Cantiga de Amigo

Definição e apresentação das características das “Cantigas de “Amigo”

A cantiga de amigo, a par da cantiga de amor e da cantiga de escárnio e maldizer, é um género pertencente à lírica galego-portuguesa, a qual floresceu em finais do século XII no Ocidente da Península Ibérica. É designada de “amigo”, porque, na maior parte destas composições poéticas, a palavra “amigo” adquire a conotação de “pretendente”, “namorado” ou “amante”.

 Este tipo de cantiga, que teve origem no noroeste peninsular e era destinado a ser cantado, apresenta várias características que a diferenciam das outras duas: o emissor, ou o sujeito poético [1], é uma jovem donzela de origem popular que, normalmente apaixonada e/ou saudosa, exprime os seus sentimentos ou expõe os incidentes relativos à sua vida amorosa.

Neste sentido, a donzela tanto pode enunciar as suas tentativas de sedução do amigo, bailando e cantando, como fazer alusões aos seus encontros com ele. Em contrapartida, noutras composições poéticas, a jovem revela-se profundamente desolada devido à ausência do seu amado, pois, frequentemente, este tinha de partir para uma batalha ou simplesmente prestar serviços ao seu senhor. Ainda noutras cantigas, o pano de fundo assenta na angústia que a donzela sente pela indiferença do amigo, ou até na sua indignação, proveniente das mentiras ou traições do mesmo.

Como referido anteriormente, estas raparigas eram oriundas de um meio rural. Deste modo, as cantigas de amigo apresentam normalmente um cenário natural, o qual contempla, além de árvores e flores, fontes e rios. Estes locais eram, na verdade, ideais para o casal se encontrar, já que ficavam distantes de olhares indiscretos.

A natureza, no entanto, também assume o papel de confidente da donzela, escutando e, por vezes, respondendo às suas interpelações. Para além da natureza, a jovem também pode ter como confidentes as amigas, ou, por vezes, a própria mãe.

No que diz respeito à estrutura formal destas cantigas, a sua maior parte comporta um refrão, ou seja, um verso que se repete sempre no final de cada estrofe ao longo de toda composição poética. Tradicionalmente, apresentam ainda uma paralelística, isto é, uma unidade rítmica a cada par de estrofes. Relativamente a este par, ambos os dísticos revelam significados muito próximos, apresentando apenas pequenas variantes. Na maioria das vezes, apenas variam as palavras da rima, que são de vogal tónica «a» num dos dísticos de cada par e «i», «ê» ou «ô» no outro. Neste tipo de estrutura, o último verso do primeiro dístico é retomado no primeiro verso do segundo par (3º estofe). Este processo de retoma é designado leixa-pren. Como se pode verificar na cantiga abaixo transcrita, de Martim Codax, os versos 2 e 5 são retomados, respetivamente, nos versos 7 e 10.

Quantas sabedes amar amigo,

treides comig’a lo mar de Vigo

    e banhar-nos-emos nas ondas.

Quantas sabedes amar amado,

treides comig’a lo mar levado

    e banhar-nos-emos nas ondas.

Treides comig’a lo mar de Vigo

e veeremo’ lo meu amigo

    e banhar-nos-emos nas ondas.

Treides comig’a lo mar levado

e veeremo’lo meu amado

    e banhar-nos-emos nas ondas.

Uma classificação temática (ou subgéneros) das cantigas de amigo abrange as albas, que remetem para as alvoradas, mais especificamente para o amanhecer depois de um encontro noturno entre a jovem e o seu amigo; as bailias, compostas para serem cantadas, musicadas e dançadas; as barcarolas ou marinhas, que versam temáticas relacionadas com a ausência do amado, pois o mar é muitas vezes a causa dessa separação; as pastorelas, nas quais uma pastora suspira pela ausência do amigo e as romarias, que fazem referências a capelas ou a igrejas, muitas vezes locais de encontro do casal.

Quanto à linguagem, estas cantigas apresentam um vocabulário mais simples e familiar, se comparado com aquele presente nas cantigas de amor. O campo semântico incide normalmente em cenários campestres e domésticos.

[1] Nota: não confundir o sujeito poético / emissor (uma donzela), com o autor / trovador da cantiga.

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References:

Lanciani, Giulia. Dicionário da Literatura Medieval Galega e Portuguesa. Lisboa: Caminho, 1993

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