Sublime, no pesamento de Immanuel kant, é um fenômeno mais subjetivo que o Belo, pois não diz respeito à forma ou ao objeto enquanto limitado, mas àquilo que ultrapassa a medida dos sentidos. Afirma kant, que a verdadeira sublimidade deve ser procurada apenas no ânimo daquele que julga e não no objeto da natureza, cujo ajuizamento gera essa disposição ou sentimento. São nas ideias da Razão que o sublime está contido, e não no sensível. As ideias encontram-se fora de qualquer apresentação, fora da imaginação que não é capaz de representar em uma única intuição um objeto que corresponda à grandeza absoluta que a razão concebe, isto é, da qual tem uma ideia.
Kant concebe dois tipos de sublime: o sublime matemático e o sublime dinâmico, essa divisão baseia-se no fato de que, diferente do belo, onde o gosto pressupõe e mantém o ânimo em serena contemplação, o sentimento do sublime comporta um movimento do ânimo.
O sublime matemático é o da grandeza – do que é grande absolutamente. E se o sublime é o que é grande absolutamente, ele não pode ser dado pela experiência sensível, pois através dela só temos o grande relativo. O sublime matemático dar-se a partir da seguinte consideração: tendo a imaginação uma aspiração a um progresso infinito e a Razão a pretensão à totalidade absoluta, há em nós uma inadequação da imaginação à Razão, despertando o sentimento de uma faculdade supra-sensível em nós. É pela impotência da imaginação, desafiada pela Razão, que se atesta a presença do supra-sensível. A imaginação entra em um acordo com a Razão e se abre à legislação supra-sensível que ela não pode apresentar.
O sublime nos faz sentir a infinitude não-sensível do espírito e a impossibilidade de lhe dar uma apresentação adequada. A infinidade racional, a grandeza ilimitada, excede qualquer grandeza natural. Eis por que, enquanto no caso da beleza a relação entre as faculdades é marcada pelo prazer e no caso do sublime ela pode ser marcada também pela dor e o desprazer. O prazer estético gerado pelo juízo do sublime é proveniente de um desprazer inicial provocado pelo desacordo entre as duas faculdades em questão: imaginação e Razão. É o fracasso da imaginação, na ânsia de se ampliar, que produz uma dor, mas como essa impotência revela uma destinação, que é o acordo com a ideia, com um fim ao supra-sensível, a dor se transforma em prazer. Exemplos de sublimes matemático estão em um céu azul ou um campo florido que não pode-se ver seu começo ou fim.
No sublime dinâmico, a natureza fenomenal aparece como uma potência ameaçadora, a qual o homem procura resistir. Caso sinta medo ele será incapaz de julgar o sublime, pois aí torna-se inviável produzir um juízo estético desinteressado. O sublime dinâmico consiste da dominação por essa razão que se entende por supra-senível, já que sensivelmente o homem é de fato inferior a natureza. Nesse sentido, o sublime é uma libertação do medo que o homem poderia sentir em relação à natureza pela afirmação da soberania de sua razão. O terrível só atrai quando o homem sente-se seguro, portanto, não teme. Esta segurança que possibilita o sublime é dada pela razão.
O sublime dinâmico nos torna conscientes de nossa superioridade enquanto seres supra-sensíveis, em relação à natureza sensível em nós e fora de nós. Logo, nele, enquanto a imaginação é aniquilada pelo espetáculo de uma força desmesurada, a razão atesta a presença do supra-sensível no homem: sua humanidade. Um exemplo de sublime dinâmico está na possibilidade de observar um evento como um tsunami sem correr risco de morte.
References:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 1° ed. brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi; revisão da tradução e tradução de novos textos Ivone Castilho Beneditti – 6°ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.
FERRY, Luc. Kant: uma leitura das três “Críticas”. trad. Karina Jannini. 2°ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2010.
JAPIASSU, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. 3°ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade do Juízo. trad. Valério Rohden e Antonio Marques. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993.