Metafísica foi o termo dado por Andronico de Rodes, principal organizador da obra de Aristóteles, por volta de 50 a.C., a um conjunto de textos de aristotélicos – ta metà ta physiká – que se seguiam ao tratado de física, significando literalmente “após a física”. Esses tratados passaram a significar depois, devido a sua temática, “aquilo que está além da física, que a transcende”. Jaeger, por outro lado, atribui a um peripatético anterior a Andronico, que expressa a natureza da obra que vai além da física (que é a primeira das ciências particulares) para chegar ao fundamento comum em que todas as ciências se baseiam, além de determinar o lugar que cabe a cada uma na hierarquia do saber.
1. Os tratados de Aristóteles, chamados de metafísica, indicam uma ciência primeira, por ter como objeto o objeto de todas as outras ciências, assim como um princípio que é princípio de validade de todas as outras coisas. Aristóteles inicia sua metafísica considerando que existem graus de conhecimento: sensação memória, experiência, arte, ciência. As ciências, por sua vez, são de dois tipos: teóricas (metafísica, física e matemática), que tratam daquilo que é necessário e se ocupam somente daquilo que é universal; e prático-empíricas (medicina, ética e política), que tratam daquilo que é possível e se ocupam de eventos, casos e experiências particulares. Produzindo resultados tangíveis, as segundas gozam de maior prestígio, mas sem o aporte das primeiras, elas se reduziriam a muito pouca coisa. As ciências práticas necessitam de uma filosofia primeira capaz de analisar em nível puramente teórico aquilo que todas as particulares formas de saber têm em comum, ou seja, o sentido do Ser. Somente a filosofia (metafísica)estuda o ser enquanto ser, em abstrato e independentemente de qualquer determinação particular. Ela é, portanto, a ciência do ser, ou seja, ciência das causas primeiras da substância.
2.Na tradição clássica e escolástica, a metafísica é a parte mais central da filosofia, o tratado do ser enquanto ser é definido como a filosofia primeira, tratando daquilo que é pressuposto por todas as outras partes do sistema. Ainda na tradição escolástica, temos uma distinção entre a metafísica geral, a ontologia (que examina o conceito geral de ser e a realidade em seu sentido transcendente) e a metafísica especial, que trata de domínios específicos do real e que se subdivide em cosmologia (ou filosofia natural) – o tratado do mundo e da essência da realidade material, psicologia racional (ou tratado da alma, de sua natureza, e propriedades) e teologia racional (ou natural) – trata do conhecimento de Deus e das provas da sua existência através da razão humana.
3. A metafísica teológica reaparece sempre que se estabelece a correspondência entre um ser primeiro e perfeito e uma ciência igualmente primeira e perfeita. Temos uma metafísica, portanto em Plotino, Espinoza, Hegel, Croce.
4. Metafísica também pode ser entendida como gnosiologia. Nesse formato ela é expressa por Immanuel Kant, mas antes por Francis Bacon que afirma a filosofia primeira como uma ciência universal, que seja mãe todas as outras. Segundo ele, tal ciência deveria ser o receptáculo dos axiomas que não pertencem às ciências particulares. Em kant nasce a ideia de que devemos distinguir o domínio da razão, que produz conhecimento, possui objetos da experiência e constitui a ciência da chamada razão especulativa em que as questões apresentadas por ela não podem ser solucionadas, embora essas questões sejam inevitáveis em nós, como a questão da existência de Deus.
References:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 1° ed. brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi; revisão da tradução e tradução de novos textos Ivone Castilho Beneditti – 6°ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna 2009.
JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. 3ºed. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.