O raccord é uma técnica cinematográfica que assegura a continuidade entre cenas, podendo ser definido como uma forma de ligação das últimas imagens de um plano às imagens do plano seguinte[1]. Desta forma, o raccord é essencial na transmissão da ideia de sequência, e permite que o espetador consiga imergir no filme, tornando a história mais credível e mais próxima da realidade, já que torna as mudanças entre planos o mais impercetíveis possível, de forma a que a concentração possa ser focada na ação e narrativa do filme.
Existem dois tipos principais de raccord, o raccord físico, assegurado na rodagem, e o raccord virtual, trabalhado posteriormente na montagem.
O raccord físico diz respeito ao posicionamento dos diversos elementos numa dada cena ou plano, e desdobra-se nas seguintes categorias principais:
Raccord da ação – diz respeito aos movimentos no plano, a entrada e saída de personagens e o próprio encadeamento dos gestos e o posicionamento no cenário;
Raccord do cenário – aqui estão englobadas categorias como a indumentária dos personagens, todos os elementos físicos que surgem em cena, como mobiliário, as cores das paredes, um jardim como pano de fundo, e todos os acessórios que possam ser utilizados (por exemplo, se uma personagem surge a acender um cigarro e há uma mudança de plano de breves segundos, quando o plano regressa à personagem fumadora, o cigarro terá de estar ainda na sua mão, e não poderá estar já perto do fim, mas ainda no seu início, ainda que a na realidade, esta mudança de planos possa levar horas ou mesmo vário dias ou semanas);
Raccord técnico – refere-se à continuidade dos elementos técnicos visuais, como a luz, enquadramento ou tipo de objetiva utilizada, e também aos elementos sonoros.
Como já foi referido, o raccord não é trabalhado apenas durante as filmagens, tendo ainda que ser tido em conta no processo de edição do filme; este raccord virtual é assegurado durante a montagem, e tem o mesmo objetivo que o raccord físico, o de assegurar que os planos fazem sentido e têm ligação entre si. Assim, na edição há que ter em conta a linha narrativa a seguir, e optar por passagens entre planos que tornem estas mudanças quase “invisíveis” para o espetador, e que sejam lógicas, mantendo a continuidade espácio-temporal ao longo de todo o filme.
References:
[1] Jacques Aumont definiu raccord como “a construção de uma ligação formal entre dois planos sucessivos” – AUMONT, Jacques, A Estética do Filme, Papirus, 9ª edição, 2012