A piómetra é uma infeção bacteriana uterina que afeta cadelas e gatas. Uma das bactérias mais comummente envolvidas é a Escherichia coli (Graves, 2006). A cadela pode desenvolver piómetra dos 8 meses aos 15 anos, ainda que a idade média de diagnóstico sejam os 9 anos (Bigliardi et al., 2004; Niskanen & Thrusfield, 1998). Na gata, um estudo sueco, indica os 4 anos como idade média de diagnóstico, sendo mais usual em gatas com mais de 7 anos (Hagman, Ström Holst, Möller & Egenvall, 2014). O mesmo estudo, aponta a raça felina Sphynx como a mais afetada. Um outro estudo sueco refere que a raças caninas mais afetadas são: Rough Collie, Rotweiller, Cavalier King Charles Spaniel, Golden Retriever, Bouvier Bernois e Cocker Spaniel (Egenvall et al., 2001).
Etiologia
É uma infeção típica do diestro, fase do ciclo éstrico na qual a concentração de progesterona está elevada. Esta hormona induz diversas alterações no útero, de forma a manter a gestação. No entanto, as alterações ocorrem também quando não existe gestação, transformando o útero num local ideal para a proliferação de bactérias da flora vaginal que ascendem através do cérvix. As alterações verificadas são a diminuição da capacidade de contração do útero, a diminuição das defesas locais e o desenvolvimento glandular no endométrio, com produção de secreção.
No útero não gestante, pode ocorrer hiperplasia quística do endométrio, devido à ação repetida da progesterona durante diversos ciclos éstricos, com presença de glândulas endometrais quísticas. Esta alteração está frequentemente associada à piómetra, no entanto, as duas podem ocorrer separadamente (De Bosschere, Ducatelle, Vermeirsch, Van Den Broeck & Coryn, 2001).
Tratamentos hormonais com progesterona e estrogénio, para impedir o cio e provocar o aborto, respetivamente, podem também desencadear a infeção (Graves, 2006).
Cadelas submetidas a uma ovariohisterectomia (OVH), ou seja, à remoção dos ovários e útero, na qual a totalidade do ovário não foi retirada podem desenvolver a chamada piómetra do coto úterino, com infeção da porção remanescente do útero.
Sintomas
Os sintomas são variáveis e incluem: depressão, vómito, diarreia, febre (pouco comum (Graves, 2006)), perda de peso, desidratação, poliúria (apenas nos cães, (Graves, 2006)), polidipsia, dor, anorexia, descarga vaginal e distensão abdominal.
Estão descritas duas formas de piómetra:
– aberta – cérvix relaxado com descarga vaginal purulenta/sanguinolenta e mau odor;
– fechada – cérvix contraído sem descarga vaginal e acumulação de pus com distensão do útero.
No caso da piómetra fechada, o útero pode romper, provocando peritonite. Em casos avançados, a absorção de bactérias e suas toxinas para a corrente sanguínea através das paredes do útero dá origem a septicemia/toxemia, que pode ser fatal.
Os sinais clínicos podem ser bastante inespecíficos, principalmente nas gatas (Graves, 2006).
Diagnóstico
O diagnóstico é feito através do historial clínico, com identificação da fase do ciclo éstrico, pois os sinais clínicos aparecem tipicamente algum tempo após o início do diestro, ainda que em alguns casos possam ocorrer semanas depois (Graves, 2006), exame físico, com observação de corrimento e palpação abdominal, e exames complementares:
– análises sanguíneas – demonstrando alterações como o aumento dos leucócitos, devido à infeção, anemia ligeira que poderá passar despercebida devido à desidratação, elevação das enzimas hepáticas e leucopénia em pacientes com septicemia (Graves, 2006);
– urianálise – com alterações como proteinúria e bacteriúria (Graves, 2006);
– exames imagiológicos (radiografia e ecografia) – com visualização da distensão uterina. A ecografia é especialmente útil para distinguir a distensão devido a piómetra de uma possível gestação (Graves, 2006).
Tratamento
A fluidoterapia e antibioterapia são essenciais em todos os casos de piómetra. Aconselha-se a utilização de uma antibiótico de largo espectro, pois pode existir envolvimento de bactérias diferentes, e que seja eficaz contra a E. coli. Apesar de uma cirurgia num animal debilitado ser arriscada, o tratamento definitivo para a piómetra é a OVH de emergência, que deve ser realizada após a estabilização do paciente.
Reprodutoras valiosas e jovens poderão ser tratadas com prostaglandina F2-alfa, em casos de piómetra aberta sem sinais de doença sistémica, de modo a evitar a OVH (Graves, 2006).
Palavras chave
Ciclo éstrico – cadela e gata
Referências bibliográficas
Bigliardi, E., Parmigiani, E., Cavirani, S., Luppi, A., Bonati, L., & Corradi, A. (2004). Ultrasonography and Cystic Hyperplasia-Pyometra Complex in the Bitch. Reproduction In Domestic Animals, 39(3), 136-140. doi:10.1111/j.1439-0531.2004.00489.x
De Bosschere, H., Ducatelle, R., Vermeirsch, H., Van Den Broeck, W., & Coryn, M. (2001). Cystic endometrial hyperplasia- pyometra complex in the bitch: should the two entities be disconnected?. Theriogenology, 55(7), 1509-1519. doi:10.1016/s0093-691x(01)00498-8
Egenvall, A., Hagman, R., Bonnett, B., Hedhammar, Å., Olson, P., & Lagerstedt, A. (2001). Breed Risk of Pyometra in Insured Dogs in Sweden. Journal Of Veterinary Internal Medicine, 15(6), 530. doi:10.1892/0891-6640(2001)015<0530:bropii>2.3.co;2
Graves, TK. (2006). Diseases of the Ovaries and Uterus. In B. S & S. RG, Saunders manual of small animal practice (3rd ed., pp. 985-987). St. Louis, Mo.: Saunders Elsevier.
Hagman, R., Ström Holst, B., Möller, L., & Egenvall, A. (2014). Incidence of pyometra in Swedish insured cats. Theriogenology, 82(1), 114-120. doi:10.1016/j.theriogenology.2014.03.007
Mateus, L. & Eilts, BE. (2010). Rabies. In S. Ettinger & E. Feldman, Textbook of veterinary internal medicine (7th ed.). St. Louis, Mo.: Elsevier Saunders.
Niskanen, M., & Thrusfield, M. (1998). Associations between age, parity, hormonal therapy and breed, and pyometra in Finnish dogs. Veterinary Record, 143(18), 493-498. doi:10.1136/vr.143.18.493