Teatro Barroco

Definição e características do Teatro do Barroco

Oriundo do estilo barroco, que nasceu em Itália nos finais do século XVI e durou até aos meados do século XVIII abarcando em si vários campos artísticos, o teatro deste movimento artístico-cultural obteve a sua expressão máxima em Inglaterra, com as peças de William Shakespeare (1564-1616), em Espanha, com as obras de Pedro Caldéron de la Barca, (1600-1681) ou em França, por exemplo, com Pierre Corneille (1606-1684).

Dado o contexto histórico da época, pautado, por um lado, pela instabilidade política e religiosa e, por outro lado, pelos avanços da ciência, o teatro barroco deixou de incidir tanto em temas religiosos para se centrar mais no homem enquanto ser dotado de emoções variadas, ou atormentado por dúvidas existenciais.

Neste sentido, é plausível afirmar que o teatro do barroco promoveu uma rutura com as regras do teatro clássico, na medida em que, por exemplo, ao invés da análise intelectual, preferiu destacar a perceção, ou a emoção, promovendo a ilusão e privilegiando o paradoxo e a complexidade, traduzindo, deste modo, o espírito inquieto da época e um certo pessimismo existencial. A ideia de que a ilusão permite aceder à verdade está, de facto, bem patente na peça «Hamlet» (1603), de Shakespeare, nomeadamente na alusão à célebre frase “Ser ou não ser, eis a questão».

Também os jogos de ilusão entre o ser e o parecer estão presentes no paradigma do teatro barraco, mais precisamente na peça «L’Illusion Comique» (1636), de Pierre Corneille, que, ao enfatizarem a metáfora da vida enquanto teatro, mostram que há semelhanças nítidas entre aquilo que é encenado em palco e aquilo que as pessoas experienciam na vida.

Assim, uma outra característica deste teatro a nível estético incide na considerável quantidade de jogos de espelhos, uma técnica que, efetivamente, permite a ilusão de profundidade e a interseção dos vários planos, fazendo sobressair o movimento, a contradição e a antítese, passando as personagens de uma palete de sentimentos a outra. Deste modo, do ponto de vista formal, todas estas técnicas resultam na perceção de vários níveis no texto, o que, consequentemente, conduz ainda a uma introspeção sobre o próprio teatro, ou sobre o teatro dentro do teatro com um encaixe de diferentes níveis.

A visão do mundo na perspetiva do teatro do barroco tem, aliás, pontos formais a nível textual, a saber: a composição em aberto (não é exigida a regra das três unidades1, característica do teatro clássico), a dispersão da ação e a variedade dos estratos sociais das personagens. Também os géneros deste teatro não obedeciam a qualquer tipo de regras, já que eram géneros híbridos que tanto exploravam situações cómicas, como situações de cariz violento. A tragicomédia foi bastante cultivada, pois abordava temas sentimentais complexos e histórias de amor contrariadas, relacionando-se com a espetacularidade e privilegiando o disfarce, o rapto, ou as cenas de morte.

Os cenários eram sempre bastante elaborados, a música adequava-se ao texto e o guarda-roupa era pensado minuciosamente, pois outras das características deste teatro eram precisamente a extravagância, o luxo e a pompa. Importa ainda sublinhar a importância do dinamismo, da postura e do mais simples gesto das personagens em palco, quiçá para iludir e distrair o público das violentas convulsões políticas, sociais e religiosas que atacavam e afligiam este período.

 

1 Estas regras, estabelecidas por Aristóteles na sua «Poética», dizem respeito ao tempo, ao espaço e à ação.

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References:

Darcos, Xavier. Histoire de la littérature française. Paris: Hachette, 1992

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