Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro foi um dos políticos portugueses que mais marcou a História de Portugal, após a Revolução de 25 de abril. Nasceu no dia 19 de julho de 1934 no Porto, numa família da alta burguesia com fortes influências católicas. O seu pai era o advogado José Gualberto Chaves Marques de Sá Carneiro (originário de Barcelos) e a sua mãe Maria Francisca Judite Pinto da Costa Leite (natural de Salamanca), filha do 2.º Conde de Lumbrales.
Cedo seguiu as pisadas do progenitor licenciando-se (1956) em advogado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Acabaria por abrir um escritório na Rua da Picaria, na cidade Invicta, Porto, para exercer a profissão. Foi ainda director da Revista dos Tribunais, em que um dos fundadores foi o seu pai. Todavia, o seu maior legado é no campo político.
O interesse pela política surge devido à sua devoção pela Religião Católica. Durante o tempo que frequentou a Equipes de Nossa Senhora no Porto começou a estudar as doutrinas de Emmanuel Mounier. O primeiro contacto com esse novo mundo surge com o envio de uma carta a Marcello Caetano a pedir o regresso do bispo do Porto, António Ferreira Gomes, exilado do país. A entrada para a política acabaria por acontecer de forma natural. Em 1969 é eleito como deputado independente (exigência do próprio) na Assembleia Nacional, pelas listas da Acção Nacional Popular (único partido do Salazarismo).
Começou-se a destacar ao liderar o bloco apelidado como Ala Liberal, constituído por trinta deputados em que o objectivo principal era introduzir ideias liberais numa política ditatorial, à imagem do que acontecia no resto da Europa. Sá Carneiro era dos mais entusiastas e críticos. Entre as várias iniciativas propôs que o Presidente da República fosse eleito através de eleições livres; abolição da censura e fim dos presos políticos, tendo aliás levado a cabo um estudo sobre as condições dos presos. A gota de água seria em 1970 quando apresenta um projeto para rever a constituição assente na igualdade de direitos e liberdades para todos os cidadãos, face à indiferença do governo de Marcello Caetano abandona o cargo de deputado juntamente com os colegas da Ala Liberal.
Anos depois começa a criar na cidade do Porto as bases do futuro Partido Popular Democrático (PPD), com o apoio de amigos e colegas do ciclo da advocacia, bem como de meios republicanos e da resistência. Alguns nomes dessa época são: Miguel Veiga, Mário Cal Brandão, António Macedo (conhecido como “A Toca”) e Mário Montalvão Machado.
A revolução de Abril seria a alavanca perfeita para a fundação do partido PPD (6 de maio de 1974), juntamente com Francisco Pinto Balsemão e Joaquim Magalhães Mota. Sá Carneiro foi o primeiro secretário-geral do partido e mais tarde o primeiro presidente do atual Partido Social Democrata (PSD) constituído formalmente em outubro de 1976. As ideias do partido assentavam na social-democracia alemã.
Apesar de curta a sua carreira como político, importa realçar que Sá Carneiro foi ministro sem pasta e ministro adjunto de Adelino da Palma Carlos do governo provisório formado após o 25 de abril. Em 1975 é eleito deputado à Assembleia Constituinte e um ano depois (1976) é ainda eleito deputado na primeira legislatura à Assembleia da República. Ainda se demitiu da presidência do partido (1977), mas no ano seguinte foi reeleito. O auge seria em 1979, quando vence as eleições naquela que é apelidada como a maior coligação governamental desde o fim do Estado Novo e é convidado por Ramalho Eanes para primeiro-ministro. No dia 3 de janeiro de 1980 inicia a governação do país juntamente com o Partido do Centro Democrático Social (CDS), o Partido Popular Monárquico (PPM) e o Movimento dos Reformadores – na chamada Aliança Democrática (AD).
O destino acaba por ser traiçoeiro. No dia 4 de dezembro de 1980, Sá Carneiro falece em consequência de um acidente de aviação, apenas 11 meses depois de estar à frente da governação do país. O primeiro-ministro tinha como destino o Porto, para participar num comício de apoio ao candidato a Presidente da República – o General António Soares Carneiro, quando minutos após a descolagem do aeroporto de Lisboa o avião cai em Camarate. Todos os tripulantes faleceram: companheira (Snu Abecassis), ministro da Defesa (Adelino Amaro da Costa), assessores, piloto e co-piloto. Ainda hoje não existem certezas, se foi um atentado, ou um acidente por negligência. Certo é que naqueles dias foi vivido em Portugal o maior luto nacional decretado desde que existe democracia no país – cinco dias.
Para as gerações vindouras fica o seu nome no aeroporto internacional do Porto, para onde se dirigia no fatídico dia da sua morte. Outras homenagens se somam: Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (1981), a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito (1986), Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (1990) e a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique ( 2017).