Quem foi Amadeo de Souza-Cardoso
Amadeo de Souza-Cardoso, é considerado o pintor mais representativo do modernismo português do princípio do século XX, trata-se de um dos rostos mais versáteis e elásticos da pintura portuguesa. Amadeo de Souza-Cardoso era um visionário, vivia fora de seu tempo, tal como outros tantos, pagou um alto preço por isso.
Todas as bases do seu trabalho foram-se modificando conforme foi importando novas técnicas e experiências em Paris. No entanto, a precoce morte fez deste um mito que ainda está por ser clarificado no actual pontificado da História.
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Amadeo de Souza-Cardoso(1887-1918)
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Amadeo de Souza-Cardoso, foi um pintor português, precursor da arte moderna, prosseguindo o caminho traçado pelos artistas de vanguarda da sua época. Embora tendo tido uma vida curta, a sua obra tornou-se imortal e um marco extraordinário para a história da Pintura Modernista Portuguesa.
Amadeo de Souza-Cardoso nasceu a 14 de Novembro de 1887 em Manhufe, no concelho de Amarante, no seio de uma família burguesa formada mas rural. Contando com nove irmãos, o futuro artista contou com uma formação sustentável, frequentando o Liceu Nacional de Amarante e o de Coimbra.
Em 1905, Amadeo parte para Lisboa com a intenção de seguir o curso de Arquitectura na Academia de Belas-Artes. Nos meses de Junho e Julho do ano seguinte, conclui com sucesso três disciplinas de desenho: Desenho linear geométrico – 11 valores; Desenho de ornato por estampa – 13 valores; Desenho de figura por estampa – 18 valores. É na Capital que desenvolve a actividade de desenhador e sobretudo de caricaturista, desde logo apoiada e apreciada pelo seu amigo Manuel Laranjeira.
No dia em que completa 19 anos parte para Paris na companhia de Francisco Smith e vai viver para Boulevard de Montparnasse. Pretendia continuar os estudos de arquitectura que iniciara em Lisboa, mas a efervescência do meio artístico parisiense afectou radicalmente o seu destino, abrindo-lhe o caminho da pintura.
Quando chegou, ainda, frequentou alguns ateliês de desenho, mas em pouco tempo começou a ter contacto, primeiro com o Impressionismo e depois com o Expressionismo e o Cubismo. Influenciado por toda essa expressão e criação artística, começa a dedicar-se exclusivamente à pintura. Foi neste ambiente que viveu durante sete anos e no qual construiu uma rede de contactos privilegiada que lhe permitiu entrar no mundo concorrido e efervescente da criação artística e intelectual Europeia.
Em 1907, entusiasmado com os desenhos que recebia de Paris, o escritor Manuel Laranjeira reconhecia no seu jovem amigo um verdadeiro pintor, “um artista no significado mais absoluto do termo”.
Em 1910 estabelece uma forte e duradoura relação de amizade com Amedeo Modigliani (artista plástico e escultor italiano), Constantin Brancusi (escultor romeno) e Alexander Archipenko (artista plástico e escultor vanguardista ucraniano), formando um grupo improvável de expressão e exploração modernista.
Na correspondência que escrevia para Portugal Amadeo faz referência a uma completa fascinação por aquilo que denomina como “pintores primitivos” e por outro lado, revela um sentimento artístico já amadurecido, manifestando a sua oposição ao naturalismo em favor de opções plásticas exigentes, distanciadas de pressupostos e regras académicas.
Em 1911 expõe trabalhos seus no Salon des Indépendants, em Paris, havendo-se aproximado progressivamente das vanguardas e de artistas como Pablo Picasso, Juan Gris, Robert e Sonia Delaunay.
Em 1912 publicou o álbum XX Dessins e expôs no Salon des Indépendants e no Salond’Automne.
Em 1913 participa nos Estados Unidos da América, com oito trabalhos, no Armory Show, aí restando algumas das obras expostas, hoje patentes ao público nos museus americanos. Nesse ano participou ainda no Herbstsalon da Galeria Der Sturm, em Berlim.
Em 1914 encontrou-se em Barcelona com Gaudi, parte para Madrid onde é surpreendido pela guerra, obrigando-o a refugiar-se em Portugal, onde se instala em Manhufe. Já estalado, casa-se no Porto com Lucia Pecetto que conhecera em Paris, já, em 1908.
Em Portugal, Amadeo de Souza-Cardoso explora o expressionismo e nos seus últimos trabalhos experimenta com novas formas e técnicas, como as colagens e outras formas de expressão plástica.
Durante a Primeira Grande Guerra, Amadeo refugia-se em Amarante e a presença de Sonia e Robert Delaunay, em Vila do Conde, a contemporaneidade do movimento do Orpheu e do Futurismo, de artistas como Eduardo Viana, José de Almada-Negreiros e Santa-Rita Pintor, criaram um momento especial na pintura portuguesa durante esses anos conturbados.
Em 1917 envolve-se em projectos editoriais com Almada Negreiros, publica dois trabalhos na revista Portugal Futurista (Farol; Cabeça Negra), mas acima de tudo trabalha intensamente e aprofundando no seu universo pictórico, que expande em novas direcções e explorações pictóricas. Em Abril realiza-se uma sessão futurista no Teatro da República, da qual surge a ideia de publicar a revista “Portugal Futurista” que foi apreendida. Nela constavam três obras de Amadeo.
Também nesse ano, Almada Negreiros dedica-lhe o livro “K 4 o Quadrado Azul”. Sónia e Robert Delaunay partem para Madrid mas continuam a manter uma profícua correspondência com os seus amigos portugueses.
Apesar de movimentada vida artística de Amadeo em Portugal, anseia no entanto pelo regresso a Paris, o que infelizmente, nunca chegou a acontecer. No ano seguinte contrai uma doença de pele que lhe afecta o rosto e as mãos e o impede de trabalhar. Refugia-se em Espinho, na tentativa vã de escapar à epidemia de Gripe Espanhola que se espalha rapidamente por todo o país e à qual viria a sucumbir a 25 de Outubro desse mesmo ano.
Embora a notoriedade do seu percurso o coloquem no epicentro da grande revolução Modernista das artes do século XX, a origem de Amadeo num país pequeno e periférico, a sua morte prematura e inconstância estilística, “camaleónica”, criaram grandes dificuldades na hora de lhe conceder o reconhecimento merecido.
Mesmo em Portugal, depois da sua morte ocorreu um longo hiato até a sua obra obter, a devida atenção e respeito; e apenas em 1983, com a inauguração do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, se tornou finalmente possível um acesso real e permanente às principais obras de Amadeo de Souza-Cardoso.
References:
DIX, Steffen. Portuguese Modernisms: Multiple Perspectives in Literature and the Visual Arts.Routledge, 2017
GONÇALVES, Rui Mário. Amadeo de Souza-Cardoso: a ânsia de originalidade. Editorial Caminho, 2006
SEGURA, Javier Pérez. Arte moderno, vanguardia y estado: la Sociedad de Artistas Ibéricos y la República (1931-1936) – Volume 4 de Biblioteca de historia del arte. Editorial CSIC – CSIC Press, 2003
VARIOS. Cinco pintores da modernidade portuguesa (1911-1965). Museu de Arte Moderna, 2004