: Porto Editora, 1996