Stanley Kubrick nasceu a 26 de Julho de 1928, no Bronx, em Nova York. Foi um realizador, produtor e argumentista e, apesar de ter tido uma carreira tecida à volta da realização de apenas treze longas-metragens nos seus setenta anos de vida, foi o suficiente para conquistar um lugar de honra e de admiração entre o público e a massa crítica. Mediante as suas obras, Stanley Kubrick cobriu uma série de géneros e temas, com realismo, sátira e uma cinematografia caraterística. Como tal, é largamente citado como um dos maiores e mais influentes mestres da indústria cinematográfica.
Muitas vezes adjetivado de obsessivo-compulsivo, megalómano, extremamente controlador, dotado de um ideal perfecionista quase doentio, Stanley Kubrick era um recluso por natureza. Maioritariamente focado na sua família e nos seus projetos, raramente dava entrevistas, não costumava marcar a sua presença em festivais ou cerimónias de entregas de prémios, e recusava falar dos seus filmes.
Primeiros passos
Kubrick deu os seus primeiros passos na carreira profissional como fotógrafo da Revista Look no final da década de quarenta, na altura com a tenra idade de 17 anos, onde acabou por obter alguma projeção e reconhecimento.
Após dar os seus primeiros passos na indústria cinematográfica mediante a realização de algumas curta-metragens, em 1953 teria a oportunidade de dirigir e produzir aquela que seria a sua primeira longa-metragem: “Fear and Desire”. Seria recebido com pouca ou quase nenhuma atenção pelo grande público. Dois anos volveriam até que realizasse a sua segunda longa-metragem, de nome “Killer’s Kiss”, que apesar de ter atraído alguma atenção por parte do público e dos críticos, a obra acabaria por ser artisticamente abafada pelas críticas “apenas razoáveis” que recaíram sobre a mesma.
Despoletar da carreira
Seria nos finais dos anos cinquenta que a sua carreira de cineasta daria um grande salto, juntando-o à lista dos cineastas mais promissores e populares da sua geração. “The Killing” seria lançado em 1956, sendo alvo de um aceitável sucesso junto das bilheteiras.
Em 1957, Kubrick conquistaria a atenção e admiração da maior parte dos críticos ao apresentar o seu trabalho intitulado de “Paths of Glory”. Rapidamente seria considerado como uma obra-prima incontestável. À popularidade do filme ajudou a colaboração com o então igualmente popular ator, Kirk Douglas. O filme apresentava um estudo aprofundado sobre a desumanização e insanidade provocadas pela guerra, denotando aquela que seria uma outra caraterística marcante do cinema de Stantey Kubrick: a vontade incessante de provocar o espetador mediante temas controversos e que obrigam o mesmo a mergulhar em diversas questões existenciais.
Em 1960, e como favor pessoal a Kirk Douglas, e na sequência de diversos problemas de produção e de consequente substituição de realizador, Stanley Kubrick teria a oportunidade de realizar o seu primeiro filme com um orçamento mais consolidado: “Spartacus”. Stanley Kubrick viria a substituir Anthony Mann, até então responsável pela realização. Devido a sucessivos problemas e desentendimentos no set de filmagens entre Mann e Douglas, que desempenhava simultaneamente o cargo de ator principal e produtor executivo, Mann seria afastado por Douglas e substituído por Kubrick. Com pouco mais de 30 anos, e com pouco a mostrar curricularmente, Kubrick seria muitas vezes desconsiderado e subestimado pelos atores principais do elenco, que contava com nomes de peso como Laurence Olivier, Charles Laughton e Peter Ustinov. Kubrick, dedicado, meticuloso e um enorme estratega, eventualmente conseguiria reverter o jogo e conquistar o respeito dos mesmos. “Spartacus” seria mesmo um desafio ao seu desejo incessante de controlo. Não estando envolvido no controlo artístico desde a sua génese, não tardariam novos desentendimentos artísticos e disputas de controlo entre o próprio Kubrick e Kirk Douglas.
Mudança para o Reino Unido
“Spartacus” seria uma lição para Kubrick, afirmando que não estaria envolvido em mais nenhum projeto em que não pudesse ter total liberdade artística e respetivo controlo. Por esta e por outras razões, acabaria mesmo por afastar-se por completo de Hollywood, e, em 1961, instalar-se-ia no Reino Unido onde acabaria por desenvolver os seus restantes projectos, e lá residiria até o final dos seus dias.
Em 1962, Kubrick apresentaria “Lolita”, aquele que seria, então, o seu primeiro trabalho oficial fora dos Estados Unidos. Baseado na polémica obra de Vladimir Nabokov, “Lolita” marcaria a sua primeira colaboração com Peter Sellers.
Deu seguimento a “Lolita” com aquele que é considerado uma das suas obra-primas por excelência: “Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb”. Mais uma vez Kubrick abordava um tema controverso e fazia questão de tocar na ferida, expondo um tema tremendamente sensível através de um estudo satírico sobre a Guerra Fria. A sua colaboração com Peter Sellers seria replicada. Sellers viria mesmo a conquistar três papéis na produção, sendo que a sua participação seria marcada por uma das raras ocasiões em que Kubrick daria espaço a um ator para improvisar.
