Pra não dizer que não falei das flores

Apresentação, contexto histórico e actualidade da canção brasileira «Pra não dizer que não falei das flores», composta em 1968 por Geraldo Vandré.

Introdução

«Pra não dizer que não falei das flores”, também conhecida como «Caminhando», é uma canção brasileira composta em 1968 pelo compositor Geraldo Vandré. Apresentada no Festival Internacional da Canção desse ano, terminou em segundo lugar, embora tenha sido a canção mais aplaudida da noite. A estação Rede Globo havia recebido ordens do regime ditatorial militar para não premiar a canção, que criticava ferozmente o momento político do país.

Contexto histórico

O ano de 1968 testemunhou diversos acontecimentos de relevo mundial, entre os quais a Guerra do Vietname, a Primavera de Praga e os assassínios de Martin Luther King e Robert Kennedy. No Brasil assistiu-se à imposição do AI-5, o quinto de uma série de actos institucionais emitidos pelo regime militar brasileiro, depois da Intervenção Militar de 1964. Este acto, implementado com o objectivo de conter práticas consideradas subversivas pelo regime, oferecia poderes extraordinários ao Presidente da República e suspendia várias garantias constitucionais.

«Pra não dizer que não falei das flores» foi, então, composta num momento de plena ditadura militar, marcado pela prisão, tortura e exílio daqueles que se opunham, de um modo ou de outro, ao regime, e pela limitação da liberdade de expressão, através da censura nos mais diversos canais (imprensa, televisão, cinema, teatro etc).

Neste contexto “surgiu naquela época uma efervescência de movimentos contrários à ditadura. É nesse cenário que a música entrou como um importante objecto de protesto utilizado nas passeatas pelos diversos grupos de manifestantes” (Santana, 2011, p.77). «Pra não dizer que não falei das flores» foi considerada uma espécie de hino contra a ditadura, uma “afronta ao governo e à tortura a que alguns eram submetidos pelos militares. Em seus versos, Vandré cita a luta armada e a imobilidade das pessoas que defendiam a diplomacia, criticava os movimentos que pregavam “paz e amor”, mostrando que de nada adiantava “falar de flores” aqueles que atacam com armas” (Santana, 2011, p.78).

Por esta razão, a canção foi proíbida, sob o pretexto de ser uma ofensa à instituição contida nos versos: “Há soldados armados, amados ou não / Quase todos perdidos de armas na mão / Nos quase todos perdidos de armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição / de morrer pela pátria e viver sem razão”. Já o músico viu-se obrigado a exilar-se na Europa durante anos.

A canção voltou a ser interpretada somente em 1970, por Simone, que conquistou um enorme sucesso com a crítica e com o público. Depois, foi também regravada por Luiz Gonzaga, Ana Belén, Zé Ramanho e Charlie Brown Jr.

A canção na actualidade

«Pra não dizer que não falei das flores» foi utilizada em 2006 como modo de promoção de campanhas políticas educativas como o PROUNI – Programa Universidade para Todos  ou o ENEM – Exame Nacional de Ensino Médio. Para este efeito foram utilizados trechos isolados da canção, num ritmo diferente do original. Muitos daqueles que ouvem a música hoje não a associam ao período da ditadura militar porque “ao contrário do que fez Vandré, a intenção do Governo não foi a de mobilizar a população para marchar e lutar pelos seus direitos, mas sim de incentivar os jovens a aceitar os seus interesses e de certa forma lutar a seu favor” (Santana, 2011, p.83).

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References:

Santana, A.A., Araújo, J.J, Jesus, L.K.A. & Santana, T.O. (2011). O contexto e o intertexto da música pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré. Revista Graduanto 2.

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