O discurso indireto livre é uma operação enunciativa na qual a voz do narrador e a voz de uma determinada personagem se (con)fundem, ou seja, é como se ambos falassem em uníssono, sem quaisquer marcas que indiquem a separação da expressão do narrador e da expressão da personagem e, neste sentido, o discurso indireto livre pode ser caracterizado como uma junção dos tradicionais discurso direto e discurso indireto.
Deste modo, o discurso indireto livre marca sempre a atitude do narrador quanto às personagens, sendo que essa atitude pode variar, por exemplo, entre uma certa ironia expressa e uma simpatia nutrida por parte do narrador.
As características deste tipo de enunciação costumam apresentar a utilização da terceira pessoa, um enunciado livre de subordinação sintática, o que a aproxima ao discurso direto, e transposições das dêixis pessoal, temporal e espacial, que, por sua vez, a aproxima ao discurso indireto.
Eça de Queirós foi um dos escritores que mais cultivou esta técnica com o objetivo de imbuir o texto com uma riqueza de sentido.
Exemplo: “O poeta sorria, passando os dedos com complacência pelos longos bigodes românticos que a idade embranquecera e o cigarro amarelara. Que diabo, algumas compensações havia de ter a velhice! Em todo o caso o estômago não era mau, e conservava-se, caramba, filhos, um bocado de coração.”
Eça de Queirós in “Os Maias”