Yasujirô Ozu (12 de Dezembro, 1903 – 12 de Dezembro, 1963), é um dos melhores e mais aclamados realizadores japoneses. Efectivamente, a maior parte das empresas de distribuição filmográfica do Japão, aquando dos primeiros filmes de Ozu, teve algum receio em divulgar os seus filmes pelo Ocidente, receando que não conseguiriam apreciar de forma justa a beleza subtil dos seus filmes, numa altura em que filmes de outros realizadores japoneses como Akira Kurosawa e Kenji Mizoguchi, ganhavam uma série de prémios em festivais internacionais. Felizmente, à medida que as distribuidoras japonesas arriscaram, o talento e o trabalho de Yasujirô Ozu pôde ser divulgado e dado a conhecer, ajudando a que actualmente seja considerado como um dos melhores realizadores de cinema em todo o mundo.
Origens e início de carreira
Yasujirô Ozu nasceu no antigo distrito de Fukagawa, em Tóquio, no ano de 1903. O seu pai era um comerciante de fertilizantes. Na escola, e em particular no ensino básico e secundário, Ozu mostrou-se ser um estudante pouco focado nos seus estudos, optando por concentrar a sua atenção em assistir a filmes. Mais tarde na sua vida, Ozu afirmaria com algum orgulho o facto de ter escolhido uma sessão do filme “Prisoner of Zenda” em detrimento de estudar para o exame de admissão da faculdade. Em 1923, e após ter alguns anos como professor assistente, Yasujirô Ozu seria contratado como assistente de câmara na Produtora Cinematográfica Shochiku.
Já desde cedo, na sua carreira de cineasta, Ozu mostrava-se um aficionado por abordagens mais experimentais e idiossincráticas no seu estilo de realização, indo contra a maior parte da cultura e convenções cinematográficas do Japão e de Hollywood. Optava por um estilo mais minimalista e simples, dispensando técnicas de edição tradicionais. Tinha uma preferência por filmagens de ângulos mais baixos, utilizando lentes de 50mm, priorizando a estética visual.
Carreira cinematográfica
O seu primeiro filme seria apresentado em 1927, um filme de época, mudo, que passaria ao lado da atenção da imprensa e do público denominado “Zange no yaiba”. Mas em 1932, a sua criatividade e qualidade começaram a mostrar de si com a realização da sua comédia dramática “Otona no miru ehon – Umarete wa mita keredo” (“Eu Nasci, Mas…“). Este filme seria o seu primeiro sucesso comercial, e seria considerado como um dos melhores filmes pré-Segunda Guerra Mundial.
Já no decorrer da Segunda Grande Guerra, a sua carreira não seria tão produtiva, realizando poucos filmes, e os que acabou por realizar, mostravam-se obras que ignoravam por completo aquele conflito mundial, sendo exemplo disso “Chichi ariki” (“Ele é um Pai“).
Seria depois da guerra que Yasujirô Ozu atingiria o apogeu da sua carreira, com a realização de verdadeiras obras-primas do cinema japonês tais como “Banshun” (“Primavera Tardia“), “Bakushû” (“Verão Precoce“), “Ukikusa”, “Sanma no aji” (“O Gosto do Saké“), e aquele que é considerado o seu melhor filme e uma das melhores obras cinematográficas de sempre, “Tôkyô monogatari” (“Viagem a Tóquio“).
Características do seu trabalho
O estilo de Ozu era completamente distinto das narrativas mais fortes e musculares patentes nos contos épicos de samurais de Akira Kurosawa. Os seus filmes eram simples, contemplativos, e preenchidos de uma forte nostalgia e melancolia.
Ao longo da sua carreira, de 1927 a 1962, Yasujirô Ozu refinou e laminou o seu estilo, de forma a que os seus filmes transportassem o meramente essencial. O seu portefólio cinematográfico, composto maioritariamente por dramas familiares, apresenta uma temática inter-conexa, denotando uma coerência conceptual entre as suas várias obras. Os detalhes e características das personagens podem variar, mas todos parecem ser construídos e desenvolvidos no mesmo tipo de mundo.
As histórias de Ozu não apresentam a típica dicotomia do mau versus o bem, nem a transposição de grandes conquistas ou grandes falhas. As personagens dos seus filmes são pessoas do dia-a-dia, que levam vidas bastante simples e pacatas. Yasujirô Ozu explora o impacto dos desafios inerentes da vida nas relações de pais e filhos, seja o caso de uma filha que se mostra reticente em casar e por consequência abandonar o seu pai viúvo (“Banshun”), ou de um casal de filhos que tomam consciência da posição social modesta do seu pai (“Otona no miru ehon – Umarete wa mita keredo”). Ozu demonstra uma sensibilidade particular perante a condição humana e apresenta um trabalho baseado no estudo dos padrões da vida do dia-a-dia, combinação essa que faz com que as suas obras denotem um poder emocional raramente visto nos dramas típicos de Hollywood.
Final de carreira e morte
Já no final da sua carreira, Ozu seria criticado pelos realizadores japoneses da nova vaga cinematográfica que surgiria no final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta. Muitos destes destacariam o quão o seu estilo cinematográfico era demasiado rígido, antiquado e pouco dinâmico, ao mesmo tempo que afirmavam ser um trabalho que se recusava a abordar problemas socialmente relevantes.
No entanto, o tempo tratou de preservar o trabalho de Yasujirô Ozu, e a sua visão transcendental da humanidade teve forte influência no trabalho de uma série de realizadores ocidentais, como é o caso de Wim Wenders, Jim Jarmusch e Martin Scorsese. Ozu morreria de cancro no dia do seu aniversário em 1962.