Quem foi Almada Negreiros
Almada Negreiros, faz parte de um certo imaginário colectivo quando se fala da arte do século XX em Portugal. Almada marca indelevelmente a evolução da cultura contemporânea portuguesa ao nível plástico e literário.
Almada Negreiros pôs em prática uma concepção heteróclita do artista moderno, desdobrado por múltiplos ofícios. Toda a arte, nas suas várias formas, seria, para Almada, uma parte do «espectáculo» que o artista teria por missão apresentar perante o público, fazendo de cada obra, gesto ou atitude um meio de dar a ver uma ideia total de modernidade.
“Isto de ser moderno é como ser elegante: não é uma maneira de vestir mas sim uma maneira de ser. Ser moderno não é fazer a caligrafia moderna, é ser o legítimo descobridor da novidade.” – José de Almada Negreiros, conferência O Desenho, Madrid, 1927
Almada Negreiros é uma figura ímpar no panorama artístico português do século XX. Essencialmente autodidacta (não frequentou qualquer escola de ensino artístico), a sua precocidade levou-o a dedicar-se desde muito jovem ao desenho de humor. Mas a notoriedade que adquiriu no início de carreira prende-se acima de tudo com a escrita, interventiva ou literária. Almada teve um papel particularmente activo na primeira vanguarda modernista Portuguesa.
A sua obra representa uma síntese, única na sua geração, das tendências modernistas e futuristas de então, não apenas por, como artista, ser multifacetado, mas também pela sua capacidade de fusão e conjugação, nas letras e na pintura, das vertentes plástica, gráfica e poética.
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Almada Negreiros(1848-1903)
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Almada Negreiros era filho do tenente de cavalaria António Lobo de Almada Negreiros, administrador do concelho de S. Tomé e de Elvira Sobral, foi educado no Colégio de Campolide, dos Jesuítas, e mais tarde, devido à extinção do Colégio em 1910, e por pouco tempo, no Liceu de Coimbra.
Em 1911 ingressa na Escola Internacional de Lisboa, que tem um ensino mais moderno, e onde lhe proporcionam um espaço que lhe vai servir de oficina. e publica o primeiro desenho n’A Sátira.
Em 1912, escreve e ilustra integralmente o jornal manuscrito A Paródia, reproduzido a copiógrafo na Escola, expõe no I Salão dos Humoristas Portugueses, e colabora com desenhos para várias publicações.
Em 1913 realiza a primeira exposição individual, apresentando cerca de 90 desenhos na Escola Internacional, e conhece Fernando Pessoa, que escrevera uma crítica à exposição n’A Águia. Continua a colaborar como ilustrador para várias publicações, e em 1914 torna-se director artístico do semanário monárquico Papagaio Real.
No ano seguinte, escreve a novela A Engomadeira, publicada em 1917, onde aplica o interseccionismo teorizado por Fernando Pessoa, abeirando-se do surrealismo. Colabora no primeiro número da revista Orpheu, depreciado por Júlio Dantas, que afirma que não há justificação para o sucesso da revista e para a publicidade feita ao seu redor, afirmando que os autores são pessoas sem juízo. Ainda nesse ano de 1915, Almada realiza o bailado O Sonho da Rosa.
Em 21 de Outubro do mesmo ano estreia-se a peça de Júlio Dantas Soror Mariana. Almada irá reagir com a publicação do Manifesto Anti-Dantas e por Extenso, que causa algum impacto nos meios artísticos. Almada começa a corresponder-se com Sonia Delaunay, refugiada em Portugal com o marido por motivo da Guerra que assola a Europa. Publica o Manifesto da exposição de Amadeo de Souza Cardoso, com o título Primeira Descoberta de Portugal na Europa no Século XX.
Em 1917, participa no projecto Portugal Futurista, publicando nesse órgão do “Comité Futurista de Lisboa”, que co-fundara, no mesmo ano, com Santa-Rita, o Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX,texto que já tinha sido objecto de performance pública, e os os textos simultaneístas Mima Fatáxa e Saltim bancos.
Entre 1919 e 1920 retomou os estudos de pintura em Paris e desenvolve a poética da ingenuidade e pública, já de volta a Lisboa e no âmbito da sua terceira exposição individual no Teatro de S. Carlos, “A Invenção do Dia Claro” (1921).
Em 1927, de novo desgostoso com a falta de abertura do país às novas correntes ideológicas e culturais, muda-se para Madrid e aí fica até 1932, em contacto directo e produtivo com a cena artística madrilena. Aí, como já antes o fizera em Lisboa, a par da sua actividade nas artes plásticas, colaborou com a imprensa. Com o agravamento da crise económica e social espanhola, após a proclamação da República, Almada regressou a Lisboa, em Abril de 1932.
De regressado a Portugal, encara esperançoso a relação entre poderes públicos e a individualidade artística. O casamento com a pintora Sarah Affonso em 1934, traz-lhe estabilidade emocional e também financeira, assegurando-lhe a rota para a consagração através de vários prémios e distinções enquanto pintor.
Em 1941 o Secretariado de Propaganda Nacional organiza a exposição Almada – Trinta Anos de Desenho, assinalando um momento de viragem na percepção pública da sua obra. Perante o sucesso da exposição, Cottinelli Telmo escreveria, numa carta aberta ao artista: “Hoje és o Almada de sempre, apenas com a diferença de seres o Almada aceite, o Almada compreendido. […] O que se criou foi o hábito novo de te considerarem, em vez do hábito antigo de descrerem de ti, de te temerem, de te não tomarem a sério”. A partir desse momento irá participar em iniciativas do SPN, de que até aí se tinha distanciado.
De 1943 a 1948 a sua actividade incide na realização dos frescos das Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos, sendo-lhe atribuído o Prémio Domingos Sequeira em 1946. Regressa à realização de vitrais em 1951, desenhando os da Igreja do Santo Condestável, em Lisboa, e os da Capela de S. Gabriel, em Vendas Novas.
Em 1952 expõe individualmente na Galeria de Março (exposição inaugural dessa galeria) e participa na Exposição de Arte Moderna (Lisboa). Dois anos mais tarde pinta a primeira versão de Retrato de Fernando Pessoa para o restaurante Irmãos Unidos. Em 1957 participa na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, sendo galardoado com um prémio extra concurso.
Realiza as suas últimas obras em 1969 – o painel Começar no átrio da Fundação Calouste Gulbenkian, começado no ano anterior, e os frescos Verão na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra.
A 15 de Junho de 1970, Almada Negreiros morre no Hospital de São Luís dos Franceses, em Lisboa.
References:
DIX, Steffen. Portuguese Modernisms: Multiple Perspectives in Literature and the Visual Arts. Routledge, 2017
FREITAS, Lima de. Pintar o sete: ensaios sobre Almada Negreiros, o pitagorismo e a geometria sagrada – Colecção Arte e artistas. Impr. Nacional-Casa da Moeda, 1990
GONÇALVES, Rui Mário. Almada Negreiros: O menino de olhos de gigante. Editora Caminho. Lisboa, 2005
LOURENÇO, Eduardo. Almada ou do Modernismo como provocação. In: A.A.V.V. (coordenação: José Monterroso Teixeira). Almada: a cena do corpo. Lisboa: Centro Cultural de Belém, 1994
SEGURA, Javier Pérez. Arte moderno, vanguardia y estado: la Sociedad de Artistas Ibéricos y la República (1931-1936) – Volume 4 de Biblioteca de historia del arte. Editorial CSIC – CSIC Press, 2003