Por cinema soviético entende-se a vanguarda ou escola criada aquando da fundação da URSS, e que se prolongou até ao seu desmantelamento.
O cinema soviético, a par com o expressionismo alemão, é dos que mais se destaca na resposta que dá a uma dúvida ontológica presente desde os primórdios do cinema: será o cinema uma mera representação do real, que engloba em si outras artes, ou este é uma forma de arte independente, que permite a expressão artística?
Esta vanguarda defende que o cinema é arte, e parte de uma forte transfiguração do real, de modo a firmar a sua tese. De facto, mais do que um truque técnico que coloca a imagem em movimento, o cinema permite a criação e veiculação de uma visão muito própria do mundo, estando nesta característica o cerne da sua vertente artística.
O cinema soviético parte então de um trabalho “entre planos”, servindo-se dos processos de montagem para ultrapassar a simples representação do real que o cinema poderia ser. Sergei Eisenstein, um dos mais importantes cineastas soviéticos, chega até a criar a “teoria da montagem”, dividindo este processo em cinco níveis, os quais se conjugam a cada momento, contribuindo para que o todo final surja aos olhos do espectador como uma realidade manipulada. Esta manipulação da imagem é fulcral em todo o cinema soviético, já que quanto mais visível for, mais forte e evidente será a vertente artística do filme. Esta técnica de montagem típica da vanguarda soviética é um dos pilares deste movimento, e teve uma grande influência no cinema a nível mundial.
Por outro lado, é notória a influência do formalismo em todo o cinema soviético, principalmente na clara estruturação de todos os movimentos, dando-se especial ênfase à forma que estes adquirem e à simbologia transmitida. A esta vontade de experimentação, alargada pela mudez do cinema, que coloca apenas nas imagens a expressão emotiva do filme, vai aliar-se ainda toda uma conjuntura política e económica que contribuiu decisivamente para que o cinema soviético se tornasse naquilo que é visível e conhecido nos dias de hoje; a revolução bolchevique de 1917 como que “inundou” a URSS de uma necessidade de mudança, de afirmação. O poder político e a própria população exigiam uma nova sociedade, uma nova visão do próprio país, sendo o cinema o melhor meio de resposta a estas exigências. O próprio Lenine chegou mesmo a afirmar que “o cinema, para nós, é a mais importante das artes.”; o poder político reconhecia o potencial que o cinema poderia ter na influência da população, sendo nesta época dados grandes incentivos à produção cinematográfica.
Assim, com os cineastas a defender a utilização de novas “formas”, a par com a nova “forma” de sociedade pretendida, criou-se toda uma conjuntura extremamente favorável ao desenvolvimento do cinema soviético.
A nível de temáticas, a propaganda bolchevique estava sempre bastante presente em diversas obras produzidas na época, sendo que filmes que destacassem a bravura, independência do povo soviético era largamente financiadas pelo Estado.
Filmes como “O Couraçado Potemkin” (1925), “Ivan, o Terrível” (1945), ambos realizados por Eisenstein, ou “O Homem da Câmara de Filmar” (1929), de Dziga Vertov, são ainda hoje considerados produções extremamente inovadoras e arrojadas, sendo exemplos excelentes da estética soviética.
Foi no seio da vanguarda soviética que surgiram cineastas como os já mencionados Eisenstein, Vertov ou Andrei Tarkóvski, e cujo contributo e herança para o cinema atual é inegável, devido ao seu legado teórico e prático, em termos de ideias inovadoras e novas perspetivas sobre a técnica artística de produção cinematográfica.