Definição
Muitas vezes visto como prova da verdade, o documentário trabalha com imagens extraídas da realidade. Em grosso modo é “tudo o que a câmara capta independentemente de encenação”. Como exemplo temos os documentários «A Saída da fábrica» ou «A Chegada do comboio na estação» que pretendiam apenas captar a realidade e a rotina do quotidiano sem que haja interferência de atores nessa realidade. Um marco importante nos filmes documentados foi o filme «Nanook» de Robert Flaherty que contava a história da sobrevivência dos esquimós na Baía de Hudson.
Documentário vs Reportagem
Facilmente confundido com uma reportagem jornalística, o documentário assume algumas diferenças embora sejam ambos baseados na captação de imagens reais. Geralmente, a reportagem é condicionada por um assunto atual na sociedade e tem uma estrutura e temporalidade distinta do documentário. A reportagem também apresenta mais pontos de vista do mesmo assunto, enquanto num documentário o ponto de vista principal é o do autor sobre o tema escolhido. As intenções são distintas: a reportagem pretende informar, o cinema documental pretende questionar, instigar e promover a reflexão.
Documentário vs Ficção
Mas não se pode considerar que o documentário seja absolutamente distinguido da ficção. Existem documentários que também são encenados de alguma forma e utilizam convenções que são usadas da realização de uma obra de ficção: a escrita de um guião, a possível encenação, a montagem e temporalidade das cenas, os ensaios e as interpretações de cada interveniente.
Utilizando definições da literatura, o cinema documentário foi definido por John Grierson como “o tratamento criativo da realidade”; já para o cineasta francês Jean Vigo, um “ponto de vista documentado”. Poderíamos acrescentar também “o conhecimento do outro”, pensamento do realizador brasileiro Eduardo Coutinho. Assim, a grande diferença entre documentário e ficção está no facto de se considerar que o filme documentário é a expressão legítima do real e que se aproxima da realidade, contrariamente aos filmes de ficção que recorrem à encenação de uma ideia criada e desenvolvida pelo autor e pelas interpretações dos atores. Isto salientando o facto de que a ficção pode ser baseada em factos reais, esses factos não são captados no momento em que verdadeiramente aconteceram, dado lugar a encenação posterior.
Guião para documentário
No que respeita à escrita de argumento para documentário as opiniões não são concordantes. Há quem ache que não é necessário, nem deveria existir um argumento, pois se a ação se baseia na realidade, não há forma de prever os acontecimentos. Se a ideia é controlar os acontecimentos, o documentário passa a ser um filme de ficção. Em todo o caso é frequente o uso de um guião descritivo. O princípio deste guião centra-se na investigação exaustiva e minuciosa previa das filmagens, com vista a definir bem o tema e o ambiente em que a ação se desenvolve. Numa primeira fase, é necessário recolher todo o material que ajude a antecipar os acontecimentos. Ou seja, quando se tem uma ideia do que se quer, observando o que é habitual acontecer, fica-se com uma ideia pré-determinada de como se irá desenvolver o documentário. Contrariamente ao argumento para ficção, não se desenvolve tão pormenorizadamente as cenas e não existem as fases da escrita de um argumento ficcionado. No documentário existem duas fases: a da pesquisa e investigação profunda e a escrita do guião propriamente dito. O guião escreve-se quase paralelamente à montagem, terminando quando o vídeo está terminado. De uma forma física, geralmente divide-se uma página a meio: do lado esquerdo define-se as ações ou imagens que possivelmente irão decorrer e do lado direito define-se qual o som, quer seja diálogo, entrevista, sons reais ou musica a ser introduzida. Este guião é apenas um guia que é constantemente modificado pelo tipo de imagens recolhidas.