1968 veria o nascimento daquele que é considerado a sua máxima obra-prima, e que atribuiria a Stanley Kubrick o único Óscar (surpreendentemente para a categoria de Melhores Efeitos Visuais) em toda a sua carreira. “2001: A Space Odyssey” apresentava-se como um estudo filosófico e abstrato à origem da vida e da contextualização do ser humano no universo. O aclamado e conhecido realizador Steven Spielberg muitas vezes refere-se a este filme como o verdadeiro “big bang” dos anos sessenta, que viria a influencar fortemente toda a sua geração de realizadores.
A década de 70
Em 1972, Stanley Kubrick elevaria a fasquia na sua forma de abordagem de temas controversos e provocadores com a sua obra intitulada de “A Clockwork Orange”, indubitavelmente a obra mais polémica em toda a sua carreira filmográfica. “A Clockwork Orange” descrevia uma Inglaterra futurista, tomando como pano principal um gangue de adolescentes cujas atividades lúdicas baseavam-se principalmente na violência e violação. Kubrick seria chamado a justificar a violência do seu filme. Argumentaria a violência como matéria de consciencialização social, opondo-se à ideia de gratuitidade da mesma, apontando o dedo aos desenhos animados “Tom and Jerry” como um exemplo negativo na exploração de brutalidade. No entanto, e após um atípico escalar de violência no Reino Unido, a qual foi incansavelmente associada pelos media à exibição do filme, Stanley Kubrick viria mesmo a retirar o mesmo de circulação, ordenando que o mesmo só poderia ser ali novamente exibido após a sua morte.
“Barry Lyndon” seria apresentado aos cinemas no decorrer do ano de 1975. Este filme marcaria a primeira vez que Kubrick exploraria um drama de época, mormente o século XVIII. Relata a história de um cavaleiro que viaja pelos vários campos de batalha da Europa, determinado a conquistar o seu lugar junto da nobreza, não olhando a escrúpulos, recorrendo a jogos de sedução, traição e até mesmo confrontos mortais. “Barry Lyndon” teria a particularidade de ter sido filmado totalmente sob luz natural. De modo a conseguir captar uma aura mais natural e imersa possível, especialmente em planos e cenas que envolviam espaços iluminados por velas, Stanley Kubrick teve à sua disposição lentes desenvolvidas pela Zeiss para a NASA.
Cinco anos depois, Stanley Kubrick apresentaria uma das suas obras mais populares com “The Shining”. Versátil como sempre, “The Shining” vê Kubrick a viajar por outro registo dramático, desta vez incorrendo sobre o género de terror. “The Shining”, baseado no romance homónimo de Stephen King, conta a história de um homem que é contratado como zelador de um hotel de funcionamento sazonal, que encerra no Inverno devido às fortes tempestades. Leva a mulher e filho consigo. À medida que o espetador acompanha o desenrolar do enredo, são conhecidos os poderes premonitórios da criança, ao mesmo tempo que os mesmos são intensificados e agravados com o surgimento de forças malignas existentes no hotel. “The Shining” expôs a obsessão e ideal de perfeccionismo de Stanley Kubrick. Para além da excessiva regravação de cenas, Kubrick utilizaria um total de 390.000 metros de película para um filme com meros 142 minutos de duração, perfilando uma média de 102 takes por cena, abalroando por completo a média usual de 10 takes por cena. “The Shining” seria também um marco na divulgação de uma ferramenta comumente utilizada nas produções cinematográficas atuais; o uso de Steadicam seria aplicado para um registo mais fluído e rastreado dos planos captados.
Últimos projetos
À medida que o interregno entre produções aumentava, Stanley Kubrick apresentaria o seu penúltimo projeto em 1987, sete anos após a conclusão de “The Shining”, com a realização de “Full Metal Jacket”. Controverso como sempre, Stanley Kubrick abordava os horrores e o impacto no espírito humano causado pelo cenário bélico, através de uma análise à Guerra do Vietname. Desta feita, a sua obsessão com o perfeccionismo atraiçoou-o. Em consequência de uma produção demorada, “Full Metal Jacket” não teria o sucesso desejado junto das bilheteiras, uma vez que no ano transato, Oliver Stone apresentaria o seu próprio estudo sobre a afamada guerra através de “Platoon”, ofuscando a obra de Kubrick.
Finalmente, em 1999, no ano da sua morte, e após três anos intensos de filmagens, o seu último filme seria apresentado: “Eyes Wide Shut”. O seu derradeiro filme, esperado com grande antecipação, mostrar-se-ia como uma deceção para os fãs e críticos, que ansiavam por uma despedida mais ambiciosa e artística por parte de um realizador tão respeitado e meticuloso.
Stanley Kubrick viria a falecer a 7 de Março de 1999, em sua casa, vítima de um ataque cardíaco fulminante enquanto dormia, não tendo oportunidade de assistir à estreia da sua última obra.